E aí, aparência deve ser ou não critério de contratação das empresas?
Ao notar os alargadores e os piercings da vendedora, o cliente foi taxativo: “Não vou ser atendido por ela, porque não sei que educação ela teve”. A cena foi rememorada por Bruna Martins de Almeida, 20 anos, ao contar sobre os problemas que já enfrentou no mercado de trabalho devido aos acessórios que usa.
O caso de Bruna, como a de outros profissionais em situação semelhante, remete à questão: "A aparência ou estilos alternativos devem ser critérios de contratação?" Sem titubear, a empresária Franciane de Castro, proprietária da Zou Bisou, onde Bruna trabalha, responde “não”.
“Nosso critério de contratação não está ligado a uso de alargador, piercing ou tatuagem”, afirmou Franciane. Chamada de Fran pelos funcionários e clientes, a empresária elenca outros itens para assinar ou não a carteira de quem procura emprego em sua loja. “Analiso se a pessoa é comunicativa, carismática, simpática e se demonstra liderança”, enumerou.
Foi com esses critérios que Franciane contratou há três anos Mike Willy Arantes, 24 anos. No “estilo rock in roll”, Mike tem longos cabelos lisos, alargadores e piercings. “Os clientes sempre falam muito bem dele. Dizem: ‘como ele atende bem, é atencioso’. E isso não é dito só por jovens. Pessoas idosas falam a mesma coisa”, elogiou.
Há dois meses, Franciane contratou Bruna. “Foi coincidência”, disse, referindo-se ao fato de a jovem ter estilo parecido ao de Mike. Pesaram, novamente, os critérios importantes para a boa relação com os clientes.
A loja da Fran é do segmento de semijoias e fica no shopping Bosque dos Ipês, em Campo Grande. Com layout agradável e qualidade no atendimento, a aparência alternativa dos funcionários da empresa se torna algo irrelevante. “As pessoas elogiam muito meus funcionários. Além disso, estamos em um shopping lindo. Essas coisas fazem a diferença ”, avalia.
Bruna e Mike – Atualmente, Bruna não encontra problemas. Mas seus acessórios já foram complicadores para conseguir ou permanecer no emprego. Ela conta que ficou quase um ano desempregada e o motivo, embora nem sempre explicitado, estava em sua aparência.
“Quando estava procurando emprego, era entrevistada e dispensada. Não diziam o porquê, mas eu sabia que era por causa dos alargadores e dos piercings. Certa vez, perguntei e a pessoa foi sincera. Então, eu disse que tirava os acessórios, mesmo assim não fui contratada”, lembra-se.
Bruna conta, ainda, que, em um de seus empregos anteriores, um cliente foi direito e disse que não queria ser atendido por ela, colocando em dúvida sua educação. “Depois disso, por ordem do gerente, não usava mais [os acessórios] no trabalho”.
Atualmente, Bruna pode exibir seus alargadores e piercings no trabalho sem nenhum problema. “Aqui é tranquilo. Sou bem tratada. É muito bom”, finaliza.
Mike, diferentemente de Bruna, afirma que nunca enfrentou empecilhos no mercado de trabalho, por causa de sua aparência. “É que sempre busquei trabalhar em áreas ligadas à moda. Então, nunca tive problemas”, disse. “Agora, se procurasse serviço em escritório, por exemplo, acho que não seria contratado”, completa.
Critérios ou não? – Como observa Mike, a área de trabalho pode fazer diferença, sim, quanto ao estilo alternativo. Especialistas em Recursos Humanos afirmam, de modo geral, que o tipo de cabelo, uso de acessórios (como piercings) e tatuagens, são mais ou menos aceitos conforme o negócio empresarial.
Então, é importante, em tempos de mercado de trabalho desaquecido, que o candidato a uma vaga de emprego se atente às diferentes exigências das diversas áreas empresariais.
No entanto, como bem observa Franciane, é preciso repensar os conceitos. “Estamos no século 21. Cabelos e piercings não devem ser considerados critérios de contratação. Não é isso que faz da pessoa um bom profissional”, conclui, enfática.