ONG investigada repassou R$ 20 mil a ex-fiscal da prefeitura
Em 2016, a Morhar recebeu R$ 3,6 milhões para construir casas populares destinada a moradores de ex-favela
Transferências no valor de R$ 20 mil foram descobertas pela investigação da 31ª Promotoria de Campo Grande nas contas de ex-servidor comissionado pela prefeitura, feitas pelo presidente da ONG (Organização Não Governamental) Morhar Organização Social, durante as investigações que levaram à operação Moradia, executada nesta sexta-feira (9).
A entidade está desativada. A suspeita é que tenha usado documentos falsos e informações mentirosas para conseguir ser contratada pela prefeitura.
Em 2016, a Morhar recebeu R$ 3,6 milhões para construir casas populares destinadas a assentamento de moradores de favelas na região sul da cidade, mas entregou apenas 42, ainda assim com defeitos. Além disso, não prestou contas de R$ 982 mil recebidos da prefeitura na última parcela do contrato.
Conforme o Campo Grande News apurou, o servidor atuava como fiscal de obras mesmo sendo de indicação política, na gestão de Alcides Bernal (PP). O dinheiro citado foi transferido para a conta dele pelo presidente da Morhar Organização Social, Rodrigo da Silva Lopes, segundo a investigação jornalística.
Endereços ligados ao ex-servidor, ao presidente da ONG, à mulher dele, e ainda uma empresa de propriedade dela, também desativada, foram alvos das buscas e apreensões realizadas hoje com autorização do juiz David de Oliveira Gomes, da 2ª Vara de Direitos Difusos, Coletivos e Individuais Homogêneos. Ao todo, foram seis locais.
Agora, o material apreendido, incluindo notebooks, anotações, agendas, vai ser analisado, para tentar identificar qual a ligação do ex-servidor com a ONG.
Pelo que foi levantado até agora, a transação é um forte indício de ato de corrupção, nesse caso a “vista grossa” às irregularidades na obra. Na lei, a conduta é tipificada como improbidade administrativa.
E o Bernal ? Por enquanto, o prefeito à época, Alcides Bernal (PP), não é alvo direto da apuração. Se ao final do inquérito civil ficar provado dano ao erário e houver indícios que possam levar à responsabilização do ex-gestor, a situação muda de figura.
A ação, desenvolvida pelo promotor do caso, Humberto Lapa Ferri, com apoio do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) e do Gecoc (Grupo de Combate à Corrupção), todos do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) tem como principal objetivo recuperar o valor investido pela prefeitura.
O ex-prefeito Alcides Bernal afirmou ao Campo Grande News que não conhecia a ONG, que não se lembra do nome do servidor nomeado, sob suspeita agora de ter recebido dinheiro irregular.
"Toda documentação está registrada na prefeitura. E as casas estão construídas ou em construção no Bairro Bom Retiro, Vespasiano e Dom Antônio", afirmou Bernal.