“Vizinhos chatos”, prédios inacabados há décadas são problema crônico em bairros
Presença de construções que nunca terminaram é mais um entrave na lista de incômodos em Campo Grande
Esqueletos de andaimes, tijolos expostos e tapumes fazem parte das imagens que acabaram fixadas na visão de moradores que têm como companheiros de bairro edifícios abandonados durante o período de construção. Sem esperança de se livrar dos “vizinhos chatos”, quem vive por perto das obras paralisadas há anos relata cenário indesejável na região central de Campo Grande.
Integrante da lista dos esquecidos, prédio no cruzamento das ruas Rui Barbosa e Doutor Dolor Ferreira de Andrade retira a beleza desejada por quem mora nas proximidades há ainda mais tempo. Já aposentada, Anezia Kamashiro, de 70 anos, divide o muro de sua casa com o terreno da construção e relata que a esperança pela finalização das obras se foi há muito tempo.
Conforme relatado por Anezia, que mora no bairro há mais de 40 anos, até pedaços de madeira alocadas na construção já caíram em seu terreno.
Já deu muito trabalho, as coisas que colocavam ali caíam. Vai chovendo, apodrecendo e cai. Ultimamente diminuiu, mas ainda tenho medo", Anezia Kamashiro explica.
Relatando situação mais complicada, Joselito Nunes de Almeida, de 70 anos, conta que o local era utilizado como ponto de uso de drogas. “Molecada subindo aí para fumar droga, bagunçar. Eles entravam para fazer bagunça, mas era mais de noite”, disse. Hoje, o problema diminuiu e o que mais incomoda são os mosquitos que se espalham pela região.
"A gente tentava jogar veneno ali do lado pelo muro, mas não adianta porque é muito grande. Não tem muito o que fazer", diz Joselito.
Já para Wilson Rodrigues Vilela, de 74 anos, a única herança deixada pela construção é a quebra nos projetos de urbanização. “Hoje em dia está bem mais calmo, o único problema é que fica feio, né? Sem terminar nunca de construir”, relata.
Em 2015, o Grupo El Kadri realizou a compra do prédio em construção. Na época, cerca de 12 funcionários estavam no canteiro de obras para caminhar com os procedimentos.
Ao Campo Grande News, o diretor do grupo, Mafuci Kadri, explicou que atualmente as obras estão paralisadas, porque outros projetos, como de hotel em prédio também parado por anos na Avenida Afonso Pena, entre a Calógeras e 14 de Julho, estão em ação.
Sem previsão de retorno das obras no edifício da Rui Barbosa, Mafuci inclusive disse que o edifício está aberto para negociações de compra.
Lista continua - No cruzamento das ruas 26 de Agosto e Anhanduí, outro esqueleto cimentado de prédio marca as ruas da Capital. Há mais de 15 anos no local, o edifício já foi vendido e está disponível para compra mais uma vez desde 2019 por R$ 8 milhões. Vendedor, Albert Barbosa Santos, de 34 anos, conta que já foi da crença até a desilusão com as obras.
São 17 anos tendo a construção como vizinha insistente, de acordo com Albert. “Uma época levantaram duas fileiras a mais e a gente achou que iam concluir. Fica em uma área tão central e tira um pouco da atenção do negócio”, explica.
Albert conta que o histórico do prédio é composto por moradores de rua que já o transformaram em casa e medo de focos de dengue. “Nessa época dos moradores de rua, os assaltos aumentaram aqui. Acho que o problema é mais no sentido de urbanização, tudo mudando, desenvolvendo e isso parado”.
Também acompanhando o não desenrolar da narrativa, o comerciante Geraldo Lopes, de 56 anos, explica que viu o início das obras, mas que não espera ver o final feliz. “Começaram a construir e pararam tudo, aí venderam. Não traz grandes problemas para a gente, mas incomoda sim. Antes tinha gente que entrava ali, era complicado”.
No local, um homem que preferiu não se identificar atendeu a reportagem e disse que é responsável por cuidar do prédio. Além dele, um cachorro também compõe a estrutura do ambiente composto por longas pausas. Encarregado da venda do prédio, o corretor João Nicomedes explicou que mesmo com investidores interessados na compra do empreendimento, as negociações ainda não andaram.
De acordo com Nicomedes, o setor de grandes vendas como do empreendimento em questão está parado na Capital. “Está bem difícil nesse sentido, mas continua o mesmo cenário do ano anterior”.
Vizinho de terreno - No bairro Monte Castelo, a presença incômoda é ainda mais próxima. Dentro do mesmo terreno, torre inacabada de condomínio na rua Sebastião Taveira está paralisada há quase 20 anos, de acordo com o morador Ramão Rodrigues, de 83 anos.
Chateado com a situação, Ramão explica que o condomínio está sem síndico no momento e que dor de cabeça com a torre ao lado é contínua. “Tem bastante tempo, estamos inclusive olhando para ver se dão alguma providência sobre isso. Se o trabalho estivesse completo, tinha vigilante para a gente. Com um prédio só não dá”.
Trabalhando em apartamento do condomínio há 20 anos, Claudineia Brito da Silva, de 47 anos, explica que há anos a obra foi embargada e a construtora responsável faliu. Resumindo o sentimento de todos os outros depoimentos, Claudineia diz que cenário é desagradável, “é horrível, pelo amor de Deus”.