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Economia

Tribunal de Contas suspende licitação da plataforma eletrônica da Lotesul

Corte fiscal foi provocada por Jamilzinho Name e empresa ligada a Razuk

Por Aline dos Santos | 11/04/2025 10:06
Tribunal de Contas suspende licitação da plataforma eletrônica da Lotesul
Prédio do Tribunal de Contas, no Parque dos Poderes, em Campo Grande. (Foto: Marcos Maluf)

O TCE (Tribunal de Contas do Estado) paralisou o pregão da plataforma eletrônica da nova Lotesul. A decisão foi tomada pelo conselheiro Marcio Monteiro.

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O Tribunal de Contas do Estado (TCE) suspendeu a licitação da plataforma eletrônica da Lotesul, após denúncia de possíveis irregularidades no edital. A decisão foi tomada pelo conselheiro Marcio Monteiro, que destacou a necessidade de cautela para evitar danos à administração pública. A denúncia foi feita por Jamil Name Filho e pela empresa Criativa Technology, que alegam direcionamento do certame e exigências técnicas excessivas. A licitação, que prevê um contrato de até 35 anos, foi suspensa para análise detalhada pela Divisão de Fiscalização de Contratações Públicas do TCE. A Lotesul, que voltou a operar em 2021 após 15 anos, tem uma receita média anual estimada em R$ 51,4 milhões.

“Cumpre salientar que é mister avaliar com cautela se as exigências técnicas não direcionam o certame e estão alinhadas com a necessidade de contratação de solução tecnológica que assegure a segurança e a eficiência da gestão das atividades lotéricas”, afirma o conselheiro.

De acordo com Monteiro, o contrato previsto tem longa duração, o que potencializa os riscos de danos de difícil reversão à administração pública em caso de eventuais irregularidades.

“Assim, com fundamento no poder de recomendação e em atenção ao princípio da prevenção, determino ao jurisdicionado a postergação de quaisquer atos administrativos decorrentes do certame, até a manifestação desta Corte de Contas sobre a legalidade do procedimento licitatório, evitando, assim, prejuízos ao interesse público”.

O TCE foi provocado por Jamil Name Filho, que cumpre pena da operação Omertà na Penitenciária Federal de Mossoró (Rio Grande do Norte), e pela empresa Criativa Technology Ltda, que tem sede em Dourados.

As manifestações mostram disputa das famílias Name, que tem base em Campo Grande, e Razuk, tradicional na segunda maior cidade de MS. O elo com o ex-deputado estadual Roberto Razuk consta em processo movido pela empresa Criativa Technology no TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul) para suspender a licitação.

O proprietário da empresa é Sergio Donizete Balthazar, contudo, as custas judiciais de R$ 779,10 foram pagas por Roberto Razuk, conforme comprovante do Pix. Segundo a defesa da Criativa, Razuk é um amigo, que emprestou o dinheiro.

Pente-fino - Conforme a decisão do conselheiro do TCE, os denunciantes alegaram que o edital de licitação impugnado contém indícios de direcionamento do certame, em virtude de condições incomuns e injustificadas, assim como impugnam diversos itens do termo de referência que comprometam a competitividade e a viabilidade econômica da licitação tanto para os concorrentes quanto para o próprio Estado de Mato Grosso do Sul.

Dentre as reclamações, conforme o advogado André Borges, que representa Jamilzinho, estão exigências excessivas, mas sem justificativa técnica robusta.

Tribunal de Contas suspende licitação da plataforma eletrônica da Lotesul
Bolas com números utilizadas para sorteio enfileiradas. (Foto: Antônio Cruz / Agência Brasil)

Por exemplo, o quesito “atividade pertinente e compatível em características” exige “a realização de no mínimo 15,0 MM (quinze milhões) de transações financeiras eletrônicas  em intervalo de 12 (doze) meses, comprovadas por instituição financeira e experiência prévia no processamento de mais de 40 (quarenta) transações por segundo (TPS), sendo que a interessada deverá ser instituição de pagamento ou instituição financeira autorizada pelo Banco Central do Brasil” e a “comprovação de ter operado sistemas em mercado regulado (outros países/estados) com gestão e monitoramento de operações lotéricas por no mínimo 06 (seis) meses”.

Enquanto que a duração do contrato, de 10 a 35 anos, é excessivamente larga, criando monopólio para a empresa vencedora, sem correspondente justificativa técnica robusta.

A Criativa também pediu a suspensão do pregão para contratação da plataforma. “Tem-se que da forma como está posto o edital, os benefícios recairão, tão somente, à uma empresa privada que lucrará muito mais do que o Estado e que a sociedade sul-mato-grossense, além de inviabilizar a adoção futura de produtos lotéricos competitivos. Isso fica ainda mais gritante quando se considera o pagamento de mais 1% no cash out [encerrar a aposta]. Ou seja, a realização de um Pix para pagamento de prêmio ao apostador, que está sendo oferecido de graça por renomados bancos nacionais, custará 1% ao operador lotérico”.

A pedido do relator, a Sefaz (Secretaria Estadual de Fazenda) e coordenadoria de licitações apresentaram justificativas. Porém, o conselheiro quer análise da Divisão de Fiscalização de Contratações Públicas do TCE.

“Considerando a complexidade e a especificidade técnica do objeto licitado, bem como a necessidade de verificação minuciosa quanto à adequação das exigências editalícias e sua compatibilidade com o interesse público, determino o encaminhamento dos autos à Divisão de Fiscalização de Contratações Públicas, para manifestação”.

Tribunal de Contas suspende licitação da plataforma eletrônica da Lotesul
Prédio da Secretaria Estadual de Fazenda, em Campo Grande. (Foto: Henrique Kawaminami)

Nova loteria - Os valores da Lotesul são vultosos: a estimativa da receita média anual de remuneração da plataforma é de R$ 51.474.339,31. Ganha a licitação a empresa que oferecer o maior repasse de percentual da receita bruta. O percentual de repasse estimado mínimo admitido é de 16,17%.

Suspensa após dois minutos para esclarecer dúvida, a licitação, aberta em 17 de março, teve três participantes classificados. As propostas são de repasse de 21,57% (licitante 2), 17,20% (licitante 3) e 16,17% (licitante 4). Os nomes dos grupos não foram divulgados.

Após 15 anos de paralisia, a loteria voltou à cena em setembro de 2021, quando lei sobre o tema foi sancionada. No ano seguinte, em 15 de agosto de 2022, o governo do Estado divulgou o edital de chamamento para os interessados em operar o serviço público de loteria.

Na ocasião, a projeção era de faturamento de R$ 9,8 bilhões em dez anos de operação. Contudo, empresas questionaram o edital na Justiça e a volta da Lotesul ficou no ensaio.

A reportagem entrou em contato com o governo para se manifestar sobre a decisão do TCE e aguarda retorno.

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