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Capital

Para quem tem pouco, chuva é problema e também brincadeira

Famílias em moradias precárias acordam na madrugada para tentar proteger pertences dos problemas causados por enxurradas; ruas cheias d’água prejudicam tráfego, mas criam nova brincadeira para crianças

Humberto Marques e Bruna Kaspary | 20/02/2018 10:05
Gilson: madrugada levantando pertences para evitar prejuízo e desejo de emprego para conseguirem mudarem de casa. (Fotos: André Bittar)
Gilson: madrugada levantando pertences para evitar prejuízo e desejo de emprego para conseguirem mudarem de casa. (Fotos: André Bittar)

Embora a Defesa Civil e o Corpo de Bombeiros não tenham registrado problemas decorrentes das fortes chuvas que atingiram Campo Grande na madrugada desta terça-feira (20), o simples sinal de mau tempo já é suficiente para que, nos bairros onde o escoamento é problemático, os moradores providências para preservar o pouco que têm.

Em algumas regiões da Capital, moradores acordaram durante a madrugada para recolherem ou mesmo erguerem seus bens dentro das casas, temendo novas perdas com as enxurradas. Em outros pontos, a água acumulada nas ruas dificultava o tráfego de veículos, mas virou motivo de brincadeira para crianças.

A chuva começou a cair forte por volta das 3h em diferentes locais da Capital. Morador de uma pequena favela na avenida Guaicurus, às margens do córrego Bálsamo, na região do Universitário (sul de Campo Grande), o desempregado Gilson Rodrigues das Neves, 55, pulou da cama com a família para tentar preservar móveis e outros pertences.

“Acordamos de madrugada para recolher as coisas porque já perdemos muito com as chuvas. Qualquer chuvinha, a gente acorda”, afirmou. “Erguemos tudo para a correnteza não levar”, prosseguiu Gilson que, com a chuva que cai, reforça um antigo desejo. “Tudo o que a gente queria era alguém que me desse emprego para que a gente possa sair daqui”.

Crianças brincavam entre as enxurradas e correram ao avistar a reportagem no Dom Antônio Barbosa
Crianças brincavam entre as enxurradas e correram ao avistar a reportagem no Dom Antônio Barbosa

A alguns quilômetros dali, na região do Dom Antônio Barbosa para onde foram levadas famílias que viviam na favela Cidade de Deus, a agente de saúde Wanessa Pereira, 35, disse que desistiu de ir trabalhar nesta terça-feira depois de mais uma madrugada acordada, a fim de também levantar móveis e outros bens para evitar perdas com os constantes alagamentos em sua casa.

“Faz sete anos que vivemos nessa situação. Por volta das 3h começou a alagar, acordei para erguer tudo o que conseguia”, disse Wanessa, que deixou de ir ao trabalho hoje por conta do mau tempo. “Fiquei em casa para poder cuidar de tudo aqui. Se começar a chover forte e alagar de novo, consigo subir as coisas”.

A agente de saúde vive na casa com os quatro filhos, com idades entre 5 e 17 anos –segundo ela, quando começa a chover, o trabalho é colocar as crianças em local protegido e iniciar o trabalho de proteção.

Na região do Dom Antônio, no início desta manhã, a reportagem ainda flagrou crianças brincando durante a chuva. Sem se preocupar com doenças ou outros perigos, elas pulavam entre as poças d’água e só deixaram o local com a aproximação da reportagem.

Já no Caiobá, ainda no sul da cidade, poucas pessoas se arriscavam pelas ruas durante as chuvas. Vias que cortam a rua Leão Zardo –que liga o bairro ao Santa Emília e ao São Conrado– ficaram tomadas pela água acumulada, algumas vezes até impedindo o tráfego (como ocorreu nas vias próximas ao Ceinf Sandra Gobo).

Aguaceiro dificulta o ir e vir em locais com vias precárias
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