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Interior

A espera do Exército prometido por Temer, fronteira está nas mãos do crime

Chefe do Estado Maior disse que não adianta botar soldados na faixa de fronteira e defende uso de tecnologia, mas sistema de monitoramento patina e até agora só cobre 4% dos 16 mil km

Helio de Freitas, de Dourados | 30/01/2017 13:02
Militares do Exército durante operação na fronteira com o Paraguai (Foto: Divulgação)
Militares do Exército durante operação na fronteira com o Paraguai (Foto: Divulgação)
Raul Jungmann em visita à Brigada Guaicurus, na semana passada (Foto: Helio de Freitas)
Raul Jungmann em visita à Brigada Guaicurus, na semana passada (Foto: Helio de Freitas)

Sem uma data definida para o Exército começar a ocupar pontos estratégicos da divisa brasileira com países da América do Sul, os 16 mil quilômetros da faixa de fronteira continuam desguarnecidos e dominados pelo crime organizado.

No dia 18 deste mês, o presidente Michel Temer anunciou à governadora em exercício Rose Modesto e a governadores de estados do norte e de Mato Grosso que mandaria as forças armadas para ajudar a proteger a fronteira.

Como a promessa pode levar até um ano para ser colocada em prática, as fronteiras devem continuar nas mãos das quadrilhas de narcotraficantes e contrabandistas, como acontece em Mato Grosso do Sul.

A solução, mesmo que parcial, poderia ser o Sisfron (Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteira), mas o projeto criado no governo de Dilma Rousseff continua em passos lentos.

Até agora, quase cinco anos após ser iniciado, o sistema só está presente em 4% da faixa de fronteira brasileira, incluindo o trecho entre Mundo Novo e Bela Vista, em Mato Grosso do Sul.

De acordo com o jornal O Globo, projetado pelo Exército para integrar radares, sensores, satélites e outros instrumentos de monitoramento e transmissão de dados, o Sisfron já consumiu R$ 1 bilhão. Em 2014 recebeu R$ 256 milhões, mas o valor caiu para R$ 182 milhões no ano passado.

Segundo a reportagem especial do jornal carioca sobre a fronteira brasileira, o governo Temer responsabiliza o contingenciamento de recursos e a crise financeira pelo atraso e promete aplicar R$ 470 milhões no Sisfron em 2017.

Apesar da promessa feita por Temer, o comando do Exército não vê a presença de mais militares na fronteira como salvação para a criminalidade que impera nessas regiões.

“Não adianta botar homem na faixa de fronteira inteira. A tecnologia avança a cada dia. Tem que ter sensores, analisar o que os satélites pegam e selecionar isso para definir uma ação. Isso está sendo feito, mas depende um pouco do esforço do país na parte orçamentária”, afirmou ao O Globo general Fernando Azevedo e Silva, chefe do Estado-maior do Exército.

Além do corte de gastos, outra dificuldade para a expansão do Sisfron é a natureza diversa da geografia brasileira. Para cobrir os quase nove mil quilômetros de fronteiras amazônicas, por exemplo, equipamentos terão de sofrer adaptações. Instrumentos usados hoje em Mato Grosso do Sul terão de ser modificados para uso na selva.

Sem previsão - O Ministério da Defesa afirma ser impossível estimar a conclusão da implantação do Sisfron. Após ficar completo o projeto piloto que parte de Dourados, o programa será reavaliado e aí sim traçado um cronograma.

Ainda conforme o jornal carioca, diante da pressão pela crise no sistema penitenciário e com o Sisfron limitado, o governo federal tenta montar uma espécie de polícia especial para a fronteira, formada por agentes destacados de órgãos existentes.

Entretanto, a proposta enfrenta resistências na cúpula federal ligada à área da Segurança, principalmente pela falta de efetivo disponível e de dinheiro. A própria Polícia Federal entende que o quadro de pessoal é pequeno para destacar mais homens para a fronteira.

Jungmann – O ministro da Defesa afirma que a baixa cobertura Sisfron não significa que o restante da fronteira esteja desguarnecido. Ele cita os 35 mil homens mantidos nos batalhões e brigadas instalados na faixa de fronteira – até 150 km em linha reta da linha internacional.

Ele acredita que os acordos de cooperação assinados no ano passado com países do Cone Sul possam ajudar na inteligência contra os crimes transnacionais e defende reformulações na Operação Ágata.

“Inteligência não é física, mas é o mais importante, porque permite saber onde está o comando do crime para atuar cirurgicamente. E neste trimestre, já começaremos a Operação Ágata, comandada pelo Exército, de outra forma. Será contínua, mas com operações curtas e de surpresa. O modelo antigo, com intervenções de longa duração, criou uma previsibilidade”, afirmou ele ao jornal O Globo.

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