Sem álbum da Copa 2022, bola e pé descalço é diversão na periferia
Álbum simples custa R$ 12 e de capa dura R$ 44,90. Já os pacotes de figurinhas, com 5 unidades, estão R$ 4
Se para mães e filhos, que residem em bairros nobres ou da classe média de Campo Grande, o programa de fim de semana é completar álbum de figurinhas da Copa do Mundo 2022, nas regiões menos abastadas da cidade a diversão fica por conta de brincadeiras tradicionais e até mesmo na base do improviso. Pipas, bola e arminha de cano plástico, substituem o álbum de figurinhas, o atual sonho de consumo.
Foi o que constatou a reportagem na tarde deste domingo (11), pelas ruas do Bairro Tiradentes. No campinho de futebol dois garotos batiam bola, enquanto Felipe Rodrigues Valadão, de 8 anos, corria freneticamente na tentativa de empinar sua pipa, no terreno em frente a casa onde mora com a mãe e avó. Uma de suas brincadeiras preferidas é colecionar e bater figurinhas, no entanto as imagens que estampam os cards são de outro tipo de jogo, o Fortnite (jogo eletrônico online). “Eu gosto de figurinhas, mas as minhas não são da Copa do Mundo porque estão muito caras. Já comprei de futebol também, mas não é do álbum oficial. Na minha escola, acho que ninguém tem”, disse o menino.
A avó, Marlene Rodrigues de Oliveira, 51, disse que qualquer dinheiro que o neto ganha, compra figurinhas. Porém cada pacote com 4 unidades custa R$ 0,50. “É uma coisa essas figurinhas, qualquer quantia que a gente dá para ele, gasta as benditas”.
A duas quadras dali, uma cena chama atenção: dois guris vestindo camisas de clubes europeus, Real Madrid (Espanha) e Milan (Itália), chutam uma bola rasgada em rua sem pavimentação. É o mais sincero retrato das inúmeras histórias de jogadores que cresceram em ambiente hostil e que hoje estampam o álbum do mundial da FIFA. São os irmãos Wellington de 12 e Weslley de 10, que ao perceberem nossa presença chamam a mãe, Crislaine Vera Rocha, 28, que ao saber sobre o assunto logo exclama: “eles adoram futebol, mas ainda não me pediram o álbum não, mesmo porque entre comprar alimento e coisas para eles ou um álbum de figurinhas, prefiro comprar comida”, afirmou a mãe, reforçando que os filhos entendem as prioridades de casa e são compreensivos.
Os irmãos não negam o desejo em adquirir o tão falado álbum com os ídolos do esporte favorito da dupla, no entanto, se tivessem que fazer uma escolha entre o as figurinhas e uma bola nova, os dois são unânimes. “A bola, é claro”, antecipou o mais velho, flamenguista e fã do atacante Pedro, afirmando que desta forma seria possível ter um desempenho melhor, ao copiar o ídolo com bola nova. Já o mais novo é palmeirense e rebate dizendo o lance seria mais bonito como a bicicleta que culminou em gol do artilheiro alviverde, Rony.
Já para Lucas Vieira Lopes, de 11 anos, enquanto o álbum não chega a brincava, com os amigos à beira da Lagoa Itatiaia é na base da ‘guerrinha de feijão’, cujo instrumento imita uma arma, feita de cano plástico, que dispara a ‘munição’ por meio de uma borracha na parte traseira que impulsiona o grão. Para ele, o brinquedo caseiro e até ‘nocivo’ é mais um passa tempo, afinal, o desejo é de pegar logo o álbum da Copa do Mundo, prometido pela mãe para esta segunda (12). “Vou comprar sim, mas por enquanto vai ser somente o álbum, já as figurinhas ele mesmo vai comprando com o dinheiro que damos para levar à escola”, comentou Dierlen Cristina Vieira Lopes. 34.
Preços - Produzida pela editora Panini, o kit de álbum + 20 pacotes de figurinhas da Copa do Catar, está sendo vendido por R$ 80. Os colecionadores poderão adquirir o caderno a R$ 12, enquanto a de capa dura custa R$ 44,90. Já os pacotes de figurinhas, com 5 unidades, estão a R$ 4.