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Capital

Quadrilha transforma cheque de R$ 200 em um de R$ 98 mil e consegue sacar

Alberto Dias e Amanda Bogo | 30/12/2016 11:28
 Allan, Eraldo e Júlio foram apresentados pelo Garras nesta sexta-feira (Foto: Amanda Bogo)
Allan, Eraldo e Júlio foram apresentados pelo Garras nesta sexta-feira (Foto: Amanda Bogo)

Quadrilha de estelionatários presa em Campo Grande adulterou uma lâmina de cheque, mudando o valor de R$ 200 para R$ 98 mil - quase 500 vezes mais. Para conseguir essa e outras façanhas semelhantes, o esquema organizado envolveu contatos em bancos, empresas de telefonia e laranjas que emprestaram contas correntes para receber as quantias desviadas.

O cheque era de um posto de gasolina, não revelado pela polícia, e foi depositado e compensado em uma unidade da cooperativa Sicredi. Os quase R$ 100 mil entraram na conta corrente do cooperado Tales Gonçaves Oliveira, de 30 anos, que pulverizou o valor para outras duas contas, incluindo a de sua esposa, Eliane Dias Sousa, 40 anos, que recebeu R$ 30 mil.

Outros R$ 60 mil foram para a conta de Allan Cleyton de Souza Ferreira, de 24 anos, e R$ 8 mil permaneceram com Tales.


Concluídas as transferências, ou melhor, as divisões, começaram então os saques. Conforme eles, tais contas seriam para receber o dinheiro da quadrilha e teriam direito a apenas 10% dos valores. Tales sacou os R$ 8 mil que restaram em sua conta, enquanto sua esposa tirou R$ 10 mil dos R$ 30 mil creditados. Já Allan, conseguiu sacar R$ 40 mil dos R$ 60 mil recebidos. Até serem pegos em flagrante, conseguiram "sumir", com R$ 58 mil.

Apenas R$ 600 foram recuperados até o momento. Ao identificar a fraude, o banco tratou de bloquear os R$ 40 mil restantes e logo avisou a polícia, que deu início às investigações.

Na manhã de quarta-feira (28) cinco pessoas, incluindo o chefe da quadrilha e os três que receberam as quantias, foram presas pelo Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubo a Banco e Resgate a Assaltos e Sequestros).

O esquema era complexo e o boletim de ocorrência foi registrado em 23 de dezembro.

Funcionava assim: Eraldo Balbino Silva, de 38 anos, conhecido por "Tio", coordenava tudo em sua residência, no bairro Coophatrabalho, onde adulterava cheques e outros documentos. No local foram apreendidas seis impressoras, um notebook, um pen drive com software para realizar a fraude, além de várias lâminas de cheques preenchidas e também em branco e, ainda, carteiras de identidade, aparentemente falsas.

Ele foi preso em flagrante em sua residência, avaliada em R$ 450 mil, suspeita de ser fruto de dinheiro ilícito. Eraldo já é conhecido da polícia e possui antecedentes por roubo e estelionato. Para manter o sigilo, as contas de água e energia elétrica da casa não estavam em seu nome.

Ligado diretamente a Eraldo, havia alguém responsável por abordar e convencer pessoas a emprestarem suas contas correntes para receberem as quantias, em troca de um percentual. Esta função era cumprida por Júlio Emerson Barbosa, de 33 anos, detido também na quarta-feira (28), no salão de beleza em que trabalhava.

Já o casal que recebeu o depósito reside nas Moreninhas, não possuía antecedentes e foi liberado esta manhã após pagar fiança no valor de três salários mínimos. O chefe de família (Tales) que recebeu os R$ 98 mil iniciais, atuava como instalador de antenas e foi preso em seu local de trabalho, na avenida Júlio de Castilho.

Infiltrados -  Para conseguir que o banco autorizasse saques de valores tão altos havia ainda outras artimanhas. Pessoas infiltradas em empresas de telefonia, não identificadas, instalavam um tipo de aplicativo chamado "Siga-me" que desviava as ligações. "No momento que o gerente da conta corrente da vítima entrasse em contato para autorizar o pagamento, a ligação caía no celular da quadrilha e eles autorizavam". Dentro do banco, outros coligados informavam saldos e possíveis vítimas. 

O caso foi encaminhado para a Dedfaz (Delegacia Especializada de Repressão a Crimes de Defraudações e Falsificações), que dará continuidade às investigações e irá apurar, ainda, outro golpe aplicado pela quadrilha neste ano, no valor de R$ 49 mil. Conforme a polícia, a pena para os acusados de compor organização criminosa pode chegar a oito anos de reclusão.

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