Polícia pede lista de médicos que atenderam bebê com hemofilia
O corpo do bebê morto durante tratamento para hemofilia no Hospital Regional de Mato Grosso do Sul foi exumado e inumado (enterrado novamente) nessa segunda-feira (30). Luiz Gustavo Barbosa, de apenas 9 meses, teve hematoma no pescoço depois que a equipe de enfermagem tentou, sem sucesso, acessar a veia jugular para aplicar medicamento. O exame necroscópico durou apenas algumas horas.
A Depca (Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente) investiga o caso. Cláudia Angélica Gerei, responsável pelo inquérito, disse que enviou ofício à unidade de saúde solicitando a lista dos médicos que atenderam a vítima. Ela aguarda resposta para intimar os profissionais a prestarem depoimento.
Parentes do bebê já foram ouvidos. O prontuário dele também foi anexado aos autos. No último domingo, família e amigos fizeram uma passeata partindo da rua Trindade até a Praça Ari Coelho cobrando justiça.
Mistério - Segundo a advogada da família, Viviane Lacerda Lopes, o hospital alega que o bebê não resistiu às complicações da doença. Entretanto, a certidão de óbito informa que ele teve compressão de vasos cervicais por hematoma.
Pai da vítima, Luís Pires Ferreira, 36 anos, conta que o menino fazia uso de uma substância conhecida como Fator FVIII para o tratamento da hemofilia. A doença é conhecia por disfunções que impedem o sangue de coagular.
Um dia antes do óbito, o bebê foi levado ao Regional para aplicação do remédio, mas a equipe não conseguiu localizar veia e o liberou. Em casa, durante a noite, marca roxa começou a aparecer no pescoço. No dia seguinte, foi levado novamente à unidade.
“Eu estava no trabalho e minha esposa ligou para mim desesperada. Levamos ele ao hospital. A médica de plantão disse que não podia fazer nada porque não era a médica dele. Quando a doutora chegou, já era tarde demais. Era o último suspiro dele [filho]. Foi para a UTI, mas não resistiu”, relata.
“Nós suspeitamos que a morte tenha sido causada por falta de oxigenação. A informação da certidão foi divergível ao que disse a mãe”, comentou a advogada da família.
O atestado também cita hemorragia pulmonar, edema agudo de pulmão, hemofilia, anemia e alargamento de TTPA. Os pais pedem a investigação do caso, já que Luiz Gustavo viveria uma vida normal caso continuasse com a tomar a medicação duas vezes na semana.
Viviane explicou que a autópsia não foi feita no momento da morte porque a mãe não autorizou o procedimento, pois, para ela, o bebê tinha morrido de causas naturais.
O MPE (Ministério Público do Estado do Mato Grosso do Sul) também pediu a exumação do corpo do bebê da “forma mais rápida possível”.
Apuração - O Hospital Regional abriu sindicância para apurar o caso. Na manhã de quarta-feira (18), a família de Luiz registrou um boletim de ocorrência e recorreu à Associação de Vítimas de Erros Médicos do Estado alegando ter havido negligência por parte da equipe que atendeu o paciente.
Conforme a assessoria de comunicação do HR, o objetivo da apuração interna é verificar a conduta dos profissionais durante o atendimento prestado ao bebê. Uma equipe da administração vai fazer um levantamento desde a entrada dele no hospital até a saída, já em óbito. Os enfermeiros e os pais da criança serão ouvidos.