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Capital

Nem sempre fogo é controlado, lembra comunidade que enfrentou as chamas

Na Favela da Conquista, incêndio acabou com lona que tem custo alto para as famílias

Ângela Kempfer e Bruna Marques | 01/10/2020 13:23
Cenário de destruição na Favela da Conquista, no Jardim Noroeste. (Foto: Henrique Kawaminami)
Cenário de destruição na Favela da Conquista, no Jardim Noroeste. (Foto: Henrique Kawaminami)

Um montinho "inofensivo” de lixo,  queimado aqui ou uma bituca mínima de cigarro na vegetação seca ali e pronto: o dia vira tragédia para quem vive cercado pela estiagem em Campo Grande. Ontem, as chamas acabaram com a quarta-feira na Favela da Conquista, comunidade do Jardim Noroeste.

Hoje, a reconstrução começou assim que o sol apareceu. Para olhar privilegiado e acostumado com a alvenaria, o prejuízo parece pouco, diante de restos de madeira e alguns objetos queimados. Mas para quem divide a lona com 5 ou até 8 pessoas, o “começar do zero” é literal.

A quinta-feira foi de reconstrução no barraco da diarista Lucilene Camargo Sales, que aos 38 anos mora com marido e os 3 filhos de 14, 17 e 19.

Morador em casa atingida pelo incêndio aparece em fresta da parede queimada. (Foto: Henrique Kawaminami)
Morador em casa atingida pelo incêndio aparece em fresta da parede queimada. (Foto: Henrique Kawaminami)

As reações de ontem, dela e dos vizinhos, mostram que na hora da aflição, quem vê o fogo se aproximar só pensa no que traz dignidade à vida difícil: os documentos pessoais e os filhos.

No caso de Lucilene, o botijão de gás também foi lembrado, como bem mais perigoso dentro do barraco.

“Estava fazendo almoço e comecei a ouvir os estalos. Fogo estava longe e em questão de minutos virou e atingiu a minha casa. Estamos tentando resolver o que dá para, se chover, não molhar dentro. Só consegui tirar os documentos e o botijão. A gente luta para construir o mínimo, e tudo vai assim em piscar de olhos”, lamenta.

Aposentada, Maria do Socorro Batista, de 76 anos, ontem conseguiu escapar do fogo, mas não da fumaça. “Só tirei meu documento e o povo de dentro de casa. O fogo não atingiu, mas a ‘quentura” queimava o rosto. Foi a maior aflição da minha vida. Só temos esse barraco e em um terreno que nem é nosso”, lamenta.

Há 10 anos, ela vive entre barracos por Campo Grande, com 8 pessoas dividindo a mesma lona. Sem auxilio emergencial ou Bolsa Família, agora a única fonte de renda é a aposentadoria de Maria.

As queimadas são o tormento extra e desleal, na rotina de sobreviver com quase nada. “Com fogo ninguém brinca e todo ano acontece. A gente mora sobre antigo lixão”, diz, comentando que o gás que ficou do entulho no solo causa combustão e chega rápido, queimando tudo.

Vanda levou donativos para os moradores atingidos pelo fogo. (Foto: Henrique Kawaminami)
Vanda levou donativos para os moradores atingidos pelo fogo. (Foto: Henrique Kawaminami)

Para ajudar, amigas que criaram o Coletivo Esperança estão mobilizadas desde ontem. Nesta quinta-feira, Vanda Sol apareceu como uma das representantes do grupo com roupas e sapatos infantis.

"Ajudamos a comunidade há dois meses e desde ontem estamos acomanhando. Conseguimos ajuda de amigos e conhecidos. Viemos hoje para saber como estão depois do incêndio e já trouxemos algumas doações, mas à tarde vamos trazer madeira para a reconstrução", diz.

Quem quiser colaborar com doação, o ponto de coleta da organização fica na Travessa General Wolfgrand, 74. Os telefones para contato como o Coletivo são 67 98411 4492 (Vanda) ou 67 98224 2288 (Paula)

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