“Ele levou um tiro no coração”, diz irmão de índio morto em confronto
“Ele levou um tiro no coração e a bala transfixou o pulmão. Foi tiro normal. Usaram um calibre grosso, calibre 12”, relata o irmão de Oziel Gabriel, de 35 anos, morto no confronto com policiais na fazenda Buriti, em Sidrolândia. Até então, as informações eram de que somente balas de borrachas foram utilizadas na desocupação determinada pela Justiça.
O irmão da vítima, que não quis se identificar, relata que todos os indígenas estavam escondidos no mato quando a polícia chegou. Segundo ele, eram quatro ônibus da Cigcoe (Companhia Independente de Gerenciamento de Crises e Operações Especiais) e 17 viaturas da PF (Polícia Federal).
Em seguida, relata que a reação dos índios foi queimar a fazenda, sem detalhar se o fogo foi ateado ao imóvel da sede ou na pastagem. “A Polícia revidou a tiros. Não era só borracha”, conta.
Oziel morava na aldeia Córrego do Meio e deixa dois filhos: de 15 e 18 anos. “A gente sabia que poderia acontecer isso. Não é de agora. Lutamos há mais de dez anos. Tem criança lá, tem gente de idade. Isso revolta muito. A classe política não está à favor. A Justiça está querendo fazer genocídio”, desabafa. Três índios ficaram feridos e também foram levados ao hospital beneficente Dona Elmira Silvério Barbosa, em Sidrolândia. O socorro foi prestado por terceiros e uma caminhonete da Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena).
Bastante nervoso, outro indígena, que não quis se identificar, relatou que cerca de 50 policiais federais e da Cigcoe chegaram às 6h da manhã. Ele conta que foram pegos de surpresa, pois aguardavam serem intimados da decisão por um oficial de justiça. Os índios resistiram e houve confronto.
A imprensa não teve acesso à fazenda Buriti. Um bloqueio com oito policiais armados impediu a entrada dos jornalistas para acompanhar o despejo dos terenas.
A fazenda foi invadida pelos terenas em 15 de maio. No mesmo dia, saiu uma decisão para que os índios deixassem o local. Mas a reintegração não foi cumprida no dia 18 e a decisão acabou suspensa até ontem, quando foi realizada audiência na Justiça Federal. Sem acordo entre as partes, o juiz Ronaldo José da Silva determinou o cumprimento da reintegração de posse.
Os índios reivindicam 17 mil hectares da aldeia Buriti que estão na posse de fazendeiros e que foram identificados em 2011 como terra indígena.