Polícia apura se houve omissão de socorro à jovem que morreu após surto
Empresário que estava em motel com veterinária é tratado como testemunha por enquanto, mas pode ser responsabilizado
O delegado Ricardo Meirelles, da 3º DP (Delegacia de Polícia), quer saber se houve omissão de socorro por parte do empresário, de 30 anos, à médica veterinária, de 29 anos, que morreu na BR-262 depois de sair correndo de motel, em surto. Segundo testemunhas, ele tentou fazer a jovem entrar na caminhonete que conduzia, uma VW Amarok, mas, sem sucesso, arrancou com o veículo do local.
“Caso ela tivesse necessitando de cuidados e ele tenha negligenciado, pode configurar omissão de socorro”, explicou o responsável pela investigação.
A principal tese da polícia é que a moça tenha sofrido uma overdose de entorpecente, por causa dos sintomas - agitação extrema, confusão mental, pupilas dilatadas. As testemunhas, pelo menos três pessoas, relataram que a jovem saiu gritando do motel, localizado na saída para Três Lagoas, em Campo Grande. Ela rastejava no asfalto e espumava pela boca.
Equipe que foi ao quarto do estabelecimento onde os dois estavam encontrou vestígio de substância que parece ser cocaína. Não havia sinais de violência – o quarto estava arrumado, segundo relatou um dos integrantes do corpo de investigação à reportagem.
Meirelles explica que o empresário é tratado, por enquanto, como testemunha, mas que ele pode ser responsabilizado pela morte, se comprovada overdose como causa e houver prova de que o mesmo forneceu a droga para a veterinária.
“A morte aconteceu em condições suspeitas, mas precisamos de mais elementos para saber se envolve crimes”.
Como havia apurado o Campo Grande News, o delegado também recebeu a informação que um advogado esteve na Depac (Delegacia de Pronto Atendimento) do Centro na madrugada desta sexta-feira (17) e prometeu que o cliente se apresentaria para prestar esclarecimentos. Ele afirma que, contudo, não há nada marcado.
Meirelles foi até o motel nesta manhã para ver o quarto com os próprios olhos, conversar com funcionários, verificar se há imagens das câmeras de segurança. Ele afirma que o próximo passo é conversar com o médico legista para saber se evidências do consumo de drogas foram encontradas no corpo e aguardar os resultados de exames.
O responsável pela investigação disse que quer falar com o maior número de pessoas possível “envolvidas direta ou indiretamente no caso”. Ele quer saber “se os dois eram usuários eventuais ou dependentes químicos, qual tipo de relacionamento mantinham”.
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A morte – Segundo testemunhas, uma delas inclusive ouvida pela reportagem, a veterinária saiu correndo e gritando do motel por volta das 20h. Ela foi para o meio da rodovia e pessoas pararam para ajuda-la.
Uma dona de casa, de 34 anos, que preferiu não se identificar, conta que tentou conter a vítima. “Comecei a ouvir os gritos dela dentro do motel. Ela dizia que o homem iria matar ela e então ela saiu correndo para fora. Eu fiquei preocupada e vim tentar ajudar”, contou ao Campo Grande News na noite de ontem.
O empresário também teria tentado controlar a mulher antes de fugir. “Ele dizia que ela ia acabar com a vida dele, até que em determinado momento ele jogou as coisas dela na rua e foi embora”, completou a moradora.
Foi depois dessa confusão que a moça entrou entre o pneu e o eixo de um caminhão que estava parado no acostamento, próximo ao cruzamento com a Avenida Doutor Paulo Adolfo Bernardo, na região do Jardim Noroeste. O motorista do caminhão relatou à polícia que viu a jovem vindo em sua direção e conseguiu frear, evitando o atropelamento.
Quando as equipes de salvamento chegaram ao local ela já estava morta, debaixo do caminhão.
O empresário é filho de pecuarista muito conhecido em Mato Grosso do Sul. A reportagem tentou, sem sucesso, contato com ele, no celular pessoal e por meio de advogados.