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Capital

“Quando ele saiu de casa, senti que não voltaria”, diz mãe de vítima do PCC

Bruno Schon Pacheco, de 28 anos, foi morto em julho de 2019 por dívida com facção criminosa

Ana Lívia Tavares | 20/10/2021 13:44
Mãe de Bruno Pacheco revela ainda temer facção. (Foto: Ana Lívia Tavares)
Mãe de Bruno Pacheco revela ainda temer facção. (Foto: Ana Lívia Tavares)

Bruno Schon Pacheco, 28 anos, representa um dos poucos casos em que o julgamento de um jovem assassinado no chamado “tribunal do crime” conta com a presença dos pais da vítima. Sentados na plateia da 2ª Vara do Tribunal do Júri, Wilde Pacheco, 52 anos, e a esposa, de 47 anos, aguardam o desenrolar de uma história que começou quando o filho se envolveu com as drogas.

Conhecido como "Neblina”, o rapaz de 28 anos, segundo familiares, teve boas oportunidades na vida. Filho único, morava com os pais - casados há 20 anos. Frequentou escolas particulares, cursos e tinha a rotina comum de um adolescente. A mudança no comportamento de Bruno começou aos 13 anos, quando ele teve contato com as drogas.

“O que mais me doeu, além de perder meu filho, foi a maneira como passaram a imagem do Bruno depois do assassinato. Porque ele não é do crime, sempre teve educação, estudou em escola particular, mas com 12 para 13 anos começou a ter problemas com drogas”, contou o pai da vítima a reportagem do Campo Grande News.

O jovem chegou a ser internado pelos pais em clínicas particulares de reabilitação, na Capital e até fora do estado, mais de uma vez. “Internamos em três clínicas em Campo Grande e depois fomos mais três vezes para São Paulo, onde ele teve que ir compulsoriamente. Lembro que meu marido precisou ajudar a segurá-lo para que a equipe médica aplicasse o sedativo. Mas quando voltou para casa, teve recaída”, desabafa a mãe de Bruno, que com medo, pediu para não ser identificada.

Bruno se tornou integrante de facção criminosa e, conforme denúncia do Ministério Público, foi morto por dever dinheiro ao “partido”. “No dia em que ele saiu de casa, sentia que meu filho não iria mais voltar. Disse para ele “não vai”. Mas Bruno respondeu: “eu vou porque tenho que resolver esse negócio e vai ser hoje”, segundo a mãe da vítima.

Wilde Pacheco, 52 anos, e a esposa, de 47 anos, acompanham julgamento da morte do filho. (Foto: Ana Lívia Tavares)
Wilde Pacheco, 52 anos, e a esposa, de 47 anos, acompanham julgamento da morte do filho. (Foto: Ana Lívia Tavares)

Luta contra as drogas – O pai de Bruno foi uma testemunha-chave para levar a polícia aos envolvidos no crime. Durante o interrogatório de Denilson Ramires Cardozo, apontado como a pessoa que levou a vítima até o cativeiro, a manteve em cárcere e ajudou na execução, já que era amigo de Bruno há mais de 10 anos, a promotoria se utilizou de trechos do depoimento de Wilde Pacheco, concedido na fase das audiências.

Em depoimento transmitido no telão do plenário em sessão, Wilde contou sobre a batalha para livrar o filho das drogas.

"Vinha lutando há muitos anos com o vício dele (Bruno). Eu moro próximo a Orla Morena e era muito difícil, porque sempre o Bruno estava por ali com aquelas pessoas que também são usuárias. Lutei para combater esse vício dele. Mas, infelizmente, tem coisas que não temos alcance. Ele não me ouvia e, por não me ouvir, deu no que deu", fala Wilde no depoimento gravado na fase judicial do processo.

Julgamento – Quatro homens são acusados pela execução de Bruno, mas os processos foram desmembrados pela Justiça e, nesta quarta feira (20), apenas Denilson Ramires e Igor de Oliveira Porto estão sendo julgados.

O primeiro a ser ouvido foi Denilson, que negou integrar facção criminosa, assim como sua participação do homicídio. Porém, há provas de que antes do desaparecimento de Bruno, o  próprio “Caverna” (Denilson) mandou mensagens de celular ao pai da vítima dizendo que o jovem estava bem e na casa dele.

Igor de Oliveira Porto é julgado por homicídio qualificado e organização criminosa. (Foto: Ana Lívia Tavares)
Igor de Oliveira Porto é julgado por homicídio qualificado e organização criminosa. (Foto: Ana Lívia Tavares)

Já Igor alegou que era usuário de drogas e morava em um sobrado próximo a invasão da construtora Homex, onde possuía quatro "apartamentos" frequentados por pessoas que se encontravam para usar entorpecente. Então, um homem conhecido como Josué, apelido de Zóio, pediu para morar em um deles.

Segundo a versão do Igor, seria Zóio que levou Bruno para usar drogas no sobrado, mas sem que o réu soubesse que o local estava, na verdade, sendo usado como cantoneira (casa onde integrantes que serão julgados pela facção aguardam até resultado da “sentença”).

"Vi o Bruno dentro da casa, na escada, uma única vez e Bruno não estava amarrado e nem nada, estava com o olho maior que a cara de usar droga", alegou o réu, que depois disse ter ouvido os gritos de socorro da vítima em um matagal, próximo ao sobrado.

O julgamento ainda está na fase de debates e deve se estender ao longo da tarde. Os réus são acusados de homicídio qualificado por motivo torpe, meio cruel e recurso que impossibilitou defesa da vítima, além de integrar organização criminosa.

Execução - O corpo de Bruno foi encontrado no início da tarde do dia 29 de julho, em uma mata nos fundos da área invadida da construtora Homex, na região sul de Campo Grande. Os criminosos, segundo a polícia, tentaram decapitar a vítima, mas não conseguiram. Abandonaram o corpo e fugiram.

Dias antes, Bruno havia sido sequestrado pela facção, mas escapou do assassinato ao ser resgatado pela Polícia Militar.

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