ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
JULHO, TERÇA  16    CAMPO GRANDE 15º

Capital

Pegos de surpresa, pais ameaçam ir à Justiça contra lançamento de “Casa Sophia”

Para família de garotinha morta, nome da criança está sendo usado para promoção de políticos e pastores

Por Anahi Zurutuza | 02/10/2023 15:45
Jean Ocampo e Igor de Andrade com garotinha no colo em foto comemorativa (Foto: Arquivo de família)
Jean Ocampo e Igor de Andrade com garotinha no colo em foto comemorativa (Foto: Arquivo de família)

Pegos de surpresa, a família de garotinha que morreu em janeiro deste ano protestou contra proposta pela Prefeitura de Campo Grande. O pai da criança, Jean Carlos Ocampo da Rosa, e o marido, Igor de Andrade, que é considerado pai afetivo da menina, querem impedir que complexo de acolhimento para crianças e adolescente em situação de vulnerabilidade e risco de violência, mantido pela administração municipal, seja batizado de “Casa Sophia”.

Durante o lançamento da programação da Semana da Criança, no fim desta manhã, a prefeita Adriane Lopes (PP) anunciou que vai inaugurar, na próxima terça-feira (10), o espaço para acolher meninos e meninas. Acontece que Jean Ocampo não foi consultado previamente e ficou sabendo da “homenagem” pela imprensa. Imediatamente, por meio da advogada, Janice Andrade, o casal oficiou a prefeitura informando que não autorizava o uso do nome e imagem da garotinha.

Para Ocampo e Andrade, a iniciativa soou como promoção política e de pastores evangélicos, uma vez que a prefeita fez o anúncio ao lado do pastor Wilton Acosta, que é liderança partidária do Republicanos e presidente do Conselho de Pastores de Mato Grosso do Sul, entidade que se associou ao Executivo municipal para promover a Semana da Criança. “Não fizeram absolutamente nada quando a menina estava viva, não fizeram absolutamente nada após a morte. Os pais não autorizam o uso do nome para promoção e se for necessário, tomaremos medidas judiciais”, informou a advogada à reportagem.

A morte da criança, no dia 26 de janeiro deste ano, jogou luz sob processo lento e longo que a menina protagonizou com idas frequentes à unidade de saúde, tentativa do pai em obter a guarda após suspeita de que a criança era vítima de agressão e provocou série de audiências públicas, protestos e mobilização para criação da Casa da Criança – projeto diferente do anunciado pela prefeita –, bem como soluções ao falho sistema de proteção à criança e ao adolescente em todo o Brasil.

Prefeita Adriane Lopes ao lado do pastor Wilton Acosta, nesta manhã, durante o lançamento da Semana da Criança (Foto: Marcos Maluf)
Prefeita Adriane Lopes ao lado do pastor Wilton Acosta, nesta manhã, durante o lançamento da Semana da Criança (Foto: Marcos Maluf)

Outro detalhe lembrado pela família da menina é que igrejas evangélicas tentaram interferir diretamente na eleição para conselheiros tutelares, que aconteceu nesse domingo, dia 1º. Muitos pastores fizeram campanha para candidatos, o que rendeu denúncias por abuso de poder religioso e impugnações a candidaturas.

Os pais também tentaram mobilizar a população a ir às urnas e escolher profissionais com conhecimento técnico sobre o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), deixando de lado convicções religiosas ou outros critérios de escolha, que não fosse a atuação na defesa dos direitos de meninos e meninas.

Para a família, o Conselho Tutelar, órgão mantido pela prefeitura que ouviu do pai suspeitas que a filha sofria agressões na casa onde vivia com o padrasto e a mãe, foi negligente. Por isso, a tentativa de homenagem proposta pelo município foi vista como desrespeito e afronta.

Outro lado - Cinco horas depois do anúncio, por meio da assessoria de imprensa, o Executivo municipal informou que Jean Ocampo não precisará ir à Justiça. "A Prefeitura informa ainda que respeita o desejo da família e que irá acatar o pedido para que não seja usado o nome para a unidade".

A administração municipal não deu ainda detalhes sobre a inauguração. Informou apenas que não se trata de abertura de uma nova unidade de acolhimento em Campo Grande, mas a ampliação da "política pública de assistência dentro da Unidade de Acolhimento Institucional para Crianças e Adolescentes - Uaica 1". O local já foi reinaugurado uma vez, em 2019, na gestão de Marquinhos Trad (PSD), quando Adriane ainda era vice-prefeita.

Por motivos de segurança, o local do abrigo não foi informado. Hoje, a casa acolhe crianças de 0 a 3 anos. Segundo informado pela prefeita na manhã de hoje, o espaço passará a receber vítimas com até 14 anos e 11 meses.

A morte – Na tarde do dia 26 de janeiro deste ano, a menina deu entrada na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do Bairro Coronel Antonino, no norte de Campo Grande, já sem vida. Inicialmente, a mãe, Stephanie de Jesus, 24, que foi até lá sozinha com a garota nos braços, sustentou versão de que ela havia passado mal, mas investigação médica encontrou lesões pelo corpo, além de constatar que a morte havia ocorrido cerca de quatro horas antes da chegada ao local.

O atestado de óbito apontou que a menininha morreu por sofrer trauma raquimedular na coluna cervical (nuca) e hemotórax bilateral (hemorragia e acúmulo de sangue entre os pulmões e a parede torácica). Exame necroscópico também mostrou que a criança sofria agressões há algum tempo e tinha ruptura cicatrizada do hímen – sinal de que sofreu violência sexual.

Para a investigação policial e o MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), a criança foi espancada até a morte pelo padrasto, Christian Campoçano Leitheim, 26, depois de uma vida recebendo "castigos" físicos, além de ser vítima de violência sexual. Ele responde por homicídio e estupro. Já a mãe da menina, pelo assassinato, como o Christian, mesmo que não tenha agredido a filha, mas porque, no entendimento do MP, ela se omitiu do dever de cuidar. No início deste mês, ambos também foram denunciados pelo crime de tortura.

*Matéria alterada para acréscimo do posicionamento da Prefeitura de Campo Grande.

Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para entrar na lista VIP do Campo Grande News

Nos siga no Google Notícias