Sem-teto afirmam que foram pegos de surpresa e criticam atuação da Polícia
Cerca de dez famílias foram retiradas de terreno no bairro Dom Antônio Barbosa, região sul da Capital, na manhã desta sexta (20)
Um terreno com barracos ao lado do núcleo de moradias "José Teruel Filho", conhecido como Cidade de Deus, foi desocupado na manhã desta sexta-feira. A área pertence à prefeitura, que obteve ordem de reitegração de posse, expedida pelo juiz Ricardo Galbiati, da 2ª Vara de Fazenda Pública de Campo Grande.
A reintegração de posse foi cumprida pela Cigcoe (Companhia Independente de Gerenciamento de Crises e Operações Especiais). De acordo com o major Marcos Paulo Gimenez, 40 policiais, incluindo a Tropa de Choque, foram ao local em cumprimento à ordem da Justiça. Não houve resistência e os barracos foram desmontados em menos de uma hora.
Moradores disseram que foram pegos de surpresa com a chegada da ordem de despejo. O autônomo Douglas de Almeida Dias, 21 anos, afirma que os policiais já chegaram dizendo que iriam derrubar os barracos. Ele conta que estava morando no terreno há oito meses e que não tem condições de pagar aluguel. “Agora, com isso, estamos dependendo dos outros". O rapaz é casado e tem um filho de três anos.
De acordo com ele, a alternativa apresentada por funcionários da prefeitura seria ir para o Cetrimi (Centro de Triagem e Encaminhamento ao Migrante).
Para o autônomo Welington da Silva, 24 anos, a Polícia agiu com truculência. Ele estava dormindo quando foi acordado pelos PMs. “Vieram com cachorros e revólveres. Como é que iríamos conversar desse jeito?”, questiona. Ele disse que vai procurar a família da esposa, com quem tem uma filha de nove meses, para pedir ajuda.
O auxiliar de serviços gerais, Wellesnaycon Turaça Domisiano, 23 anos, disse que foi pego de surpresa. “ Chegaram entrando, metendo o pé na porta. Deveriam ter um pouco mais de educação. Somos todos trabalhadores, nós só queremos ter um lugar para morar”.
O pedreiro Gilberto Alves, 33 anos, que mora na região ficou indignado com a desocupação. “Até o lixo tem local específico. O pobre não tem o direto de ter um barraco e moradia digna? Não é destruindo isso aqui que vai resolver o problema. Eles vão sair daqui e ocupar outro local”, indagou o pedreiro.
De acordo com o tenente do Cigoce (Companhia Independente de Gerenciamento de Crises e Operações Especiais), Ronaldo Moreira de Araujo, os policiais não agiram com truculência e seguiram os procedimentos doutrinários.
Cerca de 40 policiais participaram da desocupação, porém como os moradores foram saindo sem resistência, o número foi reduzido para 11.
O presidente da União do Movimento dos Sem Casas de Campo Grande, Giunaldo Pereira Ferreira, disse que vai entrar na Justiça contra EMHA (Agência Municipal de Habitação) alegando que a desocupação é inconstitucional.
Segundo Ferreira, pelo fato do terreno ser público, a agência poderia ter esperado para colocar as pessoas em casas fechadas. “Eles não tem pressa para ocupar o terreno”, afirmou.
O terreno em questão fica na rua Emiliana Arruda de Aráujo, esquina com a Professor Antônio Teófilo Cunha, no bairro Dom Antônio Barbosa, imediações do Lixão.
A decisão para a desocupação foi determinada pelo juiz Ricardo Galbiati, da 2ª Vara de Fazenda Pública de Campo Grande.