Nem sempre fogo é controlado, lembra comunidade que enfrentou as chamas
Na Favela da Conquista, incêndio acabou com lona que tem custo alto para as famílias
Um montinho "inofensivo” de lixo, queimado aqui ou uma bituca mínima de cigarro na vegetação seca ali e pronto: o dia vira tragédia para quem vive cercado pela estiagem em Campo Grande. Ontem, as chamas acabaram com a quarta-feira na Favela da Conquista, comunidade do Jardim Noroeste.
Hoje, a reconstrução começou assim que o sol apareceu. Para olhar privilegiado e acostumado com a alvenaria, o prejuízo parece pouco, diante de restos de madeira e alguns objetos queimados. Mas para quem divide a lona com 5 ou até 8 pessoas, o “começar do zero” é literal.
A quinta-feira foi de reconstrução no barraco da diarista Lucilene Camargo Sales, que aos 38 anos mora com marido e os 3 filhos de 14, 17 e 19.
As reações de ontem, dela e dos vizinhos, mostram que na hora da aflição, quem vê o fogo se aproximar só pensa no que traz dignidade à vida difícil: os documentos pessoais e os filhos.
No caso de Lucilene, o botijão de gás também foi lembrado, como bem mais perigoso dentro do barraco.
“Estava fazendo almoço e comecei a ouvir os estalos. Fogo estava longe e em questão de minutos virou e atingiu a minha casa. Estamos tentando resolver o que dá para, se chover, não molhar dentro. Só consegui tirar os documentos e o botijão. A gente luta para construir o mínimo, e tudo vai assim em piscar de olhos”, lamenta.
Aposentada, Maria do Socorro Batista, de 76 anos, ontem conseguiu escapar do fogo, mas não da fumaça. “Só tirei meu documento e o povo de dentro de casa. O fogo não atingiu, mas a ‘quentura” queimava o rosto. Foi a maior aflição da minha vida. Só temos esse barraco e em um terreno que nem é nosso”, lamenta.
Há 10 anos, ela vive entre barracos por Campo Grande, com 8 pessoas dividindo a mesma lona. Sem auxilio emergencial ou Bolsa Família, agora a única fonte de renda é a aposentadoria de Maria.
As queimadas são o tormento extra e desleal, na rotina de sobreviver com quase nada. “Com fogo ninguém brinca e todo ano acontece. A gente mora sobre antigo lixão”, diz, comentando que o gás que ficou do entulho no solo causa combustão e chega rápido, queimando tudo.
Para ajudar, amigas que criaram o Coletivo Esperança estão mobilizadas desde ontem. Nesta quinta-feira, Vanda Sol apareceu como uma das representantes do grupo com roupas e sapatos infantis.
"Ajudamos a comunidade há dois meses e desde ontem estamos acomanhando. Conseguimos ajuda de amigos e conhecidos. Viemos hoje para saber como estão depois do incêndio e já trouxemos algumas doações, mas à tarde vamos trazer madeira para a reconstrução", diz.
Quem quiser colaborar com doação, o ponto de coleta da organização fica na Travessa General Wolfgrand, 74. Os telefones para contato como o Coletivo são 67 98411 4492 (Vanda) ou 67 98224 2288 (Paula)