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Capital

Soltar pipa no Marabá é comum entre adolescentes, muitas com cerol

Paula Vitorino | 18/02/2011 20:32

Motociclista ferido com linha de cerol no bairro continua internado na Santa Casa

 Soltar pipa no Marabá é comum entre adolescentes, muitas com cerol
Soltar pípa é comum no Jardim Marabá. Garotos utilizam cerol para "disputar" cada pipa. (Foto: João Garrigó)

Ver uma, duas ou até mais pipas voando pelo Jardim Marabá, em Campo Grande, é rotina para os moradores da região. Ao ver o ponto colorido no céu, as crianças correm para tentar alcançar a pipa. Mas a brincadeira inofensiva pode se tornar perigosa muitas vezes devido ao cerol, passado na linha.

O cerol é utilizado pela maioria dos garotos para “torar” a linha de outras pipas, consideradas como “adversárias”. Mas o material também poder cortar e ferir motociclistas, ciclistas e até pedestres que passam pelo local.

O motociclista Vagno Ferreira da Silva, de 25 anos, foi mais uma vítima da linha com o material cortante, na tarde de hoje (18), no jardim Marabá. Ele foi levado para a Santa Casa após a linha fazer um corte profundo no seu pescoço.

Brincadeira – Uma turma de amigos, entre meninos de 4 e 14 anos, do Jardim Marabá, contou a reportagem do Campo Grande News que soltar pipa é uma das brincadeiras mais comuns no bairro.

Em frente de casa ou nas praças, os garotos se reúnem diariamente para a pratica, que é tida como “inofensiva” pelos adolescentes.

Para os garotos a diversão maior em brincar de pipa é conseguir “torar” as pipas de outros da região e, para isso, o cerol é utilizado na linha frequentemente.

“A gente só passa na parte da frente da pipa, é só um pedaço da linha que fica com cerol”, explicam.

Um dos garotos, de 13 anos, ainda esclarece que o material não é passado em toda a linha “para não ter o perigo de cortar um motoqueiro que passar”.

 Soltar pipa no Marabá é comum entre adolescentes, muitas com cerol
Linha com cerol fica amarelada e mais "grossa". (Foto: João Garrigó)

Os meninos conhecem os acidentes provocados pelo cerol, mas afirmam nunca terem presenciado algum e acreditam que suas pipas não oferecem risco. No entanto, os três garotos de 13 e 14 anos do grupo afirmam já terem cortado o dedo com a linha e mostram as cicatrizes.

Sobre deixar de usar o material, o adolescente de 14 anos justifica dizendo que “sem cerol, não tem graça. Os outros moleques vêm e ‘tora’ a sua pipa”.

Empinando sua pipa, o garoto ainda dá a receita para fabricar o cerol. “Pega o vidro, soca e deixa tipo pó, aí mistura com qualquer tipo de cola e coloca um pouco de água. Geralmente quebro copo para pegar o vidro”, diz.

Ele ainda confessa que a polícia já o enquadrou quando estava soltando pipa. “Levaram minha pipa e a linha, mas depois eu fiz outra e continuei soltando”.

Reclamações - O grupo de garotos diz que seus pais sabem que eles soltam pipa e todos “deixam”. Mas os moradores do bairro com quem a reportagem conversou disseram não aprovar a brincadeira, que seria um problema na região.

“Tem muitos soltando pipa por aqui. A gente não gosta, é um perigo, mas não podemos fazer nada. Meu genro já quase sofreu um acidente com cerol. A linha cortou o capacete dele, mas por pouco não pegou seu pescoço”, diz Raimunda Tereza de Jesus, 54 anos.

A reportagem conversou com o padrasto de um dos meninos que solta pipa no bairro e ele disse desconhecer que o garoto usa cerol na linha. Ele não quis se identificar e também afirmou não achar problema em os adolescentes brincarem de pipa no bairro.

Vítima - O motociclista Vagno Ferreira da Silva, de 25 anos, continua internado na Santa Casa após o acidente com a linha de cerol nesta tarde.

Sua esposa, Tassia Luges Vicente, 24 anos, aguarda notícias sobre o estado do marido, que teve de passar por cirurgia.

“Não falei com ele depois do acidente e os médicos disseram que durante a recuperação ele terá de usar um aparelho na garganta e não poderá falar. Não sei ainda como vai ficar a fala dele”, conta.

Ela não soube detalhar qual tipo de aparelho precisará ser utilizado na recuperação, mas informou que o equipamento não é fornecido pela Santa Casa e os familiares terão de tentar providencia junto aos SUS (Sistema Único de Saúde) ou comprar.

 Soltar pipa no Marabá é comum entre adolescentes, muitas com cerol
Tássia espera resposta de médicos sobre estado de saúde do marido ferido pela linha com cerol. (Foto: João Garrigó)

Tassia e a vizinha Floricy Dias, de 22 anos, contaram que acidentes com cerol no bairro são constantes, mas Vagno foi o primeiro caso grave que ficaram sabendo.

“É comum os meninos com cerol por lá. Domingo passado um garoto tinha feito um corte fundo no dedo com a linha de cerol”, conta Floricy.

O acidente com Vagno aconteceu em uma das ruas do Jardim Marabá, por volta do meio-dia, quando ele seguia para o trabalho. Mesmo machucado, Vagno conseguiu chegar até a Unidade Básica de Saúde do bairro, mas como era horário de almoço, apenas o guarda do local estava no posto.

“Escutei um barulho de alguém caindo, mas achei que não fosse nada. Aí começaram a bater na porta pedindo socorro e quando fui ver o homem estava com a linha pendurada no pescoço”, conta o guarda.

Vagno chegou ao local com toda a linha da pipa sendo arrastada e um pedaço preso em seu pescoço.

Uma paciente do local ajudou a socorrer a vítima e pediu socorro no posto. “Coloquei ele deitado no banco, cortei a linha, e coloquei um lençol em cima dele por causa do sangue. Ele não conseguia falar”, lembra o guarda.

O Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) foi chamado e prestou os primeiros socorros ainda na unidade de saúde.

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