Polícia desconfiou de Hugleice após analisar telefonemas e nervosismo
Amiga relata que Marielly perguntou sobre clínica de aborto, mas disse que não era para ela e sim uma amiga
Na segunda audiência do caso Marielly, realizada na tarde desta segunda-feira na 1ª Vara do Tribunal do Júri, em Campo Grande, das três testemunhas ouvidas, o investigador da Polícia Civil sustentou que as ligações para o celular de Marielly Barbosa Rodrigues, feitas pelo cunhado Hugleice da Silva e o nervosismo dele foi o que deram “norte” para a suspeita.
“Fizemos perguntas direcionadas em cima das ligações e ele entrou em contradição”, disse o policial. Do resultado da quebra de sigilo, além do telefone de Marielly, ficou evidente também a área de onde foram feitas algumas das ligações, em Sidrolândia. “Começamos a traçar um mapa e fomos ligando os pontos”, acrescentou.
Segundo a testemunha, o nervosismo de Hugleice já era percebido desde o início. “A Polícia já notou o nervoso dele desde os primeiros depoimentos e contradições foram percebidas no decorrer na investigação”, completou.
Amigas - As outras duas testemunhas ouvidas eram amigas de Marielly. A primeira afirmou que era colega da vítima, que se conheciam há algum tempo, cerca de três meses. Segundo relatou a testemunha, as duas pouco se viam. A conversa era mais através da internet, duas ou três vezes na semana.
Questionada sobre o “teor” do diálogo e se Marielly havia perguntado sobre uma clínica de aborto, a amiga confirmou. “A conversa começou normal, oi, oi tudo bem. Aí ela perguntou se eu sabia de alguma clínica. Eu disse que era crime, que ela era louca, mas ela disse que não era para ela e sim uma amiga. Eu não sabia e nem busquei conhecer quem era”, conta.
A jovem relata que não tinha muita intimidade com Marielly e por isso não a questionou sobre mais detalhes. Em relação ao namorado, ela responde que a vítima só falava de William. “Ela só falava do atual. Nunca comentou nada de Hugleice, não éramos tão íntimas a esse ponto”, explicou.
A outra testemunha ouvida na tarde desta segunda-feira, foi a jovem considerada melhor amiga de Marielly. Pela proximidade, a ela foi questionado a relação familiar da vítima com o cunhado Hugleice e a irmã Mayara Barbosa Rodrigues.
“A relação dela com Hugleice era de amizade, de convivência. Ela nunca fez nenhum tipo de comentário que pudesse levar a pensar que tivesse alguma coisa”, disse.
Amigas há cinco anos ela relatou também a última conversa que teve com Marielly. “Nos falamos por volta do meio-dia, duas horas da tarde, se íamos ou não na praça encontrar amigos. Ela disse que talvez fosse, mas não apareceu”.
“Mais tarde mandou mensagem dizendo que estava saindo com o namorado e que não era para falar nada. Depois ele me ligou perguntando se ela estava comigo. Eu achei que ele estava brincando, sendo irônico e respondi que sim. Aí ele pediu para falar com ela. Eu expliquei que ela não estava comigo e perguntei se ela realmente não estava com ele. Falei daqui a pouco te ligo, desliguei o telefone e quando fui ligar para ela, já não achei mais”, conta.
De acordo com esta amiga, Marielly nunca havia comentado de Hugleice e sobre o comportamento da família, ela alega que eram todos amigos.
“Era uma família unida, conversava sobre tudo. Nunca vi nada demais, era uma amizade. Em relação ao sobrinho, ela tinha um carinho todo especial”, comenta.
Questionada sobre a proximidade com a irmã de Marielly, a testemunha respondeu que também eram amigas e que nunca percebeu atritos entre as duas. Quanto ao fato de quem trabalhava na casa e se a amiga compartilhou alguma situação que desse a entender que Hugleice “comandava” a família, ela nega.
“Trabalhava a Eliana, a Marielly e o Hugleice, mas não tinha nada. Era uma família unida”, ressalta.
Em relação ao local de trabalho da vítima, a testemunha respondeu que não tinha muito conhecimento e que ouviu uma vez um comentário sobre o chefe. “Ela contou que ele teria tentado beijá-la e que ela quase quebrou uma garrafa na cabeça dele”, acrescenta.
Defesa - Para o advogado do enfermeiro acusado de ter praticado o aborto malsucedido, Jodimar Ximenes Gomes, a defesa de Hugleice vai seguir alegando inocência.
“Ele deixou claro que vai alegar que a confissão dele foi extrajudicial e vai caminhar pela inocência. Ele vai negar a autoria e vai mudar totalmente. Vai ser uma diferença muito grande daqui até o Tribunal do Juri”, destacou Davi de Moura Olindo.
Nos questionamentos às testemunhas, principalmente ao policial ouvido nesta segunda-feira, o advogado de Hugleice, José Roberto Rodrigues da Rosa pede para que ele indique provas que venham confirmar a participação do cliente na morte de Marielly, excluindo a confissão e ainda pergunta se Hugleice iria até a região de Sidrolândia, onde o corpo foi encontrado, por força do trabalho.
O policial responde “tínhamos a informação de que nesse dia ele comentou mesmo que estaria na região por trabalho”.
O advogado insiste e ainda pergunta “tem alguma testemunha que poderia reconhecer Hugleice nas cenas dos fatos”, indaga.
Em entrevista, José Roberto Rodrigues da Rosa diz que o investigador ouvido não acrescentou muito. “Ele não trouxe elementos objetivos que apontassem a autoria de Hugleice com segurança”.
Audiências - A audiência marcada para esta terça-feira foi cancelada. E a próxima, prevista para o dia 15 foi adiada, mas sem data definida. A irmã de Marielly que deveria ter comparecido nesta audiência não foi localizada no endereço de Campo Grande. Ela pode ser ouvida por carta precatória, já que está morando no interior de Mato Grosso.
Ainda serão ouvidas 15 testemunhas durante toda fase de audiências. Seis de acusação, seis da defesa de Hugleice, com duas em comum com a defesa de Jodimar e ainda mais quatro do enfermeiro.
Hugleice - Hugleice da Silva, cunhado de Marielly, compareceu à audiência. Com uns quilinhos a mais desde que ganhou liberdade, no dia 20 de setembro. Durante a fala das testemunhas ele se mostrava apático. Sem aliança e com um terço como pulseira no pulso esquerdo, não pareceu inquieto e estava de cabeça erguida.
Segundo o advogado, Hugleice está morando em Campo Grande, mas estuda uma transferência na empresa em que trabalha. Ele pode ser promovido a gerente em uma unidade fora de Mato Grosso do Sul.
Quanto ao casamento, o advogado disse que está estremecido, mas que o cliente ainda gosta muito de Mayara. “Ele está inconformado e ainda tenta retorno”, disse.