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Capital

Testemunha “ameaçada” sai em defesa de guardas e denuncia delegado

Episódio começou com apreensão de arsenal, seguido de novas prisões por ameaça no mês de maio

Aline dos Santos | 12/06/2019 11:02
Carta de testemunha foi anexada a processo em que Gaeco pede prisões. (Foto: Reprodução)
Carta de testemunha foi anexada a processo em que Gaeco pede prisões. (Foto: Reprodução)

Testemunha no caso do guarda municipal preso com arsenal, armamento que pode estar ligado a execuções em Campo Grande, protagoniza uma reviravolta. Até então, ela, que terá o nome preservado, aparecia na condição de ameaçada, situação que resultou, inclusive, na prisão de três pessoas, sendo dois guardas municipais. Atualmente, os três estão soltos.

Contudo, documentos entregues ontem (dia 11) à Justiça traz uma carta da testemunha afirmando que não sente “a vida e nem a integridade física ameaçada”. Também foi anexada representação dela contra o delegado titular do Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubos a Banco, Assaltos e Sequestros) , Fábio Peró.

A declaração da testemunha, escrita à mão, foi anexada pela defesa de Robert Vitor Kopetski e Rafael Antunes Vieira, afastados da Guarda Municipal após a denúncia, em processo no TJ/MS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul).

No recurso, apresentado à 2ª Câmara Cível, o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) pede que seja decretada a prisão preventiva de Robert, Rafael e do segurança Flávio Narciso Morais Silva pelo “perigo à vida da testemunha”.

Primeiro, o guarda municipal Marcelo Rios foi preso, em ação do Garras e do Batalhão de Choque, no dia 19 de maio. Em três imóveis ligados a ele, foram encontradas armas e munições, incluindo seis fuzis.

Perigo e equívoco - Em 22 de maio, foram efetuadas as outras três prisões por ameaça à testemunha, que relatou ter recebido oferta de dinheiro para ajudar nas despesas domésticas, “conselhos” para desconfiar da polícia, trocar de casa e de telefone, chegando à conclusão de que era vigiada após voltar da delegacia e ser ameaçada de morte.

Além da profissão, guarda municipal, os três eram colegas em outra função: segurança de empresário de Campo Grande.

A liberdade dos presos por ameaça foi concedida em 31 de maio, com as seguintes condições: comparecimento mensal em juízo, proibição de deixar a cidade no decorrer da investigação e manter distância de 300 metros da testemunha.

Denúncia sobre "hospedagem" no Garras foi feita à Corregedoria da Polícia Civil. (Foto: Arquivo)
Denúncia sobre "hospedagem" no Garras foi feita à Corregedoria da Polícia Civil. (Foto: Arquivo)

Mas o Gaeco pede o retorno à prisão. “É primordial para a manutenção da ordem social, da efetividade da investigação criminal e da futura instrução criminal, sob pena de perigo à vida de testemunha e ao próprio resultado útil do processo”.

A defesa de Robert e Rafael afirma que o Ministério Público parte de “premissa equivocada”, sem existência de perigo à vida da testemunha. Foi anexada a carta em que a pessoa escreveu não se sentir ameaçada pelos três e que não foi procurada por eles após deixarem a prisão.

“Hóspedes” no Garras – A defesa também anexou a representação feita pela testemunha à Corregedoria da Polícia Civil contra o Garras. O documento foi recebido no último dia 6. A testemunha relata que houve busca em sua residência sem autorização, ação que fere a inviolabilidade do domicilio. Ela destaca que a busca foi desproporcional, truculenta e diante de crianças.

A denúncia narra que a testemunha e duas crianças também foram mantidas “hospedadas” em um quarto da delegacia de 22 a 27 de maio. Ela conta que foi informada do risco de serem mortos, dado revelado em interceptação telefônica.

A testemunha relatou que em 22 de maio as crianças foram levadas da escola para o Garras. Enquanto ela prestava depoimento, eles ficaram sozinhos por longas horas, sendo alimentados com balas e bolachas, mas, sem cuidado de um responsável, a mais nova urinou na roupa, ficando envolta apenas com um casaco.

Conforme o pedido para abertura de sindicância, é inadmissível que crianças sejam “abrigadas” em delegacia e permaneçam praticamente “encarceradas”. A reportagem não conseguiu contato com a Corregedoria da Polícia Civil.

Titular do Garras, o delegado Fábio Peró afirma que a denúncia é um ato de desespero. “Na verdade, já percebi que os advogados estão completamente desesperados. Estou muito tranquilo sobre a permanência dela aqui. O que falou e o que pediu para nós. Voltou atrás depois de conversa com advogados da organização criminosa, sem escrúpulo nenhum”, afirma.

Conforme Peró,o procedimento vai verificar que não houve irregularidade e, posteriormente, ele irá formalizar processo por denunciação caluniosa.

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