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Coliseu: mito e realidade dos gladiadores e dos cristãos

Por Mário Sérgio Lorenzetto | 18/11/2024 08:50
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Acaba de estrear o novo filme de Ridley Scott tratando da vida e morte dos gladiadores. É fundamental entender que é um espetáculo que merece ser desfrutado, mas para aprender história é preciso ler livros. Scott não tem a obrigação de ser completamente fiel à história para contar sua história. O rigor histórico tem de estar nos livros.


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O “Livro dos Espetáculos” de Marcial contam o Coliseu.

Marco Valerio Marcial assistiu nos anos 80 depois de Cristo a um dos momentos mais memoráveis e brutais do Império Romano: a inauguração, sob o imperador Tito, do Anfiteatro Flávio, o que hoje conhecemos com Coliseu de Roma. Diz esse poeta que os primeiros “jogos” foram prolongados durante 100 dias em um edifício para 45.000 espectadores. Marcial narra as lutas entre animais - um rinoceronte contra um urso, um imenso touro contra um elefante. Descreve uma batalha naval no Coliseu: “com barcos e ondas semelhantes às dos mares”. E também relata um combate entre os dois mais famosos gladiadores dessa época: Prisco contra Vero. O final é insólito, os dois foram declarados vencedores depois de um enfrentamento selvagem. Diz que o imperador obedeceu sua própria lei - combater sem escudos até levantar o dedo. Marcial não está se referindo ao polegar, para cima ou para baixo, do imperador, e sim do gladiador, para reconhecer sua derrota, quando devia levantar um dedo qualquer. Ler Marcial nos leva àqueles tempos.


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A imensa cidade multicultural.

As grandes partidas de futebol reúnem na atualidade a pessoas de todo o planeta em torno de um só espetáculo. Ocorria o mesmo há vinte séculos na antiga Roma, uma cidade multicultural com um milhão de habitantes - nenhuma outra cidade ocidental conseguiu alcançar essa população até Londres no distante século XIX. Em Roma, confluíam povos, línguas e religiões do imenso Império. Todos aqueles que adoram o Império Romano e, no polo contrário, rechaçam a multiculturalidade que define a sociedade atual deveriam ler um pouco mais os clássicos.


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Havia regras.

Ao contrário do que o cinema mostra, os combates entre gladiadores eram cruéis e selvagens, mas não era um açougue humano. Era um espetáculo com regras em que o público desfrutava da técnica dos combatentes e apoiava os lutadores preferidos. Havia sangue, mas não era o ponto mais importante desses jogos. Não cortavam cabeças e nem seccionavam braços e pernas. Quanto às execuções dos condenados pelos animais, os romanos não tinham problema algum com isso, posto que não havia apreço algum pelos condenados, que deviam sofrer seus “justo” castigo. Eram mais bárbaros que nós? Basta lembrar das execuções publicas dos condenados nos Estados Unidos e na Arábia Saudita para termos a merecida resposta.


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Pão e circo.

Foi Juvenal, poeta contemporâneo de Marcial, quem escreveu em suas “Sátiras”, a célebre expressão “Panem et circenses”, pão e circo, para resumir o estado de um povo narcotizado pelos espetáculos. Existe alguma dúvida da atualidade dessa ideia? O Coliseu escondia o valor mais importante para as elites romanas: o poder e o controle do povo. Não se pode esquecer que o Coliseu era um teatro politico. As pessoas iam até ele com suas melhores roupas e seguiam uma estrita ordem hierárquica: os senadores nas primeiras filas, as mulheres e os escravos no fundo. O imperador tinha seu palco exclusivo. Na arena só iam os combatentes, os despossuídos, os estrangeiros e os condenados por crimes brutais.


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Zero cristãos e gladiadores com cuidados médicos.

Não ocorreu a morte de um só cristão no Coliseu de Roma. É bem provável que tenha ocorrido tais mortes nas arenas de Lyon, na atual França, e no norte da África, talvez em Cartago. A “danatio ad bestias” era uma pena habitual, que fazia parte dos espetáculos matinais que eram oferecidos antes dos combates entre gladiadores, que eram vespertinos. Consistia em colocar feras frente a condenados. Também ocorriam crucificações para animar a assistir o espetáculo principal que era só de gladiadores. O Coliseu foi, durante um curto espaço de tempo, um símbolo cristão por encarnar a valentia deles frente às perseguições e não por suas mortes. Por último, graças aos esqueletos de gladiadores encontrados em Éfeso, na atual Turquia, sabemos que eles recebiam cuidados médicos e eram bem alimentados.

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