Protesto na UFMS pede demissão definitiva de docente condenado por estupro
Professor de biologia da instituição continuou ministrando aulas por nove anos, mesmo após ser denunciado
Estudantes da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) se reuniram em frente à Reitoria para pedir a exoneração de um professor de biologia condenado por estupro. Atualmente, ele está afastado, e a universidade abriu uma Comissão de Processo Administrativo Disciplinar.
A manifestação reuniu cerca de 40 alunos, que, com gritos de ordem, exigiram a demissão do docente. Em vídeo enviado ao Campo Grande News, é possível ouvir os estudantes dizendo: "UFMS, vê se escuta, quem estupra não educa" e "Estuprador eu não aceito, cadê a campanha Eu Respeito?".
O professor do Inbio (Instituto de Biociências) da UFMS continuou ministrando aulas por nove anos, mesmo após ser denunciado por estupro contra uma aluna da instituição. A bióloga, que pediu para não ser identificada, tem 30 anos e relatou que estudava na universidade quando o crime aconteceu.
Ela afirmou não poder dar detalhes do caso, mas disse que, na época, as alunas não tinham "muita força" para agir. "Não tínhamos tanto entendimento do que é assédio ou estupro. Durante todo esse tempo, vimos o sofrimento das colegas. Essa decisão dá um gostinho de justiça, mas ainda há impunidade. Nenhum julgamento paga o que ele fez", declarou.
Quando o caso veio à tona, em 2016, a bióloga foi uma das criadoras de uma hashtag que incentivou outras estudantes a relatarem casos de assédio na universidade.
Outra estudante, de 21 anos, também pediu para não ser identificada por medo de represálias dentro da instituição. Ela contou que os alunos se reuniram para denunciar o crime ocorrido há quase dez anos. "Era aquela coisa de que todo mundo sabia, mas ninguém falava. Hoje estamos aqui para levantar a nossa voz. Existem milhares de denúncias na ouvidoria. É bonito fazer campanhas, mas será que as alunas se sentem seguras em sala de aula? Eu, como estudante e pessoa trans, não me sinto segura", afirmou.
Outra jovem, de 20 anos, reforçou que a luta não é apenas por esse caso específico. "É pela opressão sistêmica que as mulheres sofrem nas salas de aula", disse.
Para ela, o afastamento do professor não é suficiente. "O caso ainda não está resolvido. Ele pode recorrer e tentar voltar a dar aula. Queremos a demissão dele. Lutamos para conquistar um espaço aqui e agora temos que lidar com mais um obstáculo: a presença de alguém que violou o corpo de outra pessoa em sala de aula", desabafou.
O caso - O crime ocorreu em 2016, quando a vítima tinha 22 anos. Durante uma festa em uma república estudantil, onde os jovens ingeriram bebidas alcoólicas, o professor já havia passado as mãos pelo corpo da aluna.
Em determinado momento, a jovem foi para um quarto dormir. Segundo a denúncia, o docente a seguiu. Pouco depois, amigas da vítima desconfiaram da ausência dela e foram procurá-la, mas encontraram a porta trancada. Elas tentaram forçar a entrada, e, instantes depois, o professor destravou a fechadura e saiu do cômodo.
A jovem foi encontrada nua, desorientada e chorando. No dia seguinte, o professor a procurou e pediu que tomasse a pílula do dia seguinte. Incentivada pelas amigas, a acadêmica denunciou o caso à direção da UFMS, mas, até esta semana, a universidade não havia tomado nenhuma medida.
O docente foi condenado a oito anos de prisão em regime semiaberto e terá que pagar R$ 30 mil à vítima por danos morais. Como a decisão é de primeira instância, ele ainda pode recorrer.
O Campo Grande News solicitou um posicionamento à UFMS, que enviou uma nota publicada no dia 12 deste mês. Confira a nota na integra:
"A reitora Camila Ítavo, mediante sentença proferida pela Justiça Estadual, determinou hoje o afastamento preventivo de professor lotado no Instituto de Biociências e constituiu Comissão de Processo Administrativo Disciplinar para a completa apuração de responsabilidade do servidor, sob supervisão da Corregedoria da UFMS. A decisão se baseia no parecer da Procuradoria Federal da UFMS, exarado na data de hoje, 12 de março, e revisa o ato administrativo de agosto de 2016 que havia definido pela não apuração dos fatos pela UFMS à época".
(*) Matéria editada às 17h48 para acréscimo de nota.
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