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Capital

Procura por clube de tiro continua “boa”, enquanto registro de CACs “capenga”

Donos de clubes de tiro e despachantes bélicos falam sobre decreto presidencial e seus efeitos no mercado

Por Jéssica Fernandes | 12/01/2025 07:18
Procura por clube de tiro continua “boa”, enquanto registro de CACs “capenga”
Atirador desportivo manuseia arma de fogo em clube de tiro da Capital. (Foto: Henrique Kawaminami/ Arquivo Campo Grande News)

Na retomada das atividades em 2025, clubes de tiros de Campo Grande estão dando os primeiros passos para se adequar ao decreto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que altera as regras para entidades e tiro desportivo, aquisição, posse, porte, registro, cadastro e comercialização de armas de fogo e outros procedimentos. No caso das entidades de tiro, o prazo para se adaptar é até março deste ano.

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Em 2025, clubes de tiro em Campo Grande estão se adaptando a um novo decreto que impõe regras mais rigorosas sobre segurança e controle, incluindo a instalação de sistemas de videomonitoramento e a exigência de que atiradores comprovem sua habitualidade com a prática. O clube "Tiro Certo" já implementou um sistema digital para monitorar a presença dos atiradores, que agora deve ser registrada por biometria e reconhecimento facial. O decreto também limita a prática de tiro entre 18h e 22h, o que impacta as competições e o treinamento dos atletas. Apesar das restrições, a demanda por atividades de tiro continua alta, especialmente entre mulheres, refletindo um mercado em crescimento, embora o setor enfrente desafios administrativos e burocráticos devido a sistemas ineficientes na Polícia Federal.

Uma pesquisa rápida, feita na internet, mostra que Campo Grande tem pelo menos 11 clubes ativos e espalhados em diferentes regiões, sendo alguns em zona rural. A reportagem solicitou dados oficiais com a PF (Polícia Federal), mas não obteve retorno até o fechamento da matéria.

Entre as entidades ativas está o “Clube de tiro, tiro certo” que já está se adaptando às novas exigências do decreto. Vice-presidente do clube, Orlando Benites, comenta que as novas medidas não afetaram tanto o estabelecimento que já cumpria com outros requisitos que agora são obrigatórios.

“A nossa instituição, de área de tiro, estante e até as lojas de armamento, com essa virada de ano, ainda está retomando as atividades. Com o novo decreto, o clube de tiro já está preparado para atender, as exigências foram mínimas”, pontua.

O decreto publicado em dezembro de 2024 determina que entidades de tiro desportivo devem cumprir exigências mais rigorosas de segurança, controle e fiscalização, como a instalação de sistemas de videomonitoramento, a realização de análises de risco e a criação de planos de segurança.

Orlando explica que a entidade está implantando um sistema digital para controlar a habitualidade dos atiradores esportivos. A presença deles, antes feita apenas por anotação, será realizada através de sistema de biometria e reconhecimento facial.

Esse ponto vai de encontro com o que a medida do decreto que trata sobre o controle informatizado de entrada e saída de usuários, funcionários e prestadores de serviço. “A exigência pelo decreto é que o atirador esportivo tem que ter 8 habitualidade por ano, ele tem que comprovar que foi assíduo, que está treinando no clube”, completa o vice-presidente.

Além dessa regra, o clube também já se adaptou a outra que limita a prática de tiro desportivo das 18h às 22h. Fora desse período, apenas instruções teóricas são liberadas. Como o stand não fica próximo de escolas, o mesmo não precisará passar por mudança de local. Isso porque o decreto 12.345 determinou que novos clubes de tiro só podem ser instalados a mais de 1 quilômetro de distância das escolas.

Apesar dessas questões, até as que envolvem a restrição da prática de tiro, Orlando garante que a procura dos atiradores esportivos continua boa, principalmente, por parte do público feminino.

“A procura continua muito boa, o mercado está aquecendo e vemos que as mulheres estão se tornando mais independentes. O nosso stand é preparado até com as regras básicas de acessibilidade que poucos em Campo Grande tem”, pontua.

Atualmente, o clube tem cerca de 200 associados que pagam taxa de anuidade para frequentar o espaço por 12 meses.

Procura por clube de tiro continua “boa”, enquanto registro de CACs “capenga”
Pelo decreto, prática de tiro só pode ocorrer das 18h às 22h. (Foto: Divulgação)

Despachante bélico - Profissional que administra a parte burocrática e administrativa do registro, licenciamento e controle de armas de fogo e munições, o despachante bélico é mais uma categoria que faz parte desse mercado. Em Campo Grande, Mara Nantes, atua na área há 11 anos, atendendo clientes da Capital, interior do Estado e outros estados.

Com uma carteira de clientes que chega a 7 mil, sendo que em média 300 novos são fidelizados anualmente, Mara comenta que o mercado já foi melhor. “A demanda é de 10% do que atendíamos, tivemos uma queda”, esclarece.

Diante disso, a procuradora bélica fala que atualmente o foco é manter os clientes que o escritório já tem. “Hoje estamos capengando comparado ao que trabalhamos no passado. Hoje o escritório está voltando para cuidar dos clientes que já temos, do processo, para que ele se mantenha. Nosso escritório está voltando para esse cuidado do que a busca de novos”, completa.

Outro problema, conforme Mara, é o próprio sistema da junta militar por onde é solicitado o certificado de CAC (Caçador, Atirador e Colecionador). O sistema da Polícia Federal, que é responsável por conceder o porte/posse e o Craf (Certificado de Registro de Arma de Fogo), também tem deixado o processo mais demorado.

“O sistema não funciona, nós não conseguimos lançar a proposta dentro do sistema e finalizar o processo do cliente. Por exemplo, um cliente com a guia vencida não pode competir, tivemos clientes no final do ano que não conseguiram completar a habitualidade dele”, diz

Ao falar sobre o decreto, a despachante opina que os maiores implicados são os clubes de tiro e também os competidores, já que algumas medidas colocam entraves na realização de aulas e competições.

As medidas, ainda que indiretamente, também afetam o trabalho do despachante. “O governo faz um decreto para melhorar, mas de qualquer forma vai minando a gente e isso reflete no despachante de alguma forma”, destaca.

Procura por clube de tiro continua “boa”, enquanto registro de CACs “capenga”
Mulher participa de Campeonato Brasileiro de Tiro, etapa de 2018. (Foto: Alexis Prappas)

Como fica pro atleta desportivo? - O novo decreto do presidente Lula criou a figura do atirador de alto rendimento. Esses atletas, registrados em Confederações ou Ligas Nacionais, terão a possibilidade de adquirir até 16 armas e de aumentar sua cota anual de munições em 20%, desde que comprovadamente necessárias para suas atividades.

Grupo à parte daqueles que realizam a prática de tiro sem viés competitivo ou que pedem registro de posse e porte de armas de fogo apenas para defesa pessoal, os atletas acabam “sofrendo” as reveses do decreto.

O presidente da Federação de Tiro de Mato Grosso do Sul, Wagner Higa, diz que essa categoria é uma das principais afetadas pelas novas exigências.  “Temos atletas que dependem de treinamento, que treinam oito horas por dia, como eles vão conseguir treinar?! Esse decreto traz a figura do atleta de alto rendimento, mas em contrapartida o limita nesse tocante”, frisa

Essa limitação, conforme explica o presidente, se dá devido a restrição da prática de tiro das 18h às 22h nos clubes. A medida consequentemente impacta as competições que terão horário restrito a partir de agora. “Tem algumas provas que começamos na quarta para facilitar o acesso e iremos até domingo. Com as regras, limita isso, teríamos que ter no sábado e domingo”, declara.

Fevereiro é o mês que dá início as competições, que no Estado precisam do aval da federação. Neste mês, Wagner já está ajustando o calendário das atividades para que elas sigam ocorrendo.

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