Presidente de ONG ‘sem teto’ some para não ter de dar explicações
Morhar é responsável por construção de casas para removidos da Cidade de Deus, mas abandonou obra em assentamento
Não bastasse o mistério sobre onde funciona a Morhar Organização Social, o presidente da entidade, Rodrigo da Silva Lopes, “desapareceu”. A ONG (Organização Não-governamental) recebeu R$ 3,6 milhões para comandar o “mutirão assistido” da Prefeitura de Campo Grande para a construção de casas destinadas aos removidos da favela Cidade de Deus.
Desde que ele foi questionado sobre porque a entidade abandonou, em 2013, a construção de casas no assentamento Vale do Sol, localizado a 20 km do perímetro urbano de Campo Grande, ele não atende mais as ligações da reportagem.
Rodrigo atendeu ao telefone na manhã de quarta-feira (6) e disse que se pronunciaria por meio de nota sobre a falta de uma sede e também a respeito da obra inacabada. No início da noite do mesmo dia, o Campo Grande News conseguiu contato com ele novamente e o presidente informou que enviaria um e-mail com o posicionamento da Morhar em seguida. A nota não chegou e o representante da ONG passou a ignorar os contatos feitos pela equipe.
Sob suspeita – A credibilidade da entidade foi colocada “em xeque” pela primeira vez pelo vereador Mario Cesar (PMDB), durante pronunciamento na tribuna. Desde então, várias situações suspeitas a respeito da ONG vem sendo levantadas.
Na quarta-feira, a reportagem consultou endereços e telefones disponíveis pelo Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica e na internet, mas não conseguiu localizar a sede da ONG. Na consulta ao CNPJ, disponibilizada pela Receita Federal, consta que a organização foi aberta em 14 de setembro de 2011 e funciona na rua Dr. Antônio Alves Arantes, 429, no bairro Chácara Cachoeira, em Campo Grande.
Mas, conforme funcionários de outros escritórios do condomínio comercial, a Morhar deixou o local há um ano e meio.
No contrato assinado entre a empresa e moradores do assentamento Vale do Sol em 2012, há outro endereço – na Vila Planalto –, mas nem se a entidade ainda funciona no local, o presidente quis confirmar.
Investigada – A ONG é alvo de investigação do MPF (Ministério Público Federal). O inquérito foi aberto em 2014 e, segundo a assessoria de imprensa, a Procuradoria da República em Mato Grosso do Sul acompanha a evolução da obra junto com a Caixa Econômica Federal, que constatou a paralisação. O MPF, entretanto, não informou que providências vai tomar a respeito do abandono das construções.
Em 2012, a Morhar iniciou a construção de 42 casas no assentamento Vale do Sol. Cada uma delas custaria R$ 28,5 mil às famílias donas dos lotes, que já até pagaram a primeira parcela, de R$ 285, pela obra.
Mas, de acordo com a presidente do assentamento Vilma da Silva, 40, das 42 casas, três foram terminadas pela Morhar, 31 ficaram sem acabamento e oito só no alicerce.