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Capital

''Não precisavam ter atirado no meu filho'', diz pai de baleado pelo Bope

Caso ocorreu na noite de ontem (10) no Parque Residencial União, em Campo Grande

Kerolyn Araújo e Viviane Oliveira | 11/06/2020 11:25
''Não precisavam ter atirado no meu filho'', diz pai de baleado pelo Bope
No banheiro, marcas de sangue do filho do militar aposentado. (Foto: Marcos Maluf)


''Chamei os bombeiros para levarem meu filho para a clínica e não para matarem ele". Essa é a frase de desabafo do 2º tenente da reserva do Exército, Armênio Nahabedian, 73 anos. Ontem (10), ele viu o filho ser baleado pelo Bope (Batalhão de Operações Especiais) durante surto devido ao uso de drogas. O caso ocorreu no Parque Residencial União, em Campo Grande.

Ao Campo Grande News, Armênio contou que o filho, de 46 anos, é funcionário público, cursou duas faculdades, mas que caiu no mundo das drogas. Há aproximadamente oito meses, a situação se agravou e precisou ser internado, passando 40 dias em clínica de reabilitação.

Segundo o militar aposentado, o filho havia voltado para casa há um mês. Mas, diante da recaída com as drogas, ontem decidiu interná-lo novamente. O Corpo de Bombeiros foi acionado por volta das 17h para fazer o transporte do paciente, porém diante da resistência e ameaça de explodir a casa, o Bope foi chamado.

''Não precisavam ter atirado no meu filho'', diz pai de baleado pelo Bope
Vidro da porta da sala foi quebrado e estilhaços ficaram espalhados pelo chão. (Foto: Marcos Maluf)


''Depois de certo tempo tinha uns 20 policiais aqui, com quatro viaturas. Foram quatro horas de tensão, eu não podia me aproximar da casa", contou o tenente aposentado.

Conforme Armênio, os policiais invadiram a casa, quebraram vários móveis e atiraram no filho. ''Por diversas vezes avisei que não tinha nada que ele pudesse explodir. No local onde os policiais disseram que ele estava trancado nem tem porta. Ele não tinha lança nenhuma, estava com um pedaço de pau com faca na ponta", disse.

Para o aposentado, houve abuso de autoridade durante toda a ação. ''Não precisavam ter atirado no filho, poderiam ter imobilizado sem atirar. Eu nunca vi na vida uma situação assim, destruíram a minha casa. Fui hostilizado o tempo todo, me seguraram dentro da viatura dos bombeiros".

Ainda segundo o pai da vítima, ele foi informado pelo médico que atendeu o filho que, possivelmente, o tiro foi disparado quando o homem estava deitado no chão.''Passei 35 anos no Exército e tenho vergonha de dizer que sou militar vendo essa situação", ressaltou.

A reportagem entrou em contato com o comandante do Bope, Major Vinícius de Souza Almeida. Ele explicou que o homem estava sob efeito de drogas e que a todo momento ameaçava explodir a casa e se matar. Os militares invadiram a casa no momento em que os ânimos ficaram mais exaltados.

''Ele apresentava um botijão e mostrava um spray, dizendo que se acendesse, explodiria tudo. Quando ele acendeu, a polícia teve que entrar na casa", explicou.


''Não precisavam ter atirado no meu filho'', diz pai de baleado pelo Bope
Na primeira foto, facas encontradas na casa. Na segunda, lança e botijão usados pelo homem durante o surto. (Foto: Divulgação/Bope)


De acordo com o comandante, foram feitas tentativas de imobilização antes dos tiros. ''No primeiro momento foram feitos dois disparos de taser (arma de choque). Mas como ele estava com o rosto coberto com pano, cachecol e com jaqueta de tecido resistente, não surtiu efeito", disse.

Ainda segundo o comandante, os militares também tentaram imobilizá-lo com disparos bala de borracha, mas devido ao grau de efeito de drogas, não funcionou. ''Ele estava com duas lanças, uma faca amarrada no corpo e continuou indo pra cima da equipe. Ainda disparamos um tiro no pé para tentar contê-lo", contou. Segundo o major, mais de 30 facas foram encontradas dentro da casa.

Conforme informações da Santa Casa, o paciente passou por cirurgia torácica na manhã desta quinta-feira (11) e, posteriormente, será avaliado pela equipe de ortopedia pelo tiro no pé. O quadro clínico é considerado estável.



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