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Capital

Parada, obra de escola vira casa de usuários e esconderijo de itens furtados

A situação é investigada pelo Ministério Público Federal, já que a construção se utiliza de recursos da União

Lucia Morel e Thays Schneider | 03/05/2023 17:59
Obra abandonada e várias marcas de fogueiras. (Foto: Alex Machado)
Obra abandonada e várias marcas de fogueiras. (Foto: Alex Machado)

Iniciada em 2019, obra de escola municipal na Vila Nathália, no Portal Caiobá, se transformou em moradia para usuários de droga e esconderijo de objetos furtados por eles. A construção está parada há bastante tempo e os moradores da região estimam que há pelo menos 10 meses não há qualquer movimentação por lá.

A situação é investigada pelo Ministério Público Federal, já que a construção se utiliza de recursos federais, e averígua “possível prática de ato de improbidade administrativa decorrente de irregularidades na construção da Escola Municipal na Vila Nathália, em Campo Grande/MS, em especial a não conclusão e abandono da obra”.

A portaria que institui o inquérito define que tal conduta pode caracterizar ato de improbidade administrativa e que a situação tem interesse da União porque pode “tratar-se de possível malversação de recursos repassados pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação/FNDE”.

O Campo Grande News foi até o local e verificou que a estrutura de obra está avançada, com telhado instalado e abrigos adequados. Entretanto, nada de alunos. O que há são marcas de fogueiras, muitos entulhos e roupas velhas, além de comida estragada por todos os lados. Quando a reportagem acessou o espaço, foi possível ver a movimentação de pessoas, que se esconderam aos fundos da construção.

Moradora em frente ao prédio, a idosa aposentada Cleusa Oliveira, de 74 anos, conta que não pode sair de casa e nem mesmo viajar. Se a moradia fica sozinha, é imediato o roubo de fios de energia por quem faz uso de entorpecentes e “mora” na obra abandonada. Segundo ela, até sair no portão é ruim, porque na mesma hora aparece um deles pedindo comida ou dinheiro.

“Uma construção gigantesca dessa e nosso bairro não tem escola. E é impossível conviver, porque os usuários tomaram conta e não posso sair de casa que roubam os fios daqui”, lamentou a idosa. “Se sair um dia, não tem mais fio no dia seguinte”, relata, lembrando que foi vítima diversas vezes e teve que gastar para recolocar os itens, até que decidiu não sair mais de casa para não ter que passar por isso.

Ela conta ainda que diversas vezes a Polícia Militar entra no local e recupera objetos roubados no próprio bairro, o que é confirmado por outra moradora, Gislaine Valdez, 21 anos. “Aí seria um ótimo local para creche e escola, daí eu poderia trabalhar, mas está aí, parado”. Gislaine diz ainda que o marido dela costuma dar comida aos usuários e que “deu uma vez, não param mais de pedir”.

Em nota, a Semed (Secretaria Municipal de Educação) informou que as obras iniciada em 2019 “foram interrompidas pela própria empresa vencedora na licitação, por causa da pandemia da covid-19, alegando a mesma que houve um aumento no preço do material de construção”. Por fim, disse que o espaço está 49% concluído e em processo de ajuste de orçamento para nova licitação. Sobre a investigação do MPF nada foi citado.

A obra tem 2.651 metros quadrados de área construída, 12 salas de aula, laboratório, quadra poliesportiva coberta e instalações administrativas ao custo de R$ 3.423.368,88. Em julho de 2014, foi liberada a primeira parcela, no valor de R$ 684.673,78.

“Como o orçamento estava defasado, com planilhas feitas há mais de sete anos, a prefeitura teve de ampliar a contrapartida, para garantir a construção da escola que vai exigir um investimento de R$ 4.272.622,05”, diz nota de 2020 do município.

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