Trecho onde Michelli morreu é conhecido por acidentes
Em dezembro passado, casa da família foi atingida por carro desgovernado que seguia pela Avenida Fábio Zahran
“Não é a primeira vez que tem batida aqui. Já aconteceram acidente antes, inclusive com vítimas fatais. O motorista parecia estar alcoolizado”, relatava Wanessa Plonkoski, 40 anos, ao Campo Grande News, no último dia de 2021, após carro desgovernado atingir muro da residência da família, na Avenida Fábio Zahran, esquina com a Rua Ouro Branco, na Vila Carvalho, enquanto passavam por luto em decorrência da morte do pai, Fidel.
O que a terapeuta ocupacional, que reside em outro estado e que estava na cidade em função da morte do pai, não esperava é que em menos de um ano, voltaria à Campo Grande pelo mesmo motivo. Desta vez pela perda da irmã mais nova, Michelli Alves Custódio, de 36 anos, atropelada na frente dos filhos, de 8 e 10 anos, por motorista embriagado nesta madrugada no mesmo local.
Acompanhada da mãe, Wanessa chegou na tarde de hoje e teve que se deparar com a mesma cena angustiante do passado. Ainda abaladas, preferiram não falar com a reportagem, mas o sentimento é o mesmo de amigos e familiares que a esperavam para confortá-las: justiça.
“Pode parecer ironia, mas na realidade foi uma tragédia anunciada. A gente sabe que não vai acontecer nada e que nada vai trazê-la de volta, mas não podemos aceitar que continue assim. Os filhos vão crescer sem a presença da mãe. Este trecho precisa urgente de um redutor de velocidade. Vão esperar mais o quê? Espero que ele pague pelo que fez e apodreça na cadeia”, desabafou o primo, Moacir Todão Junior, 45 anos.
Já, Flávia Barbosa, preferiu lembrar da prima pelos momentos de distração que Michelli proporcionava, além do empenho em superar a morte de Fidel e para que os filhos tivessem uma presença maior dos pais, de diferentes relacionamentos. Foram eles que pediram socorro para um vizinho e ainda não sabem que a mãe morreu. “Ela era muito divertida e alegrava a todos com seu sorriso. Depois que o pai morreu, tentava superar essa fase e lutava para aproximar ainda os pais de seus filhos”.
Segundo familiares as crianças estão bem e sob o cuidado dos pais. “Agora mais do que nunca vão precisar desse apoio dos pais para mantê-los bem e principalmente juntos”, acrescentou Junior.
Como tudo ocorreu - O motorista que atropelou Michelli foi identificado como Charles de Goes Júnior, de 30 anos, estava embriagado e foi preso em flagrante. O condutor ainda atropelou outro homem, esposo da prima de Michelli, que mora na região e viu o acidente, se jogando contra o carro para evitar que Charles fugisse do local. Segundo familiares ele está hospitalizado, mas passa bem.
No momento do acidente Michelli conversa com uma travesti, conhecida como Samanta, quando as duas foram atropeladas.
Quem é Samanta? Samanta Marques, 38 anos, é uma travesti que vive em situação de vulnerabilidade, conforme reportagem de novembro do ano passado do Campo Grande News.
Ela costuma transitar pelas ruas de Campo Grande e estava sempre perto da residência de Michelli, que a aconselhava e dava auxílio com roupas e comida. De acordo com informações da a Santa Casa, ela foi vítima de atropelamento com politrauma, realizou exames de imagem e tem previsão de cirurgia pela ortopedia. Ela segue na enfermaria, aguardando procedimento, consciente e orientada.