Casal de Dourados comandava remessa de cocaína para o Rio Grande do Sul
Organização criminosa também tinha irmãos gêmeos como líderes e usava agronegócio para lavar dinheiro
Os mesmos caminhões de transporte de grãos que levavam cocaína de Mato Grosso do Sul para o Rio Grande do Sul voltavam com os compartimentos ocultos cheios de dinheiro vivo. Aqui, o dinheiro sujo do tráfico era “legalizado” através de empresas de fachada, da falsa produção de grãos e da criação de bois.
A organização criminosa era chefiada por casal de empresários de Dourados, dono de transportadora de fachada. Os dois foram presos. No segundo escalão do comando, estavam dois sobrinhos deles, irmãos gêmeos (por isso, a operação recebeu o nome de Geminus).
O esquema para abastecer pontos de venda de drogas de Porto Alegre e da região do Vale dos Sinos foi desmantelado hoje (7) na operação desencadeada pela Polícia Federal em quatro cidades de Mato Grosso do Sul, no Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
“A organização criminosa trazia a cocaína de Mato Grosso do Sul utilizando compartimentos ocultos de caminhões. Nos depósitos, a droga era retirada e inseridos valores para retornar a MS. Em um ano, a organização movimentou cinco toneladas de cocaína”, disse a delegada Aletea Vega Marona Kunde, responsável pelas investigações.
Veja a entrevista:
Segundo ela, além de usar “laranjas” (pessoas físicas e jurídicas) para colocar os bens nos nomes, a quadrilha usava modalidades mais “requintadas” para esconder o dinheiro do tráfico, como “reprodução extraordinária” de gado, empresas de transporte (localizada em Dourados) e de locação de equipamentos para a construção civil.
“Essas empresas funcionavam com o único interesse de transitar recursos e simular riquezas lícitas para os investigados. Tem também a produção inexistente de grãos e utilização de um banco paralelo, com compensações fora do mercado financeiro formal”, explicou a delegada gaúcha.
Nos três estados, são 11 prisões preventivas e 29 mandados de busca e apreensão, além do sequestro de bens móveis e imóveis avaliados em pelo menos R$ 50 milhões.
Entre os imóveis confiscados, estão casa na praia de Capão da Canoa (RS) e a fazenda em Deodápolis, onde foram apreendidos veículos de luxo, dinheiro vivo e armas.
Veja o vídeo:
Balanço parcial divulgado pela PF sobre os mandados de prisão cumpridos até por volta de 9h de hoje indicou dois presos em Porto Alegre, um preso em Capão da Canoa, um preso em Taquara (RS), um preso em Parobé (RS), um em Florianópolis (SC), um em Dourados e dois em Deodápolis.
Além das prisões, o balanço parcial indicou apreensão de 40 veículos e 52 imóveis, valores em espécie, armas e munições.
Entre os presos, estão os empresários douradenses Nelson Ormai Rodrigues e a esposa e sócia dele, Leonor Cristina da Silva Cunha Rodrigues, donos da Douratrans Transporte, localizada no Parque das Nações II (região leste da cidade), e chefes da quadrilha. Eles seriam os chefes do esquema.
Núcleo familiar – Conforme a delegada Aletea Kunde, a organização tinha como líderes o casal e os dois sobrinhos deles (que são gêmeos). “O casal tinha o poder decisório e os sobrinhos participavam. Um dos sobrinhos era responsável pela logística em Mato Grosso do Sul e o outro responsável em receber e distribuir a droga aqui no RS”, explicou.
Segundo a policial, além desse núcleo familiar “bastante fechado”, o comando da organização envolvia as irmãs e cunhados dos gêmeos e outros parentes mais próximos, que tinham imóveis e veículos registrados no nome.
A delegada não revelou nomes, mas o casal citado por ela seriam os douradenses Nelson e Leonor. A casa deles localizada na Rua França, no Jardim Mônaco, foi um dos locais vistoriados hoje. Os agentes da PF usaram até picareta para quebrar as paredes e o piso atrás de esconderijo de dinheiro.