Sem aulas presenciais, comércios ao redor de escolas penam ou fecham
Seja no bairro ou no Centro, lanchonetes e outros tipos de comércio sentem efeitos da falta dos estudantes, assim como cantineiras
Com aulas presenciais paradas desde meados de março, quem dependia dos alunos para vender salgados, doces, balas e outros produtos nas “vendinhas” próximas às escolas, está penando ou fechando as portas.
Na Vila Margarida, uma loja de açaí e outra de doces já não funciona e uma terceira, de utilidades, sentiu a queda de pelo menos 60% nas vendas. Já no centro, há quem diga que não apenas os estudantes fazem falta, mas o movimento como um todo, já que o fluxo de pessoas nas ruas parece estar menor.
Em frente à Escola Estadual Maria Elisa Bocayuva Corrêa da Costa, na Vila Margarida, Maria Rodrigues de Lima, 83 anos, lamenta ter tido que fechar as portas. Num “puxadinho” em frente à sua casa, ela mantinha uma venda de bolachas, doces, refrigerantes e balas, por anos. Com a paralisação das aulas, isso acabou.
“Se não for para os alunos, eu não vendo nada. Nunca mais abri desde que as aulas acabaram e eu desisti, mas não vejo a hora de recomeçar”, afirma, lembrando que o marido, que faleceu há 9 meses, era quem mais se animava para abrir a loja. “É triste ver a vendinha fechada”, lamenta.
“Eu abria todos os dias pensando nele”, sustenta a mulher, que lembra nas manhãs e tardes jogando dominó com o marido enquanto não havia atendimento. “Quando os alunos saíam, a gente se dividia para atender”, relembra.
Para ela, o desejo é que a pandemia passe logo e que a normalidade volte. “Fico pedindo a Deus para que Ele tenha misericórdia e mande essa doença embora para que os alunos voltem. Desejo saúde a todos!”, relata.
Em frente à mesma escola, a lojinha de açaí não foi pra frente já que as aulas presenciais pararam. Waldemar do Carmo, 57 anos, conta que o filho investiu cerca de R$ 15 mil para reformar espaço para abrigar a venda, mas que não duraram 8 meses.
“Logo veio a pandemia e fechamos, o movimento parou”, disse, lembrando que o foco eram os alunos. “Meu filho achou que podia dar certo por causa da escola, que dá bastante movimento, mas não foi assim”, disse.
Um pouco mais adiante, Lurdes dos Santos , 65 anos, mantém aberta uma loja de utilidades onde ela também vende materiais escolares. “Movimento caiu bastante. Não tenho vendido nada de material escolar”, contou, revelando queda de pelo menos 60% nas vendas.
Apesar disso, ela não reclama, porque acredita que o mais importante é a saúde e que diante da pandemia, as pessoas devem mesmo se prevenir. “Não acho ruim. Acho que tem continuar fechado, saúde em primeiro lugar. Os meses passam e a doença também. Mas perder a vida não tem volta”, assinala.
Já na região central, mais especificamente aos arredores do Colégio Dom Bosco, poucos comerciantes reclamaram da queda de movimento e muitos disseram inclusive que não dependem dos estudantes para se manter, mas o idoso Paulo Roberto, 61 anos, que tem um cyber ali perto, pensa diferente.
Para ele, a reclamação é diante da pandemia, e não exatamente da paralisação das aulas presenciais. “Eu atendia muitos alunos, os pais, mas se as aulas diminuem, o fluxo de pessoas na cidade também cai e a gente sente”, afirma.
Nas redes públicas de ensino, decreto mantém escolas sem aulas presenciais até 30 de junho, mas pode ser prorrogado. Nas escolas particulares, o retorno gradual das aulas começa em 1º de julho.
Cantinas - Donos de cantinas escolares também têm passado aperto desde o início da pandemia. Com aulas presenciais suspensas em escolas e universidades, comerciantes temem demitir funcionários devido ao tempo que os estabelecimentos estão fechados.
"Está todo mundo em uma situação tensa e a gente não consegue mexer com Delivery igual outros estabelecimentos", argumenta a comerciante Marilene Maluf, de 53 anos, dona de três cantinas em Campo Grande, todas em universidades particulares.
Segundo ela, a esperança está no possível retorno das aulas presenciais, em breve. "Tinham falado que seria no próximo dia 15, mas quando chega perto eles alteram de novo e por mais duas semanas. Agora já falam em 30 de junho", explica Marilene, que atualmente emprega 12 pessoas de forma fixa, além de temporários.
À reportagem, a comerciante disse ainda que a situação se repete com outros proprietários de cantinas. "Só em uma das universidades são seis cantinas. Acho que eu sou a única que ainda não demitiu", complementou.