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Capital

Nem risco de contágio por novo vírus intimida quem não vive sem tereré

Ministro da Saúde deu recomendação para evitarem a bebida, mas campo-grandense não está disposto a abrir mão

Maressa Mendonça | 29/02/2020 09:13
Rosângela da Silva Leão prepara o tereré para compartilhar com o marido dela (Foto: Paulo Francis)
Rosângela da Silva Leão prepara o tereré para compartilhar com o marido dela (Foto: Paulo Francis)

Abrir mão do tereré para escapar do coronavírus parece não passar pela cabeça dos campo-grandenses que não dispensam a bebida gelada, especialmente nos dias mais quentes. Na quarta-feira (26), o ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta informou que esta pode ser uma forma de contágio da doença, mas a orientação parece não ter surtido entre os moradores da Capital.

“Não tem jeito. Não vou parar”, declara Ygor Matheus Bambokiam, de 25 anos, que trabalha em um lava jato. Ele não acredita que o vírus esteja circulando na cidade porque até o momento não há nenhum caso confirmado.

Opinião semelhante é do empresário Carmo Name Júnior, de 33 anos, que diz ingerir a bebida “todo dia, o dia inteiro”. Ele não nega ter uma certa preocupação com a doença, mas diz que “vai continuar tomando o tereré”.

Empresário Carmo Name Júnior não abre mão do tereré (Foto: Maressa Mendonça)
Empresário Carmo Name Júnior não abre mão do tereré (Foto: Maressa Mendonça)

Roda de família - Áurea Brito, de 35 anos, que também trabalha em um lava jato também costuma beber tereré diariamente, mas a roda em que participa só entra quem é da família.

“Se chega algum cliente aqui e pede para tomar a gente deixa, mas depois eu troco tudo”, conta ela, afirmando que o hábito não está relacionado especificamente ao coronavírus. “Sempre tive esse cuidado”.

O marido de Áurea, Luíz Barbosa, de 40 anos, vai continuar participando da roda de tereré, acompanhando também da filha, Adriely Barbosa, ao menos enquanto nenhum caso for confirmado no Estado. “Se eu vir que está muito perto eu paro, mas enquanto for só murmuração nós vamos continuar”, diz.

O casal de comerciantes Rosângela da Silva Leão, de 49 anos, e Izac Barbosa de Souza, de 53 anos, que trabalham no centro da cidade, também são adeptos do tereré compartilhado apenas entre eles e, por esse motivo, não têm a intenção de parar. “Por enquanto estamos tranquilos”, dizem.

Na barraca de pipoca em que trabalham tem sempre um álcool em gel disponível tanto para eles quanto para os clientes. É mais uma forma encontrada por eles de evitar doenças infecciosas. “Nunca ficamos sem”, conta Rosângela.

Casal de comerciantes Rosângela da Silva Leão e Izac Barbosa de Souza (Foto: Paulo Francis)
Casal de comerciantes Rosângela da Silva Leão e Izac Barbosa de Souza (Foto: Paulo Francis)
Rosângela compartilha o copo de tereré apenas com o marido (Foto: Paulo Francis)
Rosângela compartilha o copo de tereré apenas com o marido (Foto: Paulo Francis)

De acordo com o médico infectologista Rivaldo Venâncio da Cunha, se a informação de que gotículas de saliva podem conter o vírus for confirmada o hábito de compartilhar o copo de tereré terá de ser revisto.

“É um hábito que expõe a pessoa que está praticando. Não tem o que ver. O pessoal que é chegado no tereré vai ter de meditar sobre o assunto”, diz.

O empresário Antônio Branco, de 42 anos, proprietário da Tereré Shop, loja especializada na bebida, conta não ter percebido a preocupação entre os clientes. “Até agora não apareceu ninguém falando sobre o assunto”.

A preocupação, para ele, não seria um problema. “Como empresário seria ótimo porque passaria a vender kits individualizados. Seria ótimo”, brinca.

Coronavírus - os últimos dados divulgados pelo Ministério da Saúde apontam 13 notificações da doença em Mato Grosso do Sul, sendo 12 em Campo Grande e um em Ponta Porã.
Deste total, nove ainda estão sob suspeita e quatro já foram excluídos.

Empresário Antônio Branco trabalha em estabelecimento especializado em tereré (Foto: Paulo Francis)
Empresário Antônio Branco trabalha em estabelecimento especializado em tereré (Foto: Paulo Francis)
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