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Capital

"Só ultrapassei e acharam ruim", diz filho de mulher baleada com bebê no colo

Vítima é socorrista do Samu e está internada em estado grave na Santa Casa

Por Dayene Paz | 10/06/2024 11:29
Trecho da Rua da Península, onde fica unidade de saúde que socorreu a vítima. (Foto: Marcos Maluf)
Trecho da Rua da Península, onde fica unidade de saúde que socorreu a vítima. (Foto: Marcos Maluf)

"Vi que estavam fazendo confusão, não sabia se era racha ou bagunça. Eu só ultrapassei, consegui me desvencilhar e eles acharam ruim", explicou o motorista sobre os momentos antes do tiro que acertou a mãe dele, de 60 anos, uma socorrista do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), na noite deste domingo (9), em Campo Grande. A mulher estava dentro do carro do filho segurando o neto de 5 meses quando foi ferida.

O filho, que dirigia o carro, acompanha apreensivo notícias da mãe na Santa Casa. Ela está em estado grave. "Não dormi, não comi, ainda estou em choque", disse o rapaz ao conversar por telefone com a reportagem do Campo Grande News. O entregador, de 33 anos, contou como se deram os fatos na noite de ontem.

Ele relata que seguia no veículo Renault Sandero a caminho de casa com a família. Ocupavam o carro a mãe dele, a esposa e os quatro filhos, o bebê de 4 meses e os irmãos de 2, 4 e 6 anos. No trajeto, o entregador já havia notado que dois veículos estavam fazendo confusão na rua.

Antes no semáforo do Coophavila, ele [autor do tiro] já tinha engatilhado a pistola, já tinha mostrado que estava armado, mas até então eu achei que era bobagem", lembra. "Porque antes de mim, os dois fecharam um motociclista ainda. O cara teve que frear e quase bati nele também. Como eu vi que estavam fazendo confusão, eu simplesmente saí dali".

O motorista continuou o trajeto e neste momento, a mãe dele já segurava o bebê que estava chorando. "Depois disso, a gente achou que estava tudo bem", conta.

No entanto, o motorista do veículo Audi bateu propositalmente no Sandero, que aguardava para cruzar a Avenida Gunter Hans. Na sequência, ocupantes dos dois veículos que aparentemente faziam racha, o Audi e um Astra, desembarcaram e foram até o carro da família.

Segundo o entregador, nem houve discussão. O motorista do Astra desferiu um tapa no peito dele, o chamando de folgado. Já o homem que dirigia o Audi sacou de uma pistola e apontou em direção à vítima. "Ele foi para atirar na minha cabeça, eu me desvencilhei e acabou acertando minha mãe", lembra. "As crianças gritaram, estão traumatizadas".

O rapaz correu com a mãe para a unidade de saúde, enquanto os autores fugiram do local. "Fui no posto do Coophavila e ela foi socorrida muito rápido. Se manteve calma, consciente e orientada", descreve. Na sequência, a esposa seguiu para casa com os filhos. "E eu entrei no carro para tentar a placa de um dos carros. Assim que manobrei, uma viatura do 10º Batalhão da Polícia Militar estava passando".

Mesmo apreensivo com a gravidade do quadro de saúde da mãe, o entregador afirma que ela salvou a vida do filho. "Na verdade era para ter atingido meu filho, ele ia matar o meu filho. Deus colocou a mão nessa situação, porque uma criança de quatro meses não ia resistir a um ferimento de bala de 9 mm", lamenta.

Velhos conhecidos - Após tomar conhecimento sobre quais eram os veículos envolvidos no racha e no disparo contra a socorrista do Samu, a Polícia Militar constatou que os carros tinham as mesmas características dos que estão envolvidos em situações criminais em datas anteriores, inclusive ocorrências de violência doméstica e arma de fogo.

Como ambos veículos já foram vistos no Bairro Bela Laguna, a PM passou a fazer diligência pela região, quando abordou um carro. Uma mulher foi questionada e afirmou que estava no Astra no momento do tiro, revelando o endereço do atirador. Contudo, não revelou o paradeiro do Astra.

Os militares foram até o endereço informado e entraram em contato com a família do suspeito, identificado como Rafael Conceição dos Santos. A família disse que Rafael se apresentará à polícia. O veículo Audi e a pistola não foram localizados.

O delegado de plantão e peritos foram até a Rua da Península, onde recolheram a cápsula deflagrada de calibre 9 milímetros em cima do banco do motorista do Sandero. Também foram vistas manchas de sangue no banco traseiro.

A mãe do entregador é técnica de Enfermagem e atua no Samu há mais de 20 anos. Já participou de diversos partos e no socorro de dezenas de pessoas. Em maio do ano passado, teve graves ferimentos em um acidente com a ambulância que ela ocupava. A equipe seguia para um socorro, quando colidiu com um Volkswagen Gol conduzido por Edson dos Santos de Almeida, de 24 anos, que morreu no local.

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