Sem frutas, crianças têm só bolachas de sal nos Ceinfs, reclama professora
“Mais de um mês que os alunos não sabem o que é banana ou cenoura na sopa. Não tem frutas, verduras, legumes”. A denúncia é de uma professora, de 32 anos, de um Ceinf (Centro de Educação Infantil) localizado na região oeste de Campo Grande. São sete anos trabalhando como professora e três no mesmo local.
A professora se mostra indignada com o racionamento, que atinge não só a alimentação. “Falta material de limpeza, desinfetante, saco de lixo. É safadeza. Enquanto as crianças vivem a troco de bolacha salgada, as diretoras estão recebendo o salário delas”, protesta a professora.
Neste Ceinf são mais de 200 alunos e nove professoras. A educadora conta que as dificuldades apareceram no mês de março. “Na metade de abril apareceu banana, depois disso não apareceu nenhuma fruta. Eu tiro da minha família e levo para lá”, afirma.
“Eu não consigo entender como as pessoas se vendem em nome de emprego”, reclama a professora, protestando contra a falta de atitude das diretoras, que preferem esconder o problema da Prefeitura.
Ela diz que a prática de levar frutas de casa é comum entre os professores.
“O leite que as crianças do berçário ingerem tem indicação proibida para menor de um ano e tomam. Mal tem dente de leite e tem que comer bolacha de água e sal porque não tem outra coisa”, afirma.
A professora conta que uma das funcionárias do Ceinf pediria frutas aos pais das crianças, mas a diretoria teria implorado para que não fizesse porque poderia ser demitida. “Os pais acham que as crianças comem frutas, mas não comem. Continuam se arrastando, empurrando com a barriga, tapando o sol com a peneira”, diz.
A educadora afirma que na administração anterior os alunos eram alimentados com frutas como ameixa, abacaxi, uvas, mamão e melão. “Batata, cenoura, hoje em dia virou artigo de luxo. O café da manhã é bolacha, o lanche é bolacha, no almoço arroz, feijão e frango, à tarde bolacha e antes de ir embora arroz e feijão de novo”, conta.
“Não adianta reclamar com a direção, não adianta falar na SAS (Secretaria Municipal de Assistência Social). Eu não posso tirar todo dia da minha família para levar para os filhos dos outros”, completa.
A titular da SAS, Thaís Helena (PT), disse nesta segunda-feira (13) durante o encontro dos diretores dos Ceinfs que são realizadas cinco refeições e que existe uma nutricionista em cada local fiscalizando o que está sendo servido.
“Os pais têm passagem livre para conferir estoque e conhecerem os nutricionistas”, respondeu.
A secretaria diz desconhecer a falta de alimentos. “O máximo que pode acontecer é a substituição. Às vezes é trocado um item por outro, mas na mesma quantia de proteínas e vitaminas, sem perder a qualidade do que deve ser consumido”, disse.
O prefeito de Campo Grande, Alcides Bernal (PP), que também esteve no encontro, também disse desconhecer o assunto e reclamou que a Prefeitura não estaria sendo procurada para receber estas denúncias.
“Se está acontecendo porque não estão ligando para a Prefeitura? Tem telefone à disposição e não tem que ligar em jornais”, reclamou.