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Capital

Personagem da cidade, Paulinho do Radinho morre aos 61 anos

Ele estava intubado desde o dia 4 de abril após desmaiar durante crise de hipoglicemia

Alana Portela e Paula Maciulevicius Brasil | 31/05/2021 06:02
Paulo da Silva Baptista segurando seu famoso radinho. (Foto: Reprodução/Facebook)
Paulo da Silva Baptista segurando seu famoso radinho. (Foto: Reprodução/Facebook)

Aos 61 anos, Paulo da Silva Baptista o – Paulinho do Radinho – morreu neste domingo (30), em Campo Grande. Ele estava intubado desde o começo de abril no Hospital do Pênfigo, após sofrer um desmaio durante uma crise de hipoglicemia.

A morte foi confirmada pela irmã. Paulinho era diabético e convivia com a doença há seis anos.

Figura conhecida no Centro da Capital, há 23 anos ele esbanjava alegria dançando para animar as pessoas que passavam pelo cruzamento da rua 14 de Julho com a Avenida Afonso Pena.

Internação - A vida de Paulinho virou de ponta cabeça depois de desmaiar durante uma crise de hipoglicemia e ser encontrado desacordado no apartamento onde mora em Campo Grande. Ele foi levado para o Hospital El Kadri, onde pegou pneumonia, mas teve alta depois de 38 dias internado.

Após sair do hospital, ele foi para Jardim, 233 quilômetros de Campo Grande. Na cidade, ficou na casa da sua irmã Maria Olinda da Silva Baptista, contudo um dia depois de chegar no local, passou mal e desmaiou novamente durante outra crise de hipoglicemia.

Sem vaga no hospital da cidade, ele foi colocado numa UTI (Unidade de Terapia Intensiva) móvel e levado para o Hospital do Pênfigo de Campo Grande, onde foi intubado e contraiu pela segunda vez pneumonia.

Foto do Paulinho quando comemorou 15 anos de rua com o Lado B, em 2013. (Foto: Arquivo/Campo Grande News)
Foto do Paulinho quando comemorou 15 anos de rua com o Lado B, em 2013. (Foto: Arquivo/Campo Grande News)

Personagem – Paulo do Radinho, como era conhecido pelos campo-grandenses, era um "maluco beleza". Pelo menos era como costumava brincar sobre sua pessoa. "Sou maluco por felicidade, isso sim. Adoro Raul Seixas, toco direto no radinho", brincava ele sobre o rótulo.

Paulinho foi gestor de atividades culturais da FCMS (Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul), mas era dançando e cantando na Afonso Pena que fazia o que mais gostava. "Patrimônio cultural" de Campo Grande, sua figura transmitia felicidade, amor e inspiração por onde passava.

"O Paulinho não era um doido, como muita gente fala. Sempre foi  muito doce, atencioso. A pessoa que mais me convidava para ir ao cinema. Sempre tinha um comentário sobre filmes que a maioria não tem paciência para ver. Acompanhou o crescimento das minhas filhas a cada parada no semáforo. Sabe o nome, as idades... Um cara de coração gigante", diz Ângela Kempfer, diretora de jornalismo do Campo Grande News, mas aqui na condição de plateia e amiga de Paulinho.

Paulo teve um acidente três décadas atrás que o deixou 40 dias em coma, passou por um divórcio e, na sequência, veio o falecimento do seu pai. "Pra Dizer Adeus", dos Titãs, era a música que tocava para lembrar do seu "velho".

Paulinho fazendo uma das coisas que mais amava: tomar café no shopping. (Foto: Reprodução/Facebook)
Paulinho fazendo uma das coisas que mais amava: tomar café no shopping. (Foto: Reprodução/Facebook)

Mais recentemente, a pandemia o impossibilitou de fazer sua atividade diária que era andar pelo Centro e ir ao cinema. Mesmo assim, nunca abandonou o radinho de pilha nem o jeitão descontraído, sem medo de ser julgado.

Trajetória - Irmã, Maria que mora em Jardim, tem 62 anos, um ano a mais que o caçula dos três irmãos. Nascido em Uruguaiana, no Rio Grande do Sul, a família veio para Bela Vista, em Mato Grosso do Sul, quando Paulinho tinha 9 anos. Ao completar 14, ele se mudou para Campo Grande.

"A vida dele era Campo Grande, ele amava a cidade", diz a irmã, funcionária pública. Desde que a notícia do estado grave de Paulinho se espalhou, Maria passou a sentir o carinho que a Capital tem para com seu personagem mais querido. Ela quem repassava à imprensa e aos amigos o estado de saúde do irmão.

"Ser irmã do Paulo é uma coisa assim grandiosa, ele é o nosso tesouro. Até mesmo porque ele não tem maldade. Era uma pessoa de bom coração", diz.

O hobby do Paulinho, além do radinho, era ir ao cinema. Shopping entrava na sua lista de afazeres diários por prazer de ver um filme ou tomar um café.

Foto de Paulinho novo com seu radinho. (Foto: Arquivo Pessoal)
Foto de Paulinho novo com seu radinho. (Foto: Arquivo Pessoal)

Sobre o radinho, a irmã conta que foi quando ele voltou de Portugal, numa das andanças pelo mundo, que ele resolveu preencher seu espaço vago. "Ele viu as pessoas lá fazendo isso, e chegou dizendo que precisava preencher, acrescentar isso na vida dele. Começou a fazer isso, se identificou e não parou mais. Amava o que fazia", diz.

Sempre agradecido à vida por tudo o que tinha e o que também não tinha, Paulinho deixou lições.

"Como ele mesmo falava: viver a vida e ser feliz. Era o lema dele. O amanhã só a Deus pertence, e ele viveu intensamente sem se importar com o dia de amanhã sempre pensou assim. Aprendi tanta coisa com ele, entre elas a ter esperança, a tirar o pé do acelerador. Temos que viver muito, muito mesmo e intensamente. Amar muito, perdoar e respeitar. É isso aí", finaliza Maria.

No CTI - No dia 17 de abril, a irmã de Paulinho veio de Jardim à Capital e conseguiu entrar no CTI. Com a condição de não encostar no irmão, Maria entrou e muito emocionada disse: "meu irmão, você está lutando bravamente e pode estar confuso, mas não se prende mais aqui. Eu pedi isso, porque chega num determinado momento que você não quer mais ver a pessoa sofrer e eu não consigo ver o Paulo vegetando", contou ao Campo Grande News.

Dona Maria descreve que falou também que ficar numa cama não é vida para o irmão que era do mundo. "E parece mentira, mas eu chorei muito e falei que ia fazer um Pai Nosso pra ele. Ele mexeu um lado do ombro, deu uma leve mexida, sabe? Quando quer virar na cama? Aquilo me representou que ele me escutou".

Na Feira Central, em uma das visitas de Dona Maria e o marido a Campo Grande. (Foto: Arquivo Pessoal)
Na Feira Central, em uma das visitas de Dona Maria e o marido a Campo Grande. (Foto: Arquivo Pessoal)


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