Após 3 meses, inquérito sobre morte de advogado ainda está incompleto
Márcio Alexandre foi morto pelo próprio amigo, um policial federal, que o teria confundido com um dos assaltantes
No domingo, dia 25, fez três meses que o advogado Márcio Alexandre dos Santos, 36 anos, foi assassinado com oito tiros durante assalto ocorrido em Dourados, a 233 km de Campo Grande. Quase cem dias após a morte, o caso continua cercado de mistérios e sem uma solução. O inquérito sobre a morte ainda não foi concluído e dois dos quatro acusados de participação no roubo continuam foragidos.
O Campo Grande News tenta há dois dias falar com o delegado Adilson Stiguivitis, chefe do SIG (Serviço de Investigações Gerais) e responsável pelas investigações. Entretanto, ontem ele estava de folga e hoje não foi encontrado no 1º Distrito Policial. Adilson é cotado para assumir a Delegacia Regional de Dourados após o delegado Antonio Carlos Videira ter sido nomeado neste mês para um cargo na Secretaria de Justiça e Segurança Pública.
Uma das questões ainda sem resposta é se o policial federal Marcelo Portela foi ou não indiciado pela morte de Márcio Alexandre. Os dois eram amigos e estavam juntos no momento do assalto, ocorrido na madrugada do dia 25 de outubro, na rua Albino Torraca, próximo à rua Ciro Melo.
Laudos da perícia teriam apontado que todos os tiros que acertaram o advogado foram disparados por Marcelo Portela, que, assim como a vítima, estaria bêbado e teria atirado no amigo achando que se tratava de um dos assaltantes que naquele momento roubavam a caminhonete de Márcio, uma Toyota Hilux Sw4, até agora não localizada.
Três inquéritos foram instaurados sobre os acontecimentos. Um deles apurou o envolvimento dos assaltantes com o tráfico de drogas, outro foi sobre o roubo da caminhonete e o terceiro sobre o assassinato – este ainda não concluído, conforme o Campo Grande News apurou.
Quatro homens participaram diretamente do assalto ao advogado - Isaque Daniel Gonçalves Baptista, 22 anos, Emerson Antunes Machado, o “Alemão”, 21, Ângelo Ramão Bardão Rocha, o “Gordinho”, e Aldair Barbosa Souza, o “Bruno”. Isaque e Emerson estão presos. Ângelo e Aldair continuam foragidos.
O caso – No início de novembro a polícia fez a reconstituição do assalto e da morte do advogado e conseguiu esclarecer alguns pontos dos fatos. Laudos periciais concluídos em dezembro dirimiram as demais dúvidas e ficou claro que apenas o policial federal atirou contra Márcio Alexandre. Isaque Gonçalves, único assaltante que estava armado, também foi atingido por dois tiros disparados por Marcelo Portela e não teve tempo de puxar o gatilho.
No dia 26 de novembro, o juiz Jairo Roberto de Quadros, da 2ª Vara Criminal de Dourados, acatou a denúncia do Ministério Público por “roubo majorado” contra Isaque, Emerson, Ângelo Ramão e Aldair Barbosa.
Isaque Baptista, o “Carioca”, teve participação direta no roubo e foi atingido pelo policial com dois tiros na barriga. Emerson Machado, o “Alemão”, também estava com o grupo e foi preso em Dourados alguns dias depois do crime. Gordinho ajudou diretamente no roubo e levou a caminhonete para o Paraguai. Aldair era dono do Gol dourado usado no assalto.
Outras duas pessoas foram presas durante as investigações, mas não teriam ligação direta no assalto ao advogado: Maycon Macedo da Silva, 32, dono da casa onde Emerson foi preso e cúmplice do bando no tráfico de drogas, e Antonio Barbosa da Silva, o “Véio”, apontado como chefe do bando e articulador dos crimes. Maycon e Antonio foram indiciados por associação criminosa, porque participaram da tentativa de assalto a um comerciante da cidade, horas antes do roubo ao advogado.
Achou que era o assaltante – Peça-chave para esclarecer o caso, Isaque Baptista foi preso no mesmo dia ao assalto. Ele foi localizado no Hospital da Vida, para onde tinha sido levado pelo Samu (Serviço Móvel de Urgência) após procurar atendimento em um hospital particular próximo ao local do roubo.
Em depoimentos à polícia, Isaque contou que no mesmo dia do assalto ao advogado o grupo chegou a tentar roubar a caminhonete de um empresário da cidade, mas desistiu devido à presença de seguranças armados na casa noturna que funciona afastada do centro.
Isaque, Gordinho, Bruno e Alemão seguiram a caminhonete até Márcio Alexandre parar na rua Albino Torraca, próximo à rua Ciro Melo. O advogado e o policial federal desceram para urinar. Nesse momento o Gol passou pela caminhonete, parou na frente e desceram Isaque e Gordinho.
Com o revólver calibre 22 em punho, Isaque foi até o carona e ordenou que se rendesse. Gordinho foi direto até o advogado e após dominá-lo assumiu a direção da caminhonete. O policial reagiu e atirou na direção de Isaque.
Mesmo ferido na barriga por dois tiros, Isaque disse ter visto o carona da caminhonete (o APF Portela) atirando várias vezes na direção de Gordinho, que já tinha assumido a direção da Hilux.
Segundo Isaque, seu comparsa vestia roupas semelhantes às usadas pelo advogado Márcio Alexandre, que foi atingido por tiros nas costas, braços e na nuca. Até o dia seguinte, quando foi preso no hospital, Isaque diz que pensava que o homem caído no chão era o comparsa Gordinho.