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Capital

Penar com frio, chuva e vento: drama imposto pela miséria nos barracos da cidade

Na favela, banheiro fica a céu aberto e o banho, invariavelmente, é gelado

Aline dos Santos e Bruna Marques | 13/06/2023 11:35
"Quando chove forte, a chuva rasga tudo a lona e molha aqui dentro", diz Liete. (Foto: Paulo Francis)
"Quando chove forte, a chuva rasga tudo a lona e molha aqui dentro", diz Liete. (Foto: Paulo Francis)

A junção de frio, chuva e vento, condições climáticas que dominam Campo Grande nesta terça-feira (dia 13), impõe um triste roteiro nos barracos da cidade. É preciso juntar a família na hora de dormir para aproveitar os parcos cobertores, esquentar água no fogão a lenha e torcer para que a chuva não rasgue a lona e molhe os poucos cômodos.

Na favela formada na área da Homex, no Jardim Centro Oeste, Liete Ferreira Dias, 48 anos, encara o frio sem contar ao menos com um banheiro que tenha telhado. Ela e a neta de 8 anos moram há dois anos num barraco de madeira. A peça única junta quarto e cozinha. O banheiro fica do lado de fora, a céu aberto, e o banho, invariavelmente, é gelado.

“Entra muito vento pelas frestas, só com muita coberta e casaco para se aquecer. Quando chove forte, a chuva rasga tudo a lona e molha aqui dentro. Já dormimos no molhado, com a chuva caindo, é tenso, mas é o que nós temos. Comecei a construir uma casinha de alvenaria, mas sozinha é difícil. Meu salário é de R$ 1.259 e não tenho benefícios”, diz Liete, que trabalha como serviços gerais.

Banheiro fica do lado de fora do barraco e não tem teto. (Foto: Paulo Francis)
Banheiro fica do lado de fora do barraco e não tem teto. (Foto: Paulo Francis)

Há seis meses na favela, a dona de casa Eliane Gonçalves dos Santos, 44 anos, mora com dois filhos (um adolescente de 16 anos e uma menina de 9 anos) e o esposo de 40 anos. Ela conta que o marido é serviços gerais e faz trabalhos esporádicos, enquanto que a renda certa é somente os R$ 600 do Bolsa Família. Elaine está grávida, à espera de um menino, e a gestação é de risco.

“Não temos cobertores suficientes. Quando está frio, dorme todo mundo junto e vamos nos aquecendo. Aqui não tem água quente. Quando está muito frio, morno água para a minha menina. A gente sofre muito com o frio nessa situação”. A família mora em um cômodo de alvenaria, com puxadinho de lona.

"A gente sofre muito com o frio nessa situação", diz Eliane. (Foto: Paulo Francis)
"A gente sofre muito com o frio nessa situação", diz Eliane. (Foto: Paulo Francis)

Marinês Cardoso Ortiz, 47 anos, mora há oito anos na favela. Metade do período foi debaixo de lona. Agora, reside em casa de alvenaria, com duas peças e um banheiro.

“Quando o frio chega, a gente padece. O pessoal sempre ajudava com cobertores, mas desde o ano passado não tivemos mais ajuda. Nesses dias frios, amontoa tudo. Meu filho dorme comigo para aproveitar as cobertas. Minha filha dorme em um colchão no chão com o meu neto”, diz Marinês, que é serviços gerais.

Ela conta que a filha de 21 anos, mãe de um menino de 5 anos, esta grávida de três meses e precisa de ajuda para voltar a ter uma casa. O barraco de madeira da jovem foi incendiado pelo marido, que não aceitava o fim do relacionamento.

"Nesses dias frios, amontoa tudo para aproveitar as cobertas", diz Marinês. (Foto: Paulo Francis)
"Nesses dias frios, amontoa tudo para aproveitar as cobertas", diz Marinês. (Foto: Paulo Francis)

“Não temos chuveiro e esquento água no fogão a lenha para tomar banho. As crianças são as que mais sofrem. Pego casaco emprestado porque não tenho o suficiente. Trabalho, mas não sou registrada. Ganho Bolsa Família, mas não sou alfabetizada, não tenho experiência e não querem me contratar. Desde o ano passado, estou tentando ajudar a minha filha a construir o barraco”, afirma.

Quem quiser ajudar Marinês pode fazer contato por meio do telefone (67) 9 9997-4831.

Campo Grande vivencia desde ontem a chegada de frente fria, onde a chuva abre caminho para chegada de massa do ar polar. A mínima hoje foi de 10ºC, mas com sensação térmica de 6ºC.

Frio, chuva e vento se misturam a rotina de privações em barracos. (Foto: Paulo Francis)
Frio, chuva e vento se misturam a rotina de privações em barracos. (Foto: Paulo Francis)


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