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Capital

“Pequei na criação do meu filho”, diz pai de jovem que foi assassinado a tiros

Ronald Felipe Cavalheiro Cardoso foi assassinado no dia 26 de junho de 2022, no Bairro Moreninha

Por Bruna Marques | 19/02/2025 10:56
“Pequei na criação do meu filho”, diz pai de jovem que foi assassinado a tiros
Ronaldo contando sobre morte do filho, no Tribunal do Júri (Foto: Bruna Marques)

Ouvido como testemunha no Tribunal do Júri na manhã desta quarta-feira (19), o pai do jovem Ronald Felipe Cavalheiro Cardoso, 19 anos, assassinado em 2022 com quatro tiros, disse durante interrogatório que se sente culpado pela morte do filho.

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O pai de Ronald Felipe Cavalheiro Cardoso, jovem assassinado com 13 tiros em 2022, expressou culpa pela morte do filho durante depoimento no Tribunal do Júri. Ronaldo Siqueira Cardoso afirmou que seu filho identificou Ryan Victório Alencar Silva como o atirador. O crime teria sido motivado por uma disputa de tráfico de drogas, segundo testemunhas. Ryan nega a autoria e alega ter sido coagido a confessar. Ronald morreu após 11 dias internado, vítima de um atentado na Vila Moreninha III, em Campo Grande.

“50% da culpa da morte dele é minha, eu pequei na criação do meu filho, não tem como voltar atrás. Esse rapaz não tinha o direito de fazer o papel de Deus e tirar a vida do meu filho”, disse, emocionado, Ronaldo Siqueira Cardoso.

Arrolado como testemunha de acusação pelo Ministério Público, no júri que tem como réu Ryan Victório Alencar Silva, 22 anos, Ronaldo preferiu prestar depoimento sem a presença do acusado.

Questionado pela promotora de justiça, Laura Alves Lagrota, sobre como foram os dias em que Ronald ficou internado na Santa Casa, Ronaldo disse não ter deixado de acompanhar o filho nenhum dia e achou que ele resistiria.

“Achei que ele ia sobreviver, fiquei todos os dias lá com ele. Foi muito guerreiro. O médico chegou até cogitar dar alta para ele, mas estava muito fraco. No dia em que ele morreu, estavam levando ele para fazer alguns exames. Me levaram para uma sala e depois vieram com a notícia de que tinha morrido”, recordou.

A promotora indagou Ronaldo sobre o que Ronald havia contato sobre o dia do crime. Com muita firmeza, o pai da vítima disse que o jovem viu seu assassino e o identificou como sendo Ryan Victório.

“Nos dias em que ele estava se recuperando, me falou que foi o Ryan que tinha atirado nele, não sabia o motivo. Ele conhecia o Ryan, tanto é que no dia em que ele chegou de moto, ele nem correu porque não imaginava que ele iria atirar. Só correu depois que ele tirou a arma. Eles eram amigos, andavam juntos na Moreninha. Ryan chegou a ir em festa com ele (vítima). Ele já foi umas duas vezes na minha casa. Uma das vezes foi quando o Ronald estava preso e ele foi lá falar comigo”, expôs sobre a relação da vítima e do acusado.

“Pequei na criação do meu filho”, diz pai de jovem que foi assassinado a tiros
Ryan Victório está sendo julgado pela morte de Ronald Felipe (Foto: Bruna Marques)

Sem entender até hoje a motivação do assassinato, Ronaldo acredita que o crime ocorreu porque, um dia antes, Ronald teria jogado uma pedra no vidro do carro de Digo Felype Pereira de Jesus, conhecido como “gordinho”.

“Ele tinha tido uma discussão com o Diego, mas não tinha nada com o Ryan. Nem o Ronald sabia o motivo disso. Acha que o Ryan foi comprar a briga desse 'gordinho'. Meu filho tacou uma pedra no carro dele e quebrou o vidro e teve uma briga”, contou.

Ronaldo foi quem criou o filho desde que ele tinha 7 anos, época em que se separou da mãe do rapaz. Sofrendo com a perda precoce de Ronald, o homem disse que o quarto dele e seus pertences continuam do mesmo jeito. “Eu não mexi em nada, está tudo lá, as roupas dele estão dentro do guarda-roupa, é muito difícil. Não desejo essa dor para pai e mãe nenhum. Não perdi meu filho porque Deus quis levar, foi uma covardia, não deram chance de defesa para ele”, lamentou.

Bastante emocionado, Ronaldo pediu autorização para o juiz Aluízio Pereira dos Santos o deixar ler a todos os presentes sua última troca de mensagens com o filho. “Falei ‘filho, tá tudo bem com você? Eu te amo!’ ele respondeu: ‘Eu também te amo, pai. Você é tudo para mim. Eu respondi ‘Está frio, vem comer, eu fiz janta’ ele só mandou ‘pode ficar de boa, pai, já estou indo’”, chorou, dizendo que os dois se amavam muito.

Ronaldo contou também que, enquanto aguardava a recuperação do filho, os dois se programavam para quando Ronald saísse do hospital. “Tínhamos planos de começar uma nova vida”.

O defensor público Rodrigo Stochiero perguntou a Ronaldo como foi a adolescência de Ronald. Com sinceridade, o homem disse que o filho já havia sido pego com droga e que sabia que ele tinha desavenças com outras pessoas. “Mas nunca soube de ninguém jurando ele de morte”.

Ao finalizar seu depoimento, Ronaldo descreveu o filho como “amoroso”. “Ele tinha uma paixão enorme por mim e eu por ele. Amava muito a irmãzinha dele de 8 anos”, encerrou.

Disputa pelo tráfico de drogas - Diego Felype Pereira de Jesus, que na época do crime foi apontado como piloto da moto em que o réu chegou para atirar na vítima, foi arrolado como testemunha de defesa e negou ter tido participação no crime e defendeu o amigo.

“Ele tinha problema com várias pessoas, não era só comigo não, tinha até com a polícia. Ele era meu amigo, ele não fez mal algum para eu querer tirar a vida dele. Eu não participei disso, nunca tive desavença com ele, quem falou isso mentiu. Várias pessoas queriam matar ele e ele achou o fim dele. Ryan é muito próximo de mim, se ele tivesse feito isso, teria me contado”, disse o jovem.

Segundo Diego, Ronald foi morto devido à disputa pelo tráfico de drogas no Bairro Moreninha. “O que estava acontecendo no bairro era disputa pelo tráfico de drogas. Ronald era praticamente o chefe da baixada (área conhecida como vendo de droga na Moreninha III). Só ele podia vender droga lá, não deixava ninguém mais vender. Foi por isso que o Gabriel Brandão e outros caras morreram, eles disputavam entre si a área”, alegou.

“Pequei na criação do meu filho”, diz pai de jovem que foi assassinado a tiros
Antes de morrer, Ronald ficou 11 dias internado na Santa Casa de Campo Grande (Foto: Arquivo Pessoal)

Confissão sob pressão – Durante seu depoimento no plenário, Ryan Victório negou ter matado Ronald. No dia dos fatos, o réu contou que estava na casa de sua ex-sogra, no Bairro Pioneiros, e afirmou não saber quem é o autor do crime.

“Não posso te dizer quem matou porque eu não sei. Eu só confessei porque fui coagido na delegacia, apanhei dos policiais para poder gravar o vídeo e citar o nome das pessoas. No meu primeiro depoimento, eu tinha advogado e fiquei em silêncio. Um mês depois, me buscaram onde eu estava preso e me fizeram gravar o outro vídeo, mas só tinha policiais na sala”.

Entenda o caso - Ronald Felipe morreu na Santa Casa de Campo Grande após 11 dias internado. Ele foi alvo de atentado com 13 tiros, no dia 26 de junho de 2022, na Vila Moreninha III, sendo ferido por quatro deles.

A Santa Casa informou que a vítima passou por cirurgia para reconstrução da veia cava com veia safena. Apresentou uma broncoaspiração, evoluindo para uma parada cardiorrespiratória. O óbito foi constatado às 15h17.

O crime ocorreu por volta de 1h20 da madrugada do dia 26. Uma dupla de motocicleta passou em frente à casa do rapaz, na Rua Mururé, e disparou 13 vezes, atingindo-o com três tiros na região lombar e um em uma das pernas. Ele foi socorrido para o CRS (Centro Regional de Saúde) Moreninha e depois levado para a Santa Casa.

Testemunhas informaram que os autores são conhecidos como "Ryan" e "Amarelinho". O crime teria sido motivado por um desentendimento entre a dupla e a vítima dois dias antes do crime.

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