Onda de furtos assusta comerciantes e muda rotina na Marquês de Lavradio
Comércios em via do Tiradentes vivem com rotina de invasões e furtos; Vítimas acreditam que autores são viciados em drogas e planejam ações preventivas por conta própria para se prevenirem
Quando o telefone dos comerciantes da Rua Marquês de Lavradio, na região do bairro Tiradentes, região oeste de Campo Grande, toca durante a madrugada, eles já tem uma certeza: seu estabelecimento foi arrombado e invadido por bandidos.
Desde o fim do ano passado, sempre de madrugada, as lojas, lanchonetes e outros comércios da rua, uma das principais vias de acesso do bairro, são alvos dos criminosos, que arrebentam vitrines, portas ou janelas para furtarem bens como botijões de gás, celulares e notebooks, que seriam de fácil revenda nos pontos de venda de drogas existentes próximo da via.
“Você vê que é um ladrão oportunista, que não é perigoso, mas que está enchendo o nosso saco”, definiu Paulo César Lopes, 27 anos, dono de uma lanchonete. Há quatro meses na região, foi alvo dos criminosos pela primeira vez na madrugada desta segunda-feira (10). “Tocou o telefone às 3h50 eu já sabia o que era.”
Lopes entrou para um grupo de vítimas que desde novembro convive com o medo. No entanto, os crimes se intensificaram no último mês. Pelo menos oito comércios foram invadidos no último mês. Alguns mais de uma vez.
Quando Anderson Ferreira Nascimento, 33, trocou a profissão de vender carros pelo sonho do negócio próprio imaginaria que sofreria dificuldades. Mas não causadas por esse tipo de problema. Sua lanchonete de cachorro-quentes, inaugurada há três meses, foi invadida duas vezes em 12 dias, a última delas no último sábado (8).
Desta vez, no entanto, além do botijão do gás, os bandidos resolveram descontar afronta de Nascimento em colocar grades para proteger a vitrine: bagunçaram todo o estabelecimento, rasgaram documentos e consumiram produtos.
“A gente muitas vezes investe tudo o que temos para tentar buscar uma qualidade de vida melhor, uma vida melhor, e acontece esse tipo de coisa”, lamentou o comerciante.
Da primeira vez, enquanto pedreiros instalavam as grades compradas para proteção, Nascimento dormiu uma semana no próprio comércio afim de afastar os ladrões. Desta vez, vai revezar a tarefa com o sogro. “Minhas filhas da última vez choravam muito, tinham saudade do pai. É um problema que afeta toda a família”, disse.
Investir em grades não foi o suficiente para Jacir Neto Fenner, 36. Há dois anos na região com uma academia e um estacionamento, ele já acumulou 12 furtos sofridos, o último dele na semana passada, filmado por suas câmeras, que flagrou o ladrão quebrando a vitrine para entrar no local e furtar os refletores.
Cansado de ser alvo, Neto desembolsa por conta cerca de R$ 2.600 para manter o sistema de alarme, vídeomonitoramento e segurança. Cansado da falta de solução por parte da polícia, sequer registra boletins de ocorrência dos crimes que sofre. “Não adianta nada. Veja agora, a imagem flagrou o rosto do cara, mas nada é feito”, disse.
Vereadores, comando da Polícia Militar e representantes da Guarda Civil Municipal e Polícia Civil realizaram ao menos dois encontros neste período com as vítimas atrás de uma solução. A corporação promete reforçar o policiamento. Mas o descrédito é grande por parte dos comerciantes.
Como o de Helen Chagas, 40. Desde agosto do ano passado, quando chegou ao bairro com sua loja de móveis artesanais e decoração, sofreu duas invasões. “A câmera flagrou perfeito o ladrão e nada foi feito”, disse.
Além de não registrar mais boletins de ocorrência dos crimes que sofre, Neto quer ampliara segurança que montou para seus estabelecimentos. Discute com os colegas vizinhos a criação, por conta-própria, de uma força tarefa, com segurança noturna, sistema integrado de câmeras e alarmes. A idéia é bem recebida por todos.
“Vai ser o jeito. Infelizmente é um moleque que está dando muita dor de cabeça. Será melhor pagar uma quantia mensal para a segurança do que gastar muito para arrumar fachada e vitrines sempre que quebradas”, assegurou Lopes.
Um dos comerciantes, que prefere não se identificar, vai além e quer buscar uma trégua direta com os que acusa serem os responsáveis. “Vou falar com os traficantes se for preciso. Todos sabem que é usuário que vem quebrando tudo, mas fingem que não sabem. Vou logo na fonte dos problemas”, prometeu.
Confira abaixo no vídeo o relato de moradores e frequentadores da via, que também reclamam da insegurança: