Carta de despedida junto ao corpo é achada em cela de presa por matar enteado
Jéssica Leite Ribeiro morreu ontem à noite no presídio de Corumbá, onde cumpria 17 anos de reclusão
A Polícia Civil encontrou uma carta na cela da ex-lutadora de MMA Jéssica Leite Ribeiro, 27, morta por enforcamento na noite de ontem (5) no Estabelecimento Penal Feminino Carlos Alberto Jonas Giordano, em Corumbá, a 428 km de Campo Grande. Ela cumpria pena de 17 anos e 6 meses pelo assassinato do enteado de um ano e meio de vida, ocorrido em agosto de 2018 em Dourados.
Segundo a polícia, em uma das folhas do caderno supostamente pertencente a Jéssica havia uma “carta de alivio”, onde a presa confessava que iria praticar suicídio. A mensagem tinha data de 5/7/2023.
Ainda de acordo com a ocorrência policial, as duas companheiras de cela relataram à equipe da delegada Camilla Gerarde Barbosa Borges que encontraram Jéssica inconsciente, pendurada pelo pescoço em lençol amarrado na grade do banheiro.
Elas contaram que tiraram Jéssica do banheiro e a levaram para a cela, onde tentaram reanimá-la, acreditando que ainda pudesse estar viva. Quando os policiais entraram na cela, as duas presas estavam ao lado do corpo. O caderno foi apreendido para ser periciado.
Samu negou atendimento – Segundo informações da Agepen (Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário), Jéssica foi encontrada enforcada por volta de 23h10. O boletim de ocorrência da Polícia Civil relata que plantonistas do presídio acionaram o Samu (Serviço Móvel de Urgência) de Corumbá às 23h20, mas os atendentes teriam informado que a equipe não iria ao local.
Quando os policiais chegaram ao presídio, houve novo contato com o Serviço Móvel de Urgência devido à necessidade de constatação do óbito, pois a vítima ainda poderia estar viva. Conforme o boletim de ocorrência, a equipe do Samu só chegou à unidade prisional por volta de 1h30. O médico socorrista constatou que Jéssica estava morta.
Em nota enviada através da assessoria de imprensa da Prefeitura de Corumbá, a coordenação do Samu informou que seguiu os procedimentos. Segundo a unidade, quando foi acionada pela primeira vez, a policial penal de plantão teria relatado que a interna já estava em óbito por morte violenta.
“Neste caso, o Samu não atende a ocorrência, conforme protocolo padronizado nacionalmente. O atendimento cabe ao IML. Na segunda chamada, foi relatado que a vítima estaria com sinais vitais, por isso a equipe se deslocou ao local”, diz a nota encaminhada ao Campo Grande News.
O caso – Jéssica morava com o pai do menino, o também lutador de MMA Joel Rodrigo Ávalo dos Santos, 30, o “Joel Tigre”, na Rua Presidente Kennedy, no Jardim Márcia, região leste de Dourados.
Na manhã de 16 de agosto de 2018, ele saiu de casa para trabalhar em uma padaria e deixou o filho de um ano e meio e a filha de três anos sob os cuidados da madrasta. A mãe biológica tinha a guarda dos filhos, mas havia deixado as crianças com o pai.
Segundo a denúncia do Ministério Público, Jéssica teria ficado irritada por cuidar das crianças. Ao perceber que o menino fazia força, acreditando que se encontrava constipado, determinou que a irmã subisse em cima da barriga dele.
“A vítima, obviamente, não cessava o choro, no que a ré ajoelhou-se, apertou com muita força a barriga, flexionou-lhe as pernas, pisou-lhe nas costelas, pedindo, a todo tempo, para a menina apertar a barriga do irmão. A criança, já no colo da ré, suspirou e morreu”, afirma trecho do processo. Ela foi presa em flagrante.
Além dos hematomas na cabeça, constatados por socorristas do Samu (Serviço Móvel de Urgência), a criança teve trauma no tórax e laceração no fígado, que comprovaram as agressões. A causa da morte foi choque hemorrágico provocado por agressão externa.
Aos 23 anos, Jéssica foi denunciada por homicídio qualificado por meio cruel. Em 10 de março de 2020, Jéssica foi julgada e condenada a 17 anos e seis meses de reclusão em julgamento que durou 15 horas.
Joel também foi denunciado pelo crime e passou um ano e sete meses no presídio. No julgamento, no entanto, foi condenado apenas por homicídio culposo (quando não há intenção de matar), por omissão e negligência, pois deixava a criança aos cuidados da mulher mesmo sabendo das agressões. Como já havia cumprido a pena de um ano e 15 dias, foi solto logo após o júri.
Ainda em 2020, a defesa de Jéssica recorreu ao Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul pedindo novo júri, mas a 1ª Câmara Criminal negou, por unanimidade, a anulação do julgamento.
Velório em Dourados – Presa em regime fechado há quase cinco anos, Jéssica Leite Ribeiro teria direito à progresso para o regime semiaberto em junho de 2024. O corpo de Jéssica será enterrado em Dourados. A previsão é de chegada na cidade às 4h da madrugada desta sexta-feira. Dourados fica a 571 km de Corumbá.