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Capital

No velório de Eloísa, desespero do filho retrata o que fica após feminicídio

No rosto de cerca de 30 pessoas que estavam no local, se repetiam expressões de incredulidade e questionamento

Clayton Neves | 19/03/2022 15:44
Familiares se despedem de Eloísa em rápida cerimônia. (Foto: Clayton Neves)
Familiares se despedem de Eloísa em rápida cerimônia. (Foto: Clayton Neves)

O choro inconsolável do filho na chegada do caixão da mãe retrata o que fica depois de  caso de feminicídio. Mais uma vez a cena se repetiu na tarde deste sábado (19), durante breve cerimônia de despedida de Eloísa Rodrigues de Oliveira, morta a facadas na frente dos filhos, aos 36 anos.

No rosto das cerca de 30 pessoas que estavam no local, se repetiam expressões de incredulidade e questionamentos. Na fala dos que conseguiam dizer uma palavra ou outra, repetidas cobranças por justiça, mesmo sabendo que isso não vai trazer de volta a vida da mulher “guerreira, batalhadora e totalmente dedicada aos filhos”, prematuramente tirada pelo próprio companheiro.

“É um sentimento de muita revolta e a gente espera por justiça. Não adianta prender hoje e soltarem amanhã para ele ficar impune e amanhã matar outra pessoa e acabar com outra família”, desabafou a irmã de Eloísa, Núbia Rodrigues, de 41 anos.

Ela conta que mora em Camapuã e por isso, há anos não via a irmã. “Não queria e não esperava que veria ela assim”, comenta. Segundo ela, ficarão as lembranças da mulher bondosa e totalmente dedicada aos seis filhos.

A relação de amor e cuidado com os filhos, agora órfãos, foi um dos principais pontos apontados por quem conhecia Heloísa. Mulher de poucas palavras, como disseram alguns conhecidos, ela nem precisava mesmo falar para que se pudesse notar a relação de afeto e carinho. “Ela queria o melhor para eles”,comentou a tia, Audaiza Rodrigues da Silva, de 64 anos.

Audaiza lembra que sempre ligava para a sobrinha, que nunca quis preocupar a família e sempre dizia estar bem.” Tudo o que aconteceu foi muito triste. Agora,o jeito é entregar na mão de Deus e esperar que a Justiça tome conta e que ele apodreça na cadeia”, relata.

Apesar de dizer para a família que tudo ia bem, quem era um pouco mais próximo sabia que, na verdade, as coisas não eram bem assim. “O cara batia muito nela, inclusive, a dona de uma antiga casa que ela alugava pediu o imóvel de voltar por causa das brigas constantes”, afirma Ernestina de Arruda, de 71 anos, vizinha e frequentadora da mesma igreja da vítima.

A amiga lembra que mesmo enfrentando uma rotina difícil, Eloísa tentava proporcionar o melhor para a família. “Ele era humilde e muito trabalhadora. Tinha cuidado e muito amor com os filhos”, conclui.

O crime - Eloísa foi esfaqueada na frente dos três filhos na casa onde morava, na Rua Manoel Marcelino Rodrigues, no Bairro Parque do Lageado, na noite da última quarta-feira (16). Uma das filhas, de 5 anos, foi quem saiu na rua pedindo socorro. Logo em seguida, a mulher saiu ensanguentada da casa. Pouco antes, Fabiano fugiu do local.

Eloísa foi socorrida por uma vizinha, que tentou estancar os ferimentos até a chegada da ambulância. Depois, foi levada para a Santa Casa, mas não resistiu aos ferimentos e morreu no início da tarde de ontem (17).

Pouco antes da morte de Eloísa, Fabiano chegou a ser visto na rua na manhã de ontem, cuidando o local. Moradores acreditam que Fabiano foi confirmar se Eloísa havia morrido.

Ciclo de violência - Ele já havia ameaçado a ex-mulher, afirmando que iria decapitá-la e jogaria o corpo na rua para que todos os moradores vissem. Fabiano também já chegou a trancá-la em casa com os filhos, depois de cortar a mangueira do gás.

A vítima já havia registrado inúmeros boletins de ocorrência contra o agressor. Ela conheceu Fabiano em agosto de 2019, durante pregações que a mulher fazia nos terminais de ônibus da Capital. Foram apenas três meses para que ele demonstrasse ser uma pessoa violenta. "No dia 7 de novembro de 2019, procurou a polícia relatando lesões, ameaças e injúria", revelou a delegada Elaine Benicasa.

Foram cinco boletins de ocorrência a partir daí, até a morte de Eloísa. O último boletim foi registrado no dia 3 de março, depois da mulher ser agredida por Fabiano.

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