Procurados, faccionados e “resistência à polícia”: o ano dos mortos em confronto
Foram 9 mortos em confronto com policiais, 4 deles somente em maio, o que seria coincidência, segundo Choque
Washington Luiz de Souza Ramai, Robert Mateus Rodrigues Anastácio, Gustavo Silva dos Santos, Guilherme Souza Camargo, Erli Alves da Silva, Claudinei de Oliveira, José Martins Macedo e Clayton Pereira de Lima. Ao total, as mortes de nove pessoas durante conflitos com a Polícia Militar na Capital foram noticiadas pelo Campo Grande News em 2021.
Espalhados por nove bairros da cidade, os casos foram registrados no Jardim Noroeste, Santo Amaro, Piratininga, Guanandi II, Amambai, Vida Nova, Santa Emília, Tijuca e Chácara Cachoeira. Sem ter sido na Capital, a história de um nono confronto começou no Bairro Santa Emília e terminou em Terenos.
Em comentários nas redes sociais, as mortes foram comemoradas diversas vezes através do termo "CPF cancelado". A expressão costuma ser utilizada após pessoas serem mortas durante ocorrências com a polícia.
Listagem - A primeira morte foi registrada em março, durante confronto com equipe do Batalhão de Choque da Polícia Militar. Conforme registro policial, Washington, aos 33 anos, morreu na noite do dia 13 de março, um sábado. Sobre a dinâmica das mortes seguintes, todas se assemelham à do primeiro registro.
Descrição da ocorrência fornecida pela polícia é de que durante rondas no Jardim Canguru, o Choque localizou um suspeito de atirar em major aposentado do Exército durante uma tentativa de assalto também neste ano.
Identificado apenas como Bruno, o suspeito contou que Washington teria atirado no major durante a tentativa de assalto. Ainda de acordo com o registro, o homem foi encontrado em sua casa no Jardim Noroeste e teria recebido os policiais com um revólver calibre 38.
Após não obedecer às ordens dos policiais para soltar a arma, Washington foi atingido na região torácica. Mesmo sendo levado para a Santa Casa, ele não resistiu e morreu.
Quatro em uma semana - Dois meses depois de Washington, quatro homens foram mortos pelo Choque no período de uma semana em maio, fato que teria sido considerado coincidência pela polícia. Primeiro do mês, Robert Mateus Rodrigues Anastácio morreu aos 19 anos.
De acordo com o comandante do Choque, major Rigoberto Rocha, Robert estava na mira da polícia tempos antes do confronto devido a mais de 25 passagens.
Conhecido como “Mateus da Hortência”, o jovem morreu durante troca de tiros com a polícia no bairro Santo Amaro, conforme informado pelos militares. Segundo registro, ele havia fugido depois de ser flagrado durante furto em residência no Caiobá.
A dinâmica narrada pelos policiais foi de que Robert estava escondido em uma vila de kitinets no dia 19 de maio, onde morava com a ex-companheira, mãe de seu filho. No local, os policiais teriam encontrado a porta da casa aberta e, assim que entraram, foram surpreendidos com tiros.
Em seguida, os militares atingiram Robert com um tiro. Assim como Washington, ele também foi levado para a Santa Casa e não resistiu. No local, foram recolhidos seis cartuchos e um revólver calibre 32.
Dois dias depois de Robert, Gustavo Silva dos Santos, de 23 anos, e Guilherme Souza Camargo, de 28 anos, passaram a integrar a listagem de mortos pelo Choque. O relato do PM é de que ambos eram procurados desde maio, quando fizeram uma mulher de 44 anos e o neto reféns para roubar uma caminhonete.
Ainda conforme a Polícia Militar, Gustavo e Guilherme faziam parte da quadrilha liderada por Márcia Paschoala Espírito Santo, conhecida como “Madrinha do PCC”. Sobre o conflito que resultou na morte dos dois, o Choque explicou que ambos foram flagrados durante assalto na Vila Piratininga.
Após serem perseguidos, os dois teriam tentado reagir e foram atingidos pelos policiais. Enquanto o primeiro morreu no Bairro Piratininga, o segundo conseguiu seguir até o Guanandi II e chegou a ser socorrido, mas não sobreviveu.
Com eles, foram apreendidas duas armas, sendo um revólver Taurus e outro calibre 38.
Último morto do mês, Erli Alves da Silva, de 27 anos, foi atingido por três tiros de fuzil no dia 25. O homem estava em liberdade condicional devido a um assalto cometido em 2015.
De acordo com informações do Choque, Erli foi alvejado enquanto tentava fugir dos policiais no Bairro Amambaí. Ele e outros dois homens haviam assaltado dois estabelecimentos na região e, enquanto os outros dois suspeitos não reagiram, Erli disparou contra os policiais. Com ele, foi apreendido um revólver calibre 38, encerrando o mês de maio.
Campo Grande/Terenos - Sem entrar na listagem dos conflitos em Campo Grande, a história final de Eryckson Catani da Silva, de 31 anos, começou no Bairro Santa Emília. O homem havia fugido após ameaçar, amarrar e assaltar um motorista de aplicativo.
Eryckson foi encontrado pela Polícia Militar na BR-262, entrada de Terenos, e tentou fugir durante a abordagem. De acordo com os militares, tiros foram disparados em direção ao carro para interromper a fuga.
Ainda conforme relato do Choque, ele desembarcou do veículo já disparando contra os policiais e, por isso, foi atingido pelos militares. Eryckson, que possuía passagem por tráfico de drogas, chegou a ser socorrido, mas não sobreviveu.
Novembro e dezembro – Durante os últimos dois meses do ano, quatro homens tiveram o mesmo fim. Em novembro, Claudinei de Oliveira, de 33 anos morreu no Jardim Vida Nova após ser baleado.
Durante a noite do dia 25, equipes da polícia estavam investigando denúncia sobre um casal que estava sendo “julgado” em tribunal do crime do PCC (Primeiro Comando da Capital). De acordo com o Choque, Claudinei foi encontrado no lugar, ao lado do casal que estava amarrado no chão e outros dois homens.
Após ver a polícia, Claudinei teria sacado a arma da cintura e, tentando fugir, atirou contra a equipe. Em sequência, ele foi atingido pelos policiais e morreu na Santa Casa.
José Martins Macedo, de 19 anos, morreu no dia nove de dezembro. De acordo com registro, ele estava envolvido em planejamento de ataques contra servidores da segurança pública.
Ao chegar na casa de José, os militares teriam pedido para ele abrir a porta, enquanto ele disse “polícia é o c******, se entrar vai tomar” e dado tiros dentro do local. Os policiais entraram na residência e dispararam tiros contra o homem.
Com ele, foram encontradas uma submetralhadora modelo ZK 383, calibre 9mm com um carregador, uma escopeta calibre 12 e uma pistola 9mm com carregador, além da arma que usava no momento da abordagem, que foi identificada como pistola calibre 9mm e estava com sete munições intactas.
Envolvido na penúltima ocorrência do ano, Cleyton Pereira de Lima morreu na madrugada do dia 11 de dezembro após roubar uma Fiat Strada da Solurb, empresa concessionária do serviço de limpeza da Capital. Equipe do Batalhão de Choque conseguiu rastrear Cleyton até sua casa no Jardim Tijuca Tijuca.
No local, ele foi alvejado após dar um tiro contra os militares e, assim como nos outros casos, um revólver foi apreendido.
Finalizando a lista, homem conhecido como Balbino Baiano, de 36 anos, foi morto na BR-163 após roubar um carro no bairro Chácara Cachoeira no dia 30 de dezembro. De acordo com informações apuradas pelo Campo Grande News. Acompanhado de um adolescente, o homem tentava fugir quando foi interceptado por policiais militares.
Balbino teria disparado contra os militares e, por isso, foi atingido por disparos dos policiais. Mesmo sendo socorrido, ele não resistiu e morreu na Capital.