Vítima de incêndio, família vive a segunda tragédia em duas semanas
Sobrinho de família morreu no dia 28 do mês passado atropelado por caminhão perto do shopping Bosque dos Ipês
Tempos difíceis e tristeza que não dá trégua. Há menos de duas semanas, a família Arruda, que ontem viu a casa da diarista Lucimara Arruda ser destruída por um incêndio, sentia a dor de perder um ente querido. Cleverson Luiz Arruda, 20 anos, sobrinho de Lucimara, morreu no dia 28 do mês passado depois de ser atropelado por caminhão na Capital. E em meio ao luto, outra tragédia: no Parque do Lageado, a casa onde moram com oito crianças, entre elas um bebê de 9 meses foi destruída pelo fogo.
As chamas deixaram o bebê ferido, seis crianças intoxicadas e destruíram tudo, inclusive o sorriso no rosto de uma família que tentava se reerguer.
A diarista, de 26 anos, conta que estava dormindo quando abriu os olhos e viu sua casa ser tomada por uma fumaça preta. “Quando acordei estava tudo escuro. Procurava as chaves para abrir a porta e sairmos, mas não as encontrava. Os vizinhos vieram ajudar e foi quando pedi ao dono da casa que batesse na porta para entortá-la”, detalha a estratégia que pensou no momento para sair da casa.
Neste momento, conta, ela conseguiu tirar quatro crianças e uma amiga, que também dormia na casa. Porém, faltavam o filho de 8 anos e a bebê de 9 meses.
Tudo estava tomado pelo fogo. Os gritos de desespero vindos de Lucimara e de vizinhos ecoavam na rua e foram ouvidos por Luciano Souza de Oliveira, 40 anos. O homem mora há dois quarteirões da casa incendiada e foi ajudar à família.
“Molhei um cobertor e coloquei um pano molhado entre a boca e o nariz. Entre na casa e não conseguia enxergar nada. Foi quando só conseguir ver o menino. Enrolei ele no cobertor e o tirei da casa em meio as chamas. Neste momento me falaram do bebê. Voltei novamente para dentro da casa, passei a mão na cama, mas não o senti. Aí, gritaram novamente para olhar no chão. Ali estava ela, quase sem respirar. A enrolei e sai correndo para fora”, detalha o resgate.
A bebê foi levada pelos próprios vizinhos para uma unidade de saúde próxima. Os bombeiros logo chegaram e as equipes se dividiram em prestar atendimentos as crianças intoxicadas com a fumaça e apagar o fogo, que destruía o pouco que a família tinha.
Outro dia – Quem recebeu alta foi levado por Lucimara para a casa da irmã, a auxiliar de limpeza Tatiane Arruda. Lá, o menino de 8 anos surpreendeu a todos e contou que enquanto esperava ser resgatado usou o próprio corpo para proteger a irmã de 9 meses. “Ele me disse que ficou em cima dela para que o fogo não a machucasse”, contou Luciamara.
A preocupação foi tamanha, que mesmo depois de tudo, o menino pediu para ver como a irmã estava. “Minha irmã que estava no hospital precisou fazer uma videoconferência para que ele a visse”, disse.
Depois de voltar do hospital, Tatiane desabafou. “Estava deitada chorando pela morte do meu filho quando fui avisada sobre o incêndio. Questionei Deus e disse que ‘não aguentaria mais tragédia’”.
Todos estão abrigados na casa, que provisoriamente também serve como depósito das inúmeras doações de pessoas sensibilizadas com a situação e servem como arauto de esperança para quem tentará reconstruir a vida.