No Facebook, presos evidenciam fracasso de medidas contra celular
De dentro da cadeia presos de Campo Grande continuam ordenando, via celular, assassinatos, roubos e sequestros. O cúmulo do desdém com as regras que deveriam ser obrigados a seguir enquanto cumprem pena é que os detentos ainda exibem no Facebook festinhas feitas de dentro das celas regadas a drogas e bebidas, sem nenhum medo de punição.
A entrada de produtos ilícitos nos presídios evidencia as falhas na segurança no sistema prisional do Estado e só vem reforçar a constatação de que o problema está longe de uma solução. Só nesta semana, dois casos de presos alimentando perfis nas redes sociais vieram a público.
A última medida contra isso, a tentativa no dia 2 de outubro, a operadora Vivo, reposicionou a torre de telefonia no Jardim Noroeste, em Campo Grande, para enfraquecer o sinal onde fica o presídio. Mesmo assim, os presos continuam mantendo contado com amigos, familiares e alguns que até postam fotos nas redes sociais tiradas de dentro da unidade.
O diretor-presidente da Agepen (Agência Estadual de Administração Sistema Penitenciário), Deusdete Oliveira, informou que quando é encontrado um celular no Presídio é aberta uma sindicância administrativa para verificar a conduta do preso e investigar como o celular entrou na unidade.
Segundo ele, os celulares entram de três formas no presídio: lançamento externo, pessoas que burlam a fiscalização na hora da revista e servidores que facilitam a entrada dos objetos. Entrada de celular é considerada uma falta gravíssima. “Imediatamente o juiz é comunicado e os benefícios do preso para diminuição da pena é zerada, além dele ser isolado em uma cela disciplinar”, afirma.
De acordo com a assessoria de imprensa da Sejusp (Secretaria de Justiça e Segurança Pública), o órgão está fazendo um levantamento de custo e tecnologia necessária para bloquear totalmente o sinal nas unidades.
Para o presidente do Sinsap (Sindicato dos Servidores do Sistema Penitenciário do Estado), Francisco Sanabria, enquanto o Poder Público não investir em segurança, em concursos para contratação de novos agentes penitenciários o problema vai continuar.
Além disso, ele ressalta que dentro do presídio há um fluxo muito grande de entrada de empresas terceirizadas e de pessoas no local. “Sem uma revista minuciosa, é impossível não entrar nenhum tipo de material ilícito”, afirma.
Outro fator para o qual ele chama atenção é o número reduzido de agentes. No último levantamento, feito em janeiro deste ano, havia uma defasagem de 1200 homens. Hoje em todo Estado são 1400 agentes penitenciários.
“É um número muito reduzido. No Presídio de Segurança Máxima, por exemplo, são pelo menos 2 mil presos para 9 a 11 agentes por plantão”.
Comandando crimes via celular - No dia 17 de setembro, Darlen Hellen de Souza, 38 anos, foi assassinada a mando do namorado dela, Everton Rodrigues, 28 anos. A ordem veio do presídio de Segurança Máxima por celular. Um dos autores confessou que a ordem veio de dentro do presídio em uma conferência via telefone entre os mandantes do crime.
Outro exemplo foi o assassinato do casal, Luzia Barbosa Damasceno Costa, 25 anos, e do empresário Alberto Raghiante Junior, 55 anos, em julho deste ano. A ordem foi feita via mensagem de celular de um presídio.
Nas redes sociais - Em menos de uma semana dois presos foram flagrados alimentando o Facebook, via celular. Na última quinta-feira (1º) foi mostrado pelo Campo Grande News Carlos Alexandre Matias Alves, 29 anos, que cumpre pena por homicídio, relatava seu dia-a-dia na cadeia e postava sobre as festinhas regadas com drogas e bebidas alcoólicas.
O outro é Claresvaldo Lemes, que cumpre pena por roubo qualificado. A última atualização que ele fez foi na sexta (2).
Em julho, um vídeo gravado pelo celular de um detento mostrava a festa que vários presos faziam dentro de uma cela do Presídio de Trânsito, no complexo penitenciário. As imagens mostravam o uso de drogas.
Quem gravou, ao mesmo tempo narrava o que estava acontecendo. Ao som de funk, vários presos dançavam e em determinado momento, um deles prepara um cigarro de maconha, já anunciado pelo preso que gravava pelo celular.