Índios enterram "guerreiro" e dizem que vontade de lutar aumentou
Com cânticos religiosos e um comboio de aproximadamente 200 indígenas, os terena enterraram na manhã desta segunda-feira (3), o guerreiro Oziel Gabriel, morto na quinta-feira passada, durante a reintegração de posse da fazenda Buriti, em Sidrolândia.
Por volta das 10h30 de hoje, o corpo saiu da aldeia Córrego do Meio, em Sidrolândia, onde estava sendo velado. No comboio até o cemitério indígenas, teve caminhão, ônibus e trator para transportar os índios.
As últimas palavras para o guerreiro foi do cacique da aldeia Córrego do Meio, Antônio Aparecido Jorge. Enquanto enterravam o corpo, ele criticou a Justiça brasileira. “Para desenrolar um processo levam décadas, mas para surrar indígenas é questão de segundos. Mataram o corpo, mas não mataram nosso pensamento”, disse o cacique.
O velório de Oziel começou na quinta-feira, no dia em que ele morreu, e foi interrompido porque o Ministério Público Federal pediu nova autópsia no corpo, que foi realizada no último sábado. O corpo foi liberado ontem e então o velório teve continuidade.
A morte de Oziel provocou ainda mais revolta nos terena, que já prometeram fazer justiça com as próprias mãos. “Para nós, é revoltando o fato de ceifar a vida do nosso guerreiro, agora temos uma tarefa de não deixar que o sangue dele seja derramado em vão”, desabafou o cacique Antônio Aparecido Jorge.
O discurso dos guerreiros é o mesmo, de continuar com a luta pela demarcação das terras, e a morte de Oziel trouxe ainda mais vontade de brigar pela justiça que eles acreditam.
“A bala que entrou no meu irmão dói até agora em todo o povo terena, meu país matou meu irmão, mas não matou o nosso sentimento de justiça”, declarou o irmão mais velho do Oziel, Elizur Gabriel, 54 anos.
A reintegração de posse da fazenda Buriti chegou para eles como um desafio. “Vamos continuar a nossa luta, não vamos sair daquela terra”, afirma o terena Venícius Rocha, 62 anos.
Os índios reivindicam 17 mil hectares de terras da região de Dois Irmãos do Buriti e Sidrolândia, o que abrange 33 fazendas, validadas em R$ 140 milhões, e garantem que não vão mais esperar a Justiça, vão fazer as demarcações com as próprias mãos.
“Para nós, essa decisão não tem validade nenhuma, nosso grito não vai parar, queremos que demarquem logo as nossas terras”, clamou o cacique da aldeia Água Azul, Argeu Reginaldo.
Das 33 fazendas, 9 estão ocupadas por indígenas, sendo elas Água Doce, Bom Jesus, Cambará, Santa Clara, Buriti, Querência, Três R, Santo Antonio, Florida.
De acordo com os terena, eles estão recebendo apoio de lideranças indígenas de São Paulo e Amazonas.