Ordem de execução a jovem decapitado após “tribunal do PCC” saiu da Máxima
Durante depoimentos na audiência desta sexta-feira, investigadores da DEH afirmaram que Nilson Gauta, interno do presídio, foi o mandante do assassinato
A morte de Rudnei da Silva Rocha, o “Babidi”, de 22 anos, teria sido autorizada de dentro do Estabelecimento Penal Jair Ferreira de Carvalho, a Máxima de Campo Grande, pelo interno Nilton Gauta Evangelista, conhecido como Pezão. O suspeito também é apontado como o mandante da execução de José Carlos Figueiredo, em novembro do ano passado. Os dois foram “julgados” pelo PCC (Primeiro Comando da Capital) e decapitados pela facção.
A primeira audiência sobre a morte de “Babidi”, aconteceu na tarde desta sexta-feira (4), no plenário do Tribunal do Júri em Campo Grande. Durante os depoimentos, investigadores da DEH (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes de Homicídio) relataram ao juiz Carlos Alberto Garcete de Almeida, da 1ª Vara do Tribunal do Júri, que Nilton foi identificado como o responsável pela ordem de assassinato das duas vítimas.
Os seis policiais ouvidos durante a audiência confirmaram que “Pezão” era quem passava as coordenadas do “julgamento” de “Babidi” para os outros envolvidos no crime. Por telefone, o interno da Máxima teria auxiliado Cristina Gomes Nogueira Rodrigues, a “Polêmica”, a conduzir o interrogatório feito com a vítima e também dado a ordem de execução a Rodrigo Roberto Rodrigues, o “Magrão” e Roberto Railson Maia da Silva.
Diante do juiz, um dos investigadores lembrou que “Pezão” também está envolvido na morte de José Carlos Figueiredo, o “Coroa”, sequestrado e assassinado em novembro do ano passado. Segundo as investigações, uma briga entre o filho do preso com a vítima motivou o assassinato.
O adolescente de 15 anos, conhecido como Tio Patinhas, teria uma dívida de drogas com José Carlos e para “se livrar de ameaças” pediu ajuda do pai. A mãe do garoto também resolveu interferir na situação e pediu ajuda ao PCC. Foi a partir daí que a facção se envolveu no caso.
No dia do crime, o adolescente ainda foi forçado a decapitar a vítima, tudo para cumprir uma lei da facção: “Vida de paga com vida, sangue se paga com sangue”. “Tio Patinhas” começou decapitar José, que ainda estava vivo, mas não conseguiu concluir o crime. Conforme as investigações, Pamella Almeida Ribeiro, conhecida como Emonoma, “terminou o serviço”.
A morte de “Babidi” - Rudnei da Silva Rocha foi visto pela última vez com vida no dia 6 de outubro. Na data, ele saiu de casa afirmando que estava sendo ameaçado por supostamente ser integrante do Comando Vermelho e que estava indo esclarecer a situação. Na noite do dia seguinte, o corpo do rapaz de 22 anos foi encontrado decapitado no Indubrasil.
Sete suspeitos respondem pelo crime: Lucas Carmona de Souza, 20 anos, Valdeir Lourenço, 44 anos, Rodrigo Roberto Rodrigues, 18 anos, Roberto Railson Maia da Silva, 21 anos, Cristina Gomes Nogueira Rodrigues, 31 anos, Mike Davison Medeiros da Silva Lima, 19 anos e Ayumi Chaves da Silva, 21 anos.
Nesta tarde, seis deles compareceram a primeira audiência do caso. Ayumi, a sétima envolvida, cumpria prisão domiciliar, não foi localizada pela justiça e agora está foragida. Nos depoimentos, cada réu teve sua participação no crime detalhada por policiais que participaram das investigações.
Rudnei era traficante de drogas e integrante do PCC, porém estava negociando drogas com Comando Vermelho, facção rival e por isso foi convocado para “prestar esclarecimento”. Para isso ele foi ao Jardim Conrado, na casa de uma adolescente identificada como “Negona”. No local encontrou a dona da casa, Rodrigo Roberto, o Magrão e Cristina Gomes, a Polêmica.
O interrogatório, segundo as investigações, começaram ainda na residência. “Polêmica” era a responsável por fazer as perguntas e questionar do rapaz. Para a polícia, a mulher tem posição de liderança no PCC e faz o serviço de “disciplina do São Conrado”. Ela teria recebido a ordem para o crime e também “recrutado” os outros autores do homicídio.
Segundo o Ministério Público, Lucas Carmona e Mike Davison foram chamados para fazer o serviço de “contenção” da vítima, mas beberam antes do crime e foram liberados “por descumprirem uma lei do estatuto da facção”, a de não participar dos julgamentos embriagado.
Da casa da adolescente, Rudnei foi levado para a residência de Valdir Lourenço, mas pelo local ser “movimentado”, os suspeitos precisaram de outro local para concluir o crime. “Magrão” encontrou em contato com Ayumi e a jovem de 21 anos, autorizou que o grupo usasse sua casa.
Após da ordem de Nilson, “Babidi” foi assassinado por Rodrigo Roberto Rodrigues, o “Magrão” e Roberto Railson Maia da Silva. Os dois teriam levado a vítima já amarrada até o banheiro, mandaram que ela ficasse deitada no chão, com a cabeça dentro do box e assim cortaram seu pescoço.
O corpo de Rudnei foi enrolado em um edredom e deixado em um terreno na Indubrasil por um oitavo envolvido, não localizado pela polícia. Ainda conforme as investigações, Ayume e Cristiane também ficaram responsável por limpar a casa depois do homicídio.
Nesta tarde, foram ouvidas 14 testemunhas e apenas Lucas prestou depoimento ao juiz e confessou o crime. Afirmou que foi chamado para fazer a contenção da vítima, mas não precisou participar do julgamento. Os outros cinco réus optaram por falarem apenas na próxima audiência, já marcada para o dia 8 de junho.
Na data, além dos suspeitos, a mãe de Ayume, que não compareceu na audiência de hoje, também será ouvida.