Vagas para pessoas com deficiência crescem 82,86%, mas acesso é difícil
Oportunidades quase dobram, mas quem procura vaga diz que sofre para conseguir até entrevista de emprego
As vagas disponíveis para PCDs (Pessoas com deficiência) tiveram aumento de 82,86% em Mato Grosso do Sul, no período de um ano. Conforme a Funtrab (Fundação de Trabalho), enquanto em agosto de 2021 foram oferecidas 776 vagas, no mesmo período deste ano, o número passou para 1.419. A maioria, no entanto, oferece salário mínimo.
O acesso para muitas pessoas com desafios físicos ou mentais impostos é complicado. É o caso da Mayara Samuel dos Santos da Silva, de 27 anos, que nasceu com deficiência auditiva.
Com o Ensino Médio completo, ela conta que está na luta por oportunidade no mercado de trabalho há 3 anos. Ela mora no Portal Caiobá, junto com a mãe, irmão e filha. Em seu último emprego na Secretaria Municipal de Educação, ficou por 1 ano e 4 meses, mas foi dispensada. "Tenho filha de 4 anos de idade. Preciso urgente de vaga para trabalhar”, explica.
Prioritariamente, ela tentou trabalhar em empresa, farmácia ou em mercado perto do bairro onde vive nas regiões do Portal Caiobá, Vila Bandeirantes ou Aero Rancho.
Mas o tempo vai passando e nada aparece. Frustrada, ela diz que chegou a marcar entrevista de emprego na semana passada, mas foi cancelada pela própria empresa.
Para Éder Mendonça, de 25 anos, a situação não é diferente. O movimento do braço esquerdo é limitado, dificultando os afazeres do dia a dia. “Praticamente toda semana eu procuro emprego. Os lugares pegam o currículo, me recebem, mas a contratação nunca acontece”, lamenta.
Muita vaga vazia
Nessa conta entre empregador e trabalhador, a conta não fecha. O gestor do RH Regional do Grupo Pereira, que atende o Comper e o Fort Atacadista, Gilmar Garcia da Silva, de 41 anos, conta que existe 24 vagas abertas nas duas redes, difíceis de preencher.
Ele garante que enfrenta até concorrência no setor, com outras empresas que têm aberto vagas específicas para esse público. “São poucas pessoas que aparecem, acredito que pela dificuldade de mobilidade, e também porque outras empresas oferecem vagas, então, enfrentamos concorrência nesse quesito”, explica.
Ainda de acordo com Garcia, normalmente, são pessoas mais jovens que procuram a vaga, em busca do primeiro emprego.
O auxiliar de caixa, Carlos Alberto Ferreira, de 41 anos, é um desses.Ele trabalha há 22 anos em supermercado da Rua Brilhante. "Tenho retardo mental, grau 1, isso dificultou aprender a ler e escrever", diz.
Carlos conta que tinha receio do que as pessoas iam falar sobre ele no mercado de trabalho. Mas em 2000 foi em algumas reuniões da APAE (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de Campo Grande) e foi encaminhado para a rede de supermercados. "Fiquei muito feliz, pretendo me aposentar aqui”, comemora.
Aumento de vagas
A Lei de Cotas, n° 8.213m, de 1991, estabelece que empresas com 100 ou mais funcionários ofereçam vagas destinadas para pessoas com deficiência.
De 100 a 200 empregados, devem ser destinados 2% das vagas; de 201 a 500 (3%); de 501 a 1.000 (4%) e acima de 1.000 (5%).
Ainda conforme a Funtrab, em agosto de 2021, o total de vagas oferecidas para PCDs, incluíam deficiência auditiva (245); física (424); deficiência múltipla (88); e deficiência visual (9).
Já neste ano, no mesmo mês, foram ofertadas 190 para pessoas com deficiência auditiva; 992 para quem tem problemas físicos; visual (50); e múltiplas deficiências (258).
Já de acordo com a Funsat (Fundação Social do Trabalho), no acumulado de janeiro a julho de 2021, foram disponibilizadas 538 oportunidades de emprego, em Campo Grande. Em julho foram 20.
Neste ano, o acumulado chegou a 471. Somente no mês passado foram 119 oportunidades. Se analisar os dois meses de referência, o aumento foi de 495% ou 99 vagas a mais.