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Capital

UPAs de Campo Grande têm aumento de pacientes com sintomas gripais

Saúde pública, que oferta testagem gratuita da covid, registrou aumento de casos suspeitos de viroses

Guilherme Correia e Beatriz Magalhães | 05/01/2022 11:54
Separação de pacientes com sintomas de gripe ou covid foi improvisada em uma UPA na Capital. (Foto: Marcos Maluf)
Separação de pacientes com sintomas de gripe ou covid foi improvisada em uma UPA na Capital. (Foto: Marcos Maluf)

A rede pública de saúde em Campo Grande tem tido um aumento de pacientes com sintomas gripais, seja por suspeita de coronavírus ou da influenza, na busca por atendimento médico ou por testes de covid-19, especialmente nas UPAs (Unidades de Pronto Atendimento).

O assessor militar da SES (Secretaria Estadual de Saúde), coronel Marcello Fraiha, explica que o município é responsável pela logística de aplicação dos exames para detecção do vírus da covid. Em 2020, parceria com o Corpo de Bombeiros Militar estruturou drive-thru para testes de RT-PCR, que foi desmontado meses depois, por falta de demanda.

De acordo com a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde Pública), a atual oferta de diagnósticos dá conta de toda a procura por parte da população. Vale lembrar que o centro de testagem em prédio da UCDB (Universidade Católica Dom Bosco), no Centro, não é o único que oferece exames de antígeno - os que dão resultado em cerca de 20 minutos.

Ainda que a pasta não identifique "necessidade de abertura de mais locais para testagem", segundo nota encaminhada nesta manhã, funcionários de postos de saúde relatam ao Campo Grande News que têm montado estruturas para evitar com que pacientes fiquem aglomerados no interior dos locais.

Servidor da UPA do Coronel Antonino, que preferiu não se identificar, explica que foi instalada uma tenda na frente da unidade para a vacinação contra a gripe, já que a procura cresceu tanto que deverão vacinar indivíduos fora do prédio.

Ele relata que após às 10h, o local costuma ter mais pacientes, especialmente com sintomas gripais. Além disso, foram colocadas cadeiras na parte externa, para que o fluxo no interior não seja tão grande. A reportagem verificou que há muitos pacientes do lado de fora.

Tendas sendo montadas do lado de fora de unidade de saúde no Bairro Coronel Antonino para receber pacientes. (Foto: Marcos Maluf)
Tendas sendo montadas do lado de fora de unidade de saúde no Bairro Coronel Antonino para receber pacientes. (Foto: Marcos Maluf)

Surto de gripe - A mãe de uma criança de sete anos, Gina Cáceres dos Santos, relata que levou o filho em outra UPA há uma semana, mas que ele continuou com sintomas gripais graves. “Deram medicamento e pediram para a criança ir pra casa, mas não adiantou. Ele está com garganta inflamada e saturação baixa, o pai está acompanhando ele, que está recebendo medicação na veia.”

Eu me preocupei em trazer ele na UPA. Estamos em um surto de gripe, ele pegou do pai. A empresa em que ele trabalha teve um surto e ele pode ter pego de lá. Não viajamos neste período, não acho adequado viajar nem de carro, de jeito nenhum."

Já a UPA da Vila Almeida está em melhor situação, com menos pacientes dentro da unidade. Muitas crianças têm aparecido com sintomas gripais, e poucos idosos.

Vale lembrar que as vacinas da influenza são permitidas a crianças acima de seis meses, mas os imunizantes da covid não foram liberados ainda pelo governo federal a crianças com menos de 12 anos.

Aos sete anos, filho de Gina teve sintomas gripais graves. (Foto: Marcos Maluf)
Aos sete anos, filho de Gina teve sintomas gripais graves. (Foto: Marcos Maluf)

A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) já permitiu o uso de doses da Pfizer ao grupo de cinco a 11 anos e a polêmica consulta pública elaborada pelo Ministério da Saúde indicou que a população quer que as crianças estejam imunizadas contra o coronavírus, sem a necessidade de prescrição médica.

Na UPA do Leblon, a operadora de caixa Caroline Brandão, de 29 anos, foi com o irmão se consultar, já que sente dor no corpo e garganta, além de mal-estar, falta de ar e fadiga. “O atendimento foi mais rápido do que eu esperava, em duas horas, eu já tinha sido atendida. O médico passou medicação e pediu para fazer um teste de covid.”

Caroline conta que o médico que atendeu ela e a família relata que muitos pacientes têm pegado gripe e covid ao mesmo tempo. Na casa dela, ela e os dois irmãos estão doentes. Vale ressaltar que a SES informou ontem que ao menos seis pessoas no Estado tiveram "flurona", nome dado a coinfecção por influenza e coronavírus.

O irmão mais novo, Diogo Mendonça, de 22 anos, ficou em pior estado, e eles acreditam que o fato de trabalharem com contato direto com o público tenha os infectado. “Ele trabalha direto com o público. Fiquei mal desde segunda-feira e esperei para vir à UPA. Lá dentro está cheio, mas esperávamos por um tempo maior. Achamos que não pegamos nas festas familiares de fim de ano”.

Pacientes aguardam atendimento do lado de dentro de uma UPA. (Foto: Marcos Maluf)
Pacientes aguardam atendimento do lado de dentro de uma UPA. (Foto: Marcos Maluf)

Levantamento feito pelo Campo Grande News com base em dados publicados hoje pela SES indica que o índice de testes positivos em comparação com o total de casos notificados nos primeiros dias de janeiro de 2022 é de aproximadamente 10,3% em Campo Grande.

No mês passado, o índice era de cerca de 4,6% de exames positivos, número inferior ao verificado em novembro, 6,7%.

Ainda que o atual indicador seja o maior dos últimos meses, a mesma taxa em 2021 chegou a ser superior a 40% em maio de 2021 - ou seja, quase metade dos testes feitos na cidade davam positivo, no que é considerado o pior momento da pandemia.

No entanto, o índice verificado em Campo Grande é mais significativo do que a média estadual que, atualmente, beira os 8%. Ou seja, pacientes com suspeita de covid na Capital têm mais chance de estarem infectados, de fato.

Subnotificação Em transmissão nesta manhã, a secretária-adjunta de Saúde, Crhistinne Maymone, ressaltou que a pandemia da covid-19 não acabou e que agora, o cenário tem um fator a mais, o aumento de casos de influenza, fora de época comum da doença, que é durante o inverno.

Segundo ela, o apagão de dados após o ataque hacker aos sistemas do Ministério da Saúde tem comprometido as informações epidemiológicas e mostrado uma realidade distinta do que pode estar acontecendo realmente.

Nós ainda não temos previsão de quando esses dados retornarão à normalidade. O Ministério nos diz que está trabalhando nisso, mas ainda não temos a exatidão e precisão dos sistemas de informação acontecendo. É importante que a gente traga para você aquilo que temos hoje que podemos consolidar."

Ao menos quatro óbitos de covid-19 ocorreram em Mato Grosso do Sul, durante 2022, além de dois óbitos por influenza. Os dados foram consolidados nos cinco primeiros dias do ano e podem receber atualizações.

Maymone também reforçou a necessidade do uso de máscaras adequadas, higienização das mãos e adesão às vacinas, que previnem as duas doenças. Imunizantes da gripe e covid são oferecidos gratuitamente no SUS (Sistema Único de Saúde), que também realiza os testes. "Temos a circulação viral desses dois vírus e mais uma série de vírus que tem acometido e provocado a ida das pessoas à unidade de saúde."

"Nosso pronunciamento vem no sentido de alertar a população sobre o autocuidado. Observamos no mundo, no Brasil e no Estado, muitas pessoas com sintomas respiratórios, como coriza, febre, dor de garganta, pessoas que viajaram, confraternizaram ou encontraram com outras pessoas, é muito importante que procurem unidades de saúde e se testem."

UPA do Coronel Antonino tem alguns pacientes do lado de fora, nesta manhã. (Foto: Marcos Maluf)
UPA do Coronel Antonino tem alguns pacientes do lado de fora, nesta manhã. (Foto: Marcos Maluf)

Vacinação - Em Campo Grande, desde o início da campanha de vacinação contra influenza, foram aplicadas 313 mil doses, sendo 197 mil no público prioritário, o que sinaliza “adesão pouco significativa da população em geral”.

“Outro fator que mostra a baixa adesão à vacinação, é a taxa de cobertura, onde somente o público de crianças de seis meses a seis anos de idade atingiu a meta de 90% estipulada pelo Ministério da Saúde. Em anos anteriores, era possível verificar outros três grupos que também ultrapassaram esta margem, sendo eles idosos, trabalhadores da saúde e da educação, e, no ano de 2021, nenhum destes públicos atingiu a meta."

Segundo a Sesau, há vacinas disponíveis em todas as 72 unidades de saúde da Capital e cada local tem horário de funcionamento das salas de vacinas, normalmente entre 7h30 e 11h e das 13h às 16h45, e as doses podem ser aplicadas em todas as idades, a partir dos seis meses.

Vale lembrar que quem apresenta sintomas respiratórios tem de aguardar o fim dos sinais para ser imunizado. Segundo a Sesau, há cerca de 28 mil doses do imunizante da gripe no estoque.

Desde 19 de janeiro, quando se iniciou a aplicação de vacinas contra a covid, aproximadamente 1,5 milhão de doses foram aplicadas - na prática, aproximadamente sete a cada 10 campo-grandenses têm primeiro ciclo vacinal completo, com duas doses ou vacina única

A reportagem questionou a SES quanto ao estoque atualizado de vacinas contra a influenza no Estado, mas a pasta diz que a informação dada por municípios sul-mato-grossenses é de que há mais de 193 mil doses antigripe, além de 29 mil imunizantes na própria secretaria, mesmo quantitativo de semanas anteriores.

A pasta afirma que a responsabilidade pelas campanhas de imunização é de cada prefeitura. “Os imunizantes estão à disposição dos municípios, que podem fazer a retirada mediante demanda. A SES recomenda que a população que ainda não tomou a dose da vacina contra a influenza, vacine-se”.

Sintomas gripais têm sido relatados com frequência maior no começo de janeiro. (Foto: Marcos Maluf)
Sintomas gripais têm sido relatados com frequência maior no começo de janeiro. (Foto: Marcos Maluf)

Estrutura - A prefeitura, por meio da Sesau, informou que mais profissionais têm sido disponibilizados nas UPAs, além da implementação de consultórios de apoio. “A medida foi tomada diante do aumento na procura nas unidades de urgência e emergência registrado nas últimas semanas, em sua maioria casos de síndromes gripais”, diz a pasta.

O primeiro instalado do lado de fora da UPA do Universitário, na terça-feira (4), para atendimento de pacientes sintomáticos respiratórios, a fim de evitar contato destes pacientes com os demais.

A expectativa do Executivo municipal é ampliar o serviço para as 10 unidades de urgência e emergência do Município, entre UPAs e CRSs (Centros Regionais de Saúde), de acordo com a necessidade de cada local.

Na última semana, o contrato de 90 médicos foi renovado e 40 novos reforçam o atendimento. A prefeitura garante que os processos de compra e reposição de medicamentos também são agilizados.

Segundo a Sesau, ainda em dezembro do ano passado, estas unidades passaram a registrar aumento expressivo de atendimentos - unidades, que faziam em média 80 consultas por dia e ultrapassaram a marca de 420 atendimentos.

A alta demanda tem resultado no aumento também no tempo de espera, considerando a classificação de risco de cada paciente.

A secretaria também reitera a orientação para que a população continue adotando as chamadas medidas não farmacológicas, como uso de máscara, higienização adequada das mãos e evitar aglomerações.

Em caso de prevalência ou agravamento de sintomas como dor de cabeça, falta de ar, calafrios, cansaço excessivo, enjoos e vômitos é necessário procurar imediatamente atendimento médico.

Mãe e filha aguardam atendimento em UPA na Capital. (Foto: Marcos Maluf)
Mãe e filha aguardam atendimento em UPA na Capital. (Foto: Marcos Maluf)
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