Vizinhos ao córrego serão removidos antes dos demais no Mandela
Moradores têm medo do córrego e de sair e ficar sem a casa própria
A prefeitura de Campo Grande vai remover antes dos demais moradores da Comunidade Mandela um grupo de famílias que se encontram em área de risco. Elas moram muito perto da margem esquerda do Córrego Segredo, uma situação de perigo.
A reportagem ouviu de muitos moradores sobre o medo de ter o córrego como vizinho. Pelo menos seis famílias devem ser removidas. A Amhasf (Agência Municipal de Habitação e Assuntos Fundiários) aguardava somente a autorização da Câmara de Vereadores para essa despesa especial, uma vez que o Município irá fornecer um voucher para essas pessoas pagarem um aluguel e precisa de autorização legislativa para mexer no orçamento aprovado.
Elas receberão o valor de R$ 500 reais por 12 meses.
A notícia de que precisarão sair da área ocupada assusta os moradores. Se por um lado temem o risco oferecido pelo córrego, por outro enfrentam o medo de sair e não serem incluídos na remoção para o conjunto que está sendo construído na região com promessa de entrega em novembro de 2024. Há ainda a preocupação de que o valor não seja entregue com regularidade e eles não tenham condições de pagar o aluguel.
A situação aflige Simone Rocha do Carmo e Luciano Aparecido de Oliveira, que têm cinco filhos, sendo um de onze meses e uma de quatro anos. Eles têm a preocupação de um acidente dos pequenos no córrego. A casa em que moram tem uma cerca, mas não é garantia de que as crianças não se aproximarão do curso d’água. Ao lado deles, é Andreza Romeiro Ramão quem vive a mesma angústia, com uma bebê de onze meses também.
Ela diz que não quer sair. “Tenho medo de sair, senão a gente não ganha”. Yasmim Caldeira vive com o marido e três crianças há cinco anos no Mandela. Ela conta que a prefeitura enviou servidor ao local para avisar sobre a remoção, mas que também tem medo de sair e não ser contemplada.
Flávio Lúcio Pereira construiu sozinho sua casa com madeirite, lona e materiais que ganhou ou encontrou, como as janelas. Ele e a esposa não descuidam do filho de 2 anos. “Não posso nem piscar os olhos.”
Ele está ao lado da margem. É um risco que enfrenta há seis anos, já percebeu que o aterro que fez começou a ceder. Diz não ver a hora de sair, mas, assim como os demais, convive com o temor de a remoção prejudicar o acesso à moradia.
Segundo o diretor em exercício da Amhasf, Cláudio Marques, não há o risco de as famílias serem prejudicadas. Ele contou que a agência cadastrou todos, tirou foto dos documentos pessoais, assinaram documentos, burocracia para delimitar o grupo que será transferido quando ficar pronto o novo conjunto.