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Comportamento

Dados e relatos sobre violência contra mulheres LBGTs viram HQ

Trabalho é resultado de um longo trabalho jornalístico e artístico da autora, Marina Duarte

Por Idaicy Solano | 15/01/2025 07:10

Em uma realidade marcada por manchetes assustadoras de violência contra mulheres e contra a comunidade LGBTQIAPN+, dar voz àquelas que ainda lutam por terem seus direitos respeitados foi a saída que a quadrinista e jornalista Marina Duarte encontrou para levar conscientização para a população e promover debates inclusivos.

A HQ 'Vozes I̶n̶visíveis: Relatos de Resistência LBT em Campo Grande (MS)', retrata as vivências de mulheres lésbicas, bissexuais e transexuais na capital do Mato Grosso do Sul, com dados e fatos históricos, junto às invisibilidades enfrentadas por essas mulheres, por meio de uma narrativa que une jornalismo e quadrinhos.

A história traz protagonismo para as vozes de mulheres dentro e fora do movimento LGBTQIA+ e suas experiências de luta e resistência em um dos estados que mais registra assassinatos de pessoas LGBTQIA+ no Brasil. O conteúdo da HQ foi captado por meio de entrevistas jornalísticas e levantamento e análise de dados sobre a violência sofrida pela população LGBTQIAPN+ no Estado e checagem de fatos.

A pesquisadora Gabriele Magalhães foi a responsável por contribuir para a pesquisa de dados científicos, políticos, e os dados levantados por núcleos de pesquisa do Brasil e da Secretaria de Segurança Pública do Estado de Mato Grosso do Sul, que resultaram no material que deu o pontapé inicial do projeto. A partir disso, Marina passou a fazer entrevistas com mulheres lésbicas, bissexuais, transexuais e travestis de Campo Grande, atuantes no movimento ou não, que compartilharam suas histórias.

“A gente conseguiu verificar através dessa clipagem que as mulheres LGBT são mesmo as maiores vítimas de violência aqui na cidade. Obviamente que a gente precisaria de dados governamentais, mas a gente considera, a partir da escassez de dados, que a escassez de dados é um dado. E a gente precisa correr atrás para conseguir entender por que a violência é brutal contra a população LGBT, para a gente conseguir sair do lugar e pensar também em política pública de qualidade para essa população”, argumenta Marina.

A escassez de dados governamentais sobre a população LGBT, especialmente em recortes específicos, foi um dos principais desafios de Marina e sua equipe durante o processo de clipagem. Apesar da existência de informações fornecidas por agências e organizações não governamentais, a autora expressa que ainda falta um esforço mais organizado por parte dos governos.

“A gente tem dados de outras agências, organizações não governamentais, de vários órgãos, mas a gente não vê ainda um empenho total dos governos, por exemplo, para se organizar em torno disso. A gente está no estado que mais mata pessoas LGBT segundo esses levantamentos feitos por órgãos não governamentais que são, até hoje, quem faz esse tipo de diagnóstico”.

Com a HQ prestes a ser lançada, Marina expressa que esse trabalho tem uma grande importância para ela, que se identifica como mulher bissexual, e está inserida em um meio onde várias outras pessoas próximas a ela compartilham da mesma luta pelo direito de ter sua orientação sexual e vivências respeitadas, validadas e pelo direito de viver, não apenas sobreviver.

“É um tema ainda muito desinteressante para muitas pessoas, infelizmente, mas é algo que precisa ser discutido. Então, eu acredito que trazer visibilidade para essas vozes é algo que a gente precisa cada vez mais fazer. A gente precisa conhecer as pessoas que estão na luta, na nossa cidade, no nosso estado e que estão numa resistência profunda para existir”.

Este também é o primeiro trabalho solo da quadrinista. “É o primeiro trabalho que eu tô lançando uma reportagem longa, sozinha, fazendo um trabalho solo com a minha própria equipe. Tá sendo muito gratificante e muito importante. Foi muito difícil de fazer esse material, eu senti uma responsabilidade imensa nas minhas costas”.

Dados e relatos sobre violência contra mulheres LBGTs viram HQ
Marina compartilhou um pequeno spoiler do conteúdo do livro com o Lado B (Foto: Marina Duarte)

O formato HQ-reportagem utiliza uma linguagem acessível com elementos visuais para tornar os dados e histórias mais didáticos e explora a sensibilidade do tema através de expressões artísticas. A autora, Marina Duarte, possui cinco anos de experiência em jornalismo em quadrinhos e integra o NuPeQ (Núcleo de Pesquisa em Quadrinhos) da UEMS (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul).

O projeto durou cerca de ano de produção, incluindo as entrevistas, levantamento de dados, escrita, preparação e audiodescrição. A equipe é composta por Fabio Quill (consultor artístico e editor), Mayara Dempsey (produtora e preparadora de texto), Gabriely Magalhães (consultora e pesquisadora preliminar), Guilherme Correia (análise dos dados jornalísticos), Dudu Azevedo (diagramação) e Matias Rick (edição da audiodescrição).

Lançamento 

A HQ será lançada no dia 16 de janeiro, às 19h, na Casa de Cultura de Campo Grande, com um bate-papo sobre o processo de criação e as vivências das mulheres LBTs na cidade. Além da autora, estarão presentes as entrevistadas Daniele Rehling, Loren Berlin e Karla Melo, com mediação de Mayara Dempsey. Daniele é professora e doutora em Educação, Loren é ativista trans e artesã, e Karla é cientista social e assessora política.

O evento contará também com uma apresentação do coletivo (a)seita, formado por mulheres artistas que utilizam performances e slam para amplificar as vozes femininas. O grupo se apresentará com as artistas Pretisa, Ale Coelho, Giulia Scarcelli, Lady Afroo e Jeizzy.

Além do lançamento da HQ, o evento tem como objetivo criar um espaço de encontro e troca para mulheres LBTs, promovendo visibilidade e valorização de suas histórias e manifestações, seja por meio do bate-papo, das performances ou da representatividade na equipe.

A HQ, publicada pela Avuá Edições em formato digital/e-book, será disponibilizada gratuitamente com o objetivo de democratizar o acesso à informação e ampliar a discussão sobre o tema. Após o lançamento, o site marinaduarte.com.br/hq-vozes-invisiveis/ oferecerá a obra completa para leitura online, além de uma versão em audiodescrição, conteúdos complementares e informações sobre o projeto e a equipe.

O projeto foi viabilizado pela Lei Paulo Gustavo e realizado com apoio da Prefeitura Municipal de Campo Grande, por meio da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo.

Confira a galeria de imagens:

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