Vizinhas na precariedade, duas mães se preocupam com frio e lutam contra pobreza
Reportagem encontrou duas mulheres que passam pelas mesmas dificuldades para enfrentar frio e escassez
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Adriana e Erika não se conhecem, mas vivem a mesma realidade. Foram mães aos 17 anos e, hoje, sustentam todos os filhos que vieram ao longo da vida com repasse de programas sociais. Também dividem a mesma preocupação: a falta de roupas e alimentos para enfrentar o frio que começa a chegar em Campo Grande.
As duas mulheres também dividem incômoda situação: mesmo com auxílios, que evitam a escassez completa, vivem em situação de pobreza, segundo estimativa de renda do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
“A gente vai tocando do jeito que dá”, resume Adriana Pereira dos Santos, 35 anos. Ela mora em barraco de três cômodos na comunidade Só por Deus, no Bairro Paulo Coelho Machado, região sul da cidade. No pequeno espaço, também estão os 5 filhos de 18, 12, 6, 5 anos e o mais novo, de 7 meses.
O pai das crianças teve pouco tempo para conviver com o caçula. Morreu há 5 meses. “Mas eu não quero falar disso”, diz a viúva.
Adriana sobrevive com os R$ 300,00 do Vale Renda estadual, em que o cartão é usado somente para compra de alimentos, e R$ 400 do Auxílio Brasil, este, do governo federal. “O que preocupa mais são as crianças, né? Porque não dá, né, a maioria a gente gasta com alimentos”, disse.
As doações, mais comuns na época de fim de ano, tornaram-se escassas em 2022 e pouco chega na comunidade. A expectativa para minimizar o frio ainda está longe de ser concretizada. Beneficiada com o programa que repassa R$ 25 mil em recursos para construção de casa, ainda aguarda liberação da verba e início do projeto. No entorno, alguns barracos já estão sendo substituídos pela base de tijolo, mas a dela ainda é de madeira. “Ainda estou na espera”.
Universo paralelo – Poucos quilômetros depois, ainda na região sul, está Erika Souza Santos, 28 anos. Teve o primeiro filho aos 17 anos, e assim como Adriana, seguiu sendo mãe, sem tempo de estudar ou ganhar a vida. Além do mais velho, hoje com 11 anos, vieram os de 8, 6 e um ano de idade. A dona de casa aceitou contar como vive, mas não quis tirar fotos.
A família mora no Bairro Varandas do Campo, em uma área onde ainda predominam os barracos e a precariedade. Ela e os filhos já moram em casa de alvenaria, mas a situação não é mais fácil. “Não vou mentir, não estamos preparados [frio]”, disse.
A mudança acentuada no tempo começou ontem, com chuva e queda de temperatura. Hoje, por volta da 6h, a máxima era de 20ºC, acompanhada de neblina e umidade. Na madrugada, a mínima foi de 15ºC.
Sem asfalto, a Rua Monte Alegre, onde Érika vive, permanece alagada, mesmo horas depois da chuva, piorando o frio na região. “Falta coberta e casacos”, resume. A perspectiva não é boa: a previsão é que Campo Grande registre 13ºC.
Assim como Adriana, vive dos programas assistenciais. Separada do marido, diz que ele ajuda quando pode, vivendo de bicos. Érika diz que os R$ 300 são insuficientes para colocar comida na mesa e, por isso, parte dos R$ 400 do Auxílio Brasil também vão para compra de mantimentos.
Érika também aguarda pelas doações, mas teve mais sorte. “Já faz um tempinho, mas sempre passa o pessoal da igreja, esperar.”
Tanto Erika quanto Adriana estão dentro do índice registrado no Censo 2010 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), quando a taxa de fecundidade das meninas de 15 a 19 anos era de 74,9 por 1 mil habitantes.
Apesar da queda em relação a 2000, quando a taxa era de 107,1 a cada 1 mil habitantes, está acima da média mundial, que é de 41 para cada 1 mil habitantes, conforme relatório mais recente da Unfpa (Fundo de População das Nações Unidas). É a maior até entre os países latinos, que tem média de 62 meninas grávidas a cada mil, na mesma faixa etária.