Do Trem do Pantanal, sobrou estação fantasma e o último funcionário
Mato Grosso do Sul tem uma história alinhada à linha ferroviária do Estado. E foi nela, há 102 anos, que surgiu o Trem do Pantanal. O trem que levava à planície pantaneira sumiu dos trilhos há mais de um ano, e uma das heranças é uma estação fantasma, que é preservada pelo último funcionário.
Construída em 2009 e com investimentos de R$ 44 milhões – em virtude de um pacote de investimentos do Ministério do Turismo, dos cofres estaduais e da iniciativa privada –, o novo Complexo ferroviário do Indubrasil foi criado para substituir a então estação central de Campo Grande, desativada em agosto de 2004, exclusivamente na tentativa de reviver os anos de glória do Trem do Pantanal, que tinha encerrado sua operação com passageiros em 1996.
É no Indubrasil que a linha velha se junta com a nova, mas o Trem do Pantanal em Campo Grande deixou de rodar em 2014. Foi neste ano também a última vez que o novo Complexo da estação ferroviária de Indubrasil recebeu passageiros.
Hoje, o projeto grandioso de alguns anos agora é ponto de encontro de usuários de drogas e vândalos, e também é mais um elefante branco da Capital. O lugar vive o pleno abandono. Não há seguranças, limpeza ou qualquer zelo pelo local. Do lado de dentro, apenas sujeira e móveis que ficaram para trás.
A ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) informou que a instalações da Estação Indubrasil integram o rol de bens arrendados à ALLMO, “cabendo a concessionária zelar pela integridade do patrimônio público a ela arrendado”.
Guardião - Em frente ao novo complexo – do outro lado dos trilhos -, está a antiga estação do Indubrasil, que resiste ao tempo e ao descaso desde o ano de 1936 e desativada há 20 anos.
A existência dessa estação se deve á construção do ramal de Ponta Porã, a partir dos anos 1930, sendo também o ponto de bifurcação para duas linhas: Para Ponta Porã e Corumbá.
O lugar pertence à União, mas quem zela pelo espaço é o ferroviário aposentado Jorge Godoi, de 60 anos. Ele acompanhou os anos de grande movimentação pelos trilhos de Mato Grosso do Sul, desde a privatização até as tentativas de voltar a operação. Entre bons tempos até o esquecimento, ele conta que foi ficando para cuidar do lugar que “trabalhou a vida inteira”.
Ele e a esposa moram próximo à estação, mas decidiram cuidar do patrimônio público, que podem chamam de lar. Do lado de dentro algumas relíquias da história do Estado, como aparelhos essenciais para o transporte da época. “Esse aqui era de comunicação entre as estações, encontrei jogada em Três Lagoas, então trouxe para cá”, comentou.
Jorge explica que desde que o trem de passageiros interrompeu as atividades, o lugar esteve ao ermo. O local foi esquecido até mesmo pela União. “Nunca veio ninguém aqui, não. Se eu não cuido, já tinham feito igual a estação”
O sucateamento dos modais e a estimativa bilionária de recuperação dificultam a retomada das operações. A única atividade ainda realizada aqui, o transporte de cargas, hoje é figura mensal. “O trem passa aqui duas vezes por mês: Uma levando carga, e outra ele volta vazio”, detalha.
Retomada – O retorno do trem do Pantanal foi operado pela Serra Verde Express. Desta vez, o roteiro contava um trajeto mais enxuto, entre Campo Grande a Miranda, mas foi um fiasco. O caminho de mais de 7 horas e a uma velocidade média de 35km/h, despertou poucos interessados e em pouco tempo – em meados de 2014-, o negócio foi reduzido.
Excluíram Campo Grande do roteiro e passou a valer apenas o trecho entre Aquidauana e Miranda – aproximadamente 45 quilômetros de distância. No entanto, a atração continuava a não passar por um dos maiores biomas do Mato Grosso do Sul, e a empresa responsável, retirou-se e pôs fim em 2015, mais uma vez, ao trem do Pantanal. Na primeira versão do Trem do Pantanal, o percurso ligava Bauru, município de São Paulo a Corumbá.