Após um mês sem aulas, índios conseguem troca de diretor "problemático"
Foram dois anos de reclamações até que a comunidade indígena conseguiu a troca da direção da Escola Estadual Prof. Domingos Veríssimos Marcos, na aldeia Bananal, em Aquidauana, a 135 quilômetros de Campo Grande. O diretor não-índio assumiu em 2014 e depois de muitas divergências foi definitivamente recusado pela liderança neste ano, o que fez com que as aulas ficassem suspensas por um mês, embora os professores tenham dado algumas aulas voluntariamente.
O ex-diretor ofendia os índios explicitamente e perseguia professores; além disso já tinha histórico de problemas em escolas onde trabalhou antes, conforme o cacique cacique Célio Fialho. Segundo a liderança, hoje (12) se apresentou a nova diretora, Diretora Marilza Estiga Ribia, encaminhada pela SED (Secretaria de Educação de Mato Grosso do Sul). De acordo com o MPE, a situação foi resolvida com intermédio do órgão, quando o ex-diretor concordou que não havia mais condições de permanecer no cargo.
A troca agradou a comunidade, mas o cacique afirma que continuam todos a espera de discussões para que a direção seja ocupada por um indígena, o que facilitaria o processo pedagógico e todas as relações no local, como já ocorre em várias aldeias do Estado.
“Ficamos sabendo que o ex-diretor já era problemático quando atuou em outras escolas, mas isso é uma página virada. A diretora se apresentou hoje, mesmo antes de sair a portaria. Nossa pressa era o reinício das aulas. Então não esta 100% ainda, pois gostaríamos que assumisse um indígena, mas diante do fato de um mês sem aulas, a gente aceita com ressalva de que o Estado trate essa questão de ter diretor indígena”, comentou o cacique. De acordo com o ele, os professores encerram contrato no fim do ano, por isso as aulas que ocorreram desde o início de 2016 foram voluntárias, mas ficou acordado que serão pagas pela SED.
Divergências - O ex-diretor assumiu em 2014, com recomendação do MPF para não fazer mudanças na escola e ouvir as lideranças. No mesmo ano, professores e pais de alunos se manifestaram expulsando o diretor. Quase houve linchamento, pois segundo a liderança, o professor teria chamado alguns alunos de bêbados e dito que os índios da aldeia eram preguiçosos. O professor teria ainda ofendido as mulheres, dizendo que “só sabiam fazer filhos”.
No início de 2015, houve nova intervenção do MPF e os indígenas aceitaram que o professor permanecesse, desde que respeitasse a cultura local. No entanto, as expectativas não foram correspondidas.
De acordo com o relatado pela liderança, houve divergências porque o diretor implantou banda de fanfarra na escola e determinou os ensaios em horários de aula. Os professores afirmam que foram ameaçados de demissão, caso não apoiassem o diretor nas eleições para o comando da escola, que ocorreriam no mesmo ano.
Em dezembro do ano passado, ocorreu a eleição, que foi fraudulenta, segundo a liderança. Conforme o último relato enviado ao MPE, o então diretor colocou apenas o nome dele para votação e fez ele mesmo a contagem dos votos. Ele foi acusado ainda de tumultuar o processo de eleição de cacique, ocorrido também em dezembro.
Em janeiro deste ano, o diretor entrou na aldeia, mas os índios pediram que o professor se retirasse. Desta vez, tudo ocorreu de maneira diplomática com funcionários como testemunhas, conforme a liderança. Em fevereiro, os índios pediram à SED a troca do comando da escola. O Estado enviou um representante que mediou mais uma conciliação.
O diretor permaneceu na aldeia até novo desentendimento. De acordo com a liderança, ele publicou no Facebook que “por culpa do cacique não iniciaria as aulas”. Depois disso, foram quatro semanas sem aulas regulares.