Penar com frio, chuva e vento: drama imposto pela miséria nos barracos da cidade
Na favela, banheiro fica a céu aberto e o banho, invariavelmente, é gelado
A junção de frio, chuva e vento, condições climáticas que dominam Campo Grande nesta terça-feira (dia 13), impõe um triste roteiro nos barracos da cidade. É preciso juntar a família na hora de dormir para aproveitar os parcos cobertores, esquentar água no fogão a lenha e torcer para que a chuva não rasgue a lona e molhe os poucos cômodos.
Na favela formada na área da Homex, no Jardim Centro Oeste, Liete Ferreira Dias, 48 anos, encara o frio sem contar ao menos com um banheiro que tenha telhado. Ela e a neta de 8 anos moram há dois anos num barraco de madeira. A peça única junta quarto e cozinha. O banheiro fica do lado de fora, a céu aberto, e o banho, invariavelmente, é gelado.
“Entra muito vento pelas frestas, só com muita coberta e casaco para se aquecer. Quando chove forte, a chuva rasga tudo a lona e molha aqui dentro. Já dormimos no molhado, com a chuva caindo, é tenso, mas é o que nós temos. Comecei a construir uma casinha de alvenaria, mas sozinha é difícil. Meu salário é de R$ 1.259 e não tenho benefícios”, diz Liete, que trabalha como serviços gerais.
Há seis meses na favela, a dona de casa Eliane Gonçalves dos Santos, 44 anos, mora com dois filhos (um adolescente de 16 anos e uma menina de 9 anos) e o esposo de 40 anos. Ela conta que o marido é serviços gerais e faz trabalhos esporádicos, enquanto que a renda certa é somente os R$ 600 do Bolsa Família. Elaine está grávida, à espera de um menino, e a gestação é de risco.
“Não temos cobertores suficientes. Quando está frio, dorme todo mundo junto e vamos nos aquecendo. Aqui não tem água quente. Quando está muito frio, morno água para a minha menina. A gente sofre muito com o frio nessa situação”. A família mora em um cômodo de alvenaria, com puxadinho de lona.
Marinês Cardoso Ortiz, 47 anos, mora há oito anos na favela. Metade do período foi debaixo de lona. Agora, reside em casa de alvenaria, com duas peças e um banheiro.
“Quando o frio chega, a gente padece. O pessoal sempre ajudava com cobertores, mas desde o ano passado não tivemos mais ajuda. Nesses dias frios, amontoa tudo. Meu filho dorme comigo para aproveitar as cobertas. Minha filha dorme em um colchão no chão com o meu neto”, diz Marinês, que é serviços gerais.
Ela conta que a filha de 21 anos, mãe de um menino de 5 anos, esta grávida de três meses e precisa de ajuda para voltar a ter uma casa. O barraco de madeira da jovem foi incendiado pelo marido, que não aceitava o fim do relacionamento.
“Não temos chuveiro e esquento água no fogão a lenha para tomar banho. As crianças são as que mais sofrem. Pego casaco emprestado porque não tenho o suficiente. Trabalho, mas não sou registrada. Ganho Bolsa Família, mas não sou alfabetizada, não tenho experiência e não querem me contratar. Desde o ano passado, estou tentando ajudar a minha filha a construir o barraco”, afirma.
Quem quiser ajudar Marinês pode fazer contato por meio do telefone (67) 9 9997-4831.
Campo Grande vivencia desde ontem a chegada de frente fria, onde a chuva abre caminho para chegada de massa do ar polar. A mínima hoje foi de 10ºC, mas com sensação térmica de 6ºC.