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Sete mil por mês e amor: a vida de um sobrevivente da Rodovia da Morte

Aline dos Santos, enviada especial a Bandeirantes | 22/02/2014 09:24
Há seis anos preso na cama, Zé da Farmácia conta com a fé e dedicação da esposa. (Foto: Cleber Géllio)
Há seis anos preso na cama, Zé da Farmácia conta com a fé e dedicação da esposa. (Foto: Cleber Géllio)

“Bem, bem”. A voz carinhosa da esposa desperta José Francisco Alves Sobrinho, o Zé da Farmácia, 63 anos. No entanto, há seis anos ele não pode sair da cama. Um traumatismo craniano, sequela de acidente na BR-163, impede a fala e os movimentos. No corpo, onde quase tudo é ausência, os olhos fixos na esposa parecem dizer “muito obrigado”.

Marlene Barbosa Camargo Alves, 53, trocou de casa, assumiu o comando da farmácia da família e se desdobra para que o marido leve a melhor vida possível. “Ele é muito bem cuidado. Gasto R$ 7 mil por mês. Só de alimentação, são R$ 1.500. Tudo por sonda. Mas Deus é maravilhoso”, diz, usando a força da fé frente à adversidade.

No dia do acidente, ocorrido em 26 de junho de 2007, ela não acreditou que o marido, internado na Santa Casa de Campo Grande, conseguisse sobreviver. Zé da Farmácia estava sozinho em um Gol e voltava da Capital para Bandeirantes, cidade onde mora. Contudo, o relato de como os fatos se deram chegou por terceiros.

“Caminhoneiros vinham aqui na farmácia contar que o motorista da caminhonete vinha ultrapassando feito louco. Era um rapaz de Assis, em São Paulo. Tinha 18 anos e nenhuma experiência em BR”, conta.

Pela reconstituição narrativa, a caminhonete estava ultrapassando quando o condutor se viu de frente com o Gol. “O Zé puxou para o acostamento, mas acho que o rapaz assustou e puxou para o mesmo lado”.

O resultado foi uma colisão na lateral do Gol, esmagando o braço esquerdo e provocando danos irreversíveis ao cérebro do condutor. Zé da Farmácia ficou 15 dias internado na Santa Casa e depois foram mais dois meses no CTI (Centro de Terapia Intensiva) do Hospital Adventista do Pênfigo. “Depois do acidente, ele já operou mais de quatro vezes. Teve uma placa de pus, nódulo no pâncreas e apendicite”, relata.

Como ele não se comunica, o sinal de alerta é a febre. A cada aumento considerável de temperatura, ele tem que ser levado ao hospital. No fundo da farmácia, um quarto especial foi construído para o marido. Pelo ambiente, além de maca e televisão, imagens de Nossa Senhora Aparecida. “Minha esperança é que um dia ele saia caminhando”, diz Marlene. O casal está junto há 29 anos.

Quase toda semana, ela enfrenta a rodovia. “Tem que ter tranquilidade, porque é carreta, carreta, carreta”. Agora, Marlene já se angustia pelo filho. “Meu filho passou no concurso público do Corpo de Bombeiros e vai viver na estrada”.

Natural de Jaraguari, Marlene mora desde os oito anos em Bandeirantes, tempo suficiente para ver o impacto que os acidentes provocam na cidade. “Já morreu muita gente. É uma cidade marcada pela rodovia”.

Para fazer a triste constatação, não precisa ir longe. Na loja de colchões, em frente à farmácia, as vítimas foram um casal. Os vizinhos de comércio conheceram o drama de seu Zé e morreram há cerca de dois anos em acidente na BR-163.

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